Ediel Ribeiro: O tremendão, Erasmo Carlos

Colunista do DIÁRIO DO RIO presta homenagem ao cantor Erasmo Carlos, falecido nesta semana

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Quando conheci Erasmo Carlos, a primeira — e mais forte — impressão que tive foi de um gigante, durão e rude.

Ele tinha 65 anos, pesava mais de 100 quilos e tinha uns 2 metros de altura. Um gigante, para mim, um garoto de 1,70m e 67 quilos.

Mas a minha primeira impressão logo se dissipou quando ele começou a responder as perguntas que fiz para uma entrevista para o ‘Jornal do Rádio’. Sentado à minha frente, estava um gigante delicado, de fala mansa e gentil.

Erasmo estava lançando pela gravadora Indie Record, “Erasmo Carlos Convida – Volume 2”. Uma continuação do volume 1, feito há 27 anos. Erasmo quis fazer um disco cantando canções que gostava de ouvir na voz de outros intérpretes. “Não é disco de aproveitador, oportunista. Há muito tempo quero fazer um disco assim. Foi por isso que não chamei para os duetos do novo CD, ninguém que tenha participado do volume 1, nem mesmo Roberto”, disse.

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“Alguns convidados de agora, como os rapazes do Skank e do Los Hermanos, eram crianças em 1980. Mas Chico Buarque, por exemplo, ficou de fora da primeira edição e agora divide comigo “Olha”, gravada num clima de bossa nova.”

“Emoções”, uma canção tão associada ao Roberto é uma música que eu dificilmente gravaria se não fosse um projeto de duetos. É uma música para grandes cantores. Ela me remete a “New York, New York”.

No CD há samba-rock (“Coqueiro Verde”, com Lulu Santos), samba (“Cama e Mesa”, com Zeca Pagodinho), rock (“Ilegal, Imoral ou Engorda”, com Adriana Calcanhotto), balada melosa (“Tema de Não Quero Ver Você Triste”, com Marisa Monte), prelúdio (“De Tanto Amor”, com Djavan), bossa nova com efeitos contemporâneos (“Pão de Açúcar”, com Os Cariocas)…

“Eu sou essa mistura. Gosto de tudo um pouco”, resume.

A história de luta e sucessos do Tremendão vocês já conhecem: a primeira paixão musical de Erasmo foi o rock’n’roll. A amizade com Roberto começou no fim da década de 1950, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, onde se reunia um grupo de amigos que curtiam rock e do qual faziam parte também Tim Maia e o tecladista Lafayette, entre vários outros. Erasmo e Roberto, juntos escreveram centenas de canções que os tornaram dois dos maiores compositores do pop e da música romântica brasileira.

Aos 20 anos, Erasmo Carlos já tinha participado de bandas de rock como The Snakes; Em 1963 com “Parei na Contramão”, começa a parceria de Roberto e Erasmo que rendeu inúmeros sucessos: “Emoções”, “Detalhes”, “Sentado à Beira do Caminho”, “As Curvas da Estrada de Santos”, “Se Você Pensa”, “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, “Como é Grande o Meu Amor por Você” e muitas outras.

Bom, o resto é história.

Concluo com um dos mais belos poemas escritos por Erasmo Carlos:

AMOR É ISSO

Uma alegria de luz, o orgasmo da arte

Um sonho, uma ardência na alma, uma dor, uma sorte

Mais que uma oferta egoísta e possessiva

Uma canção de ninar em carne viva

Um universo inteiro de prazer no céu

A ressonância da paz no coração do seio

Nobre ilusão do horizonte, da febre sem fim

E o som da banda avisando que o show é assim

Pai do afeto

A euforia dos ventos no parto das flores

Um mistério

Oitava cor do arco-íris da selva de horrores

Desde que soube que a vida era um grande feitiço

O cio da terra mostrando serviço

Jura pro mundo que amor é isso

Carrossel

A emoção da entrega, a razão do brinquedo

Um critério

A quinta estação do ano, coragem do medo

Desde que soube que a vida era um grande feitiço

O cio da terra mostrando serviço

Jura pro mundo que amor é isso

Que amor é isso

Que amor é isso

Erasmo morreu nesta terça-feira, aos 81 anos, o cantor e compositor teve a morte confirmada pela gravadora Som Livre, em seu perfil numa rede social. Ele estava internado num hospital na zona oeste do Rio de Janeiro.

Adeus, Tremendão!

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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