Ediel Ribeiro: PC Guimarães, uma estrela solitária

“Reportagem não é só o que se faz, é também o que se tentou fazer.” (PC Guimarães)

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A imprensa carioca está de luto. Morreu na última quinta-feira (5) aos 70 anos, o jornalista Paulo Cezar Guimarães.

Torcedor fanático do Botafogo, PC – como era chamado carinhosamente por nós, seus colegas de profissão – era, além de jornalista, professor, escritor e artista bisexto.

Envolvido com a escrita da biografia do cartunista Nani, falecido há dois anos atrás, só agora escrevo sobre o amigo PC. Poucos dias atrás, falei com ele sobre o Nani. Ele não conhecia pessoalmente o cartunista mineiro, mas elogiou a iniciativa e prometeu falar com seus amigos cartunistas e me ajudar no projeto.

Não deu tempo.

PC era dono de um estilo bem-humorado, muitas vezes ácido e até folclórico, adorava zoar o meu Flamengo e contar histórias. Uma delas:

“Sou um privilegiado (ou “previlegiado”, como diriam os “framenguistas”). Assisti há alguns anos uma daquelas palestras-shows que Ariano Suassuna faz pelo Brasil afora. Ao chamar o genial escritor, o mediador disse algo mais ou menos assim:

“Com vocês, Ariano Suassuna, que dispensa apresentação…”.

E o Mestre mandou assim:

“Dispensa apresentação é o cacete! Quero ser apresentado, sim; e elogiado”.

E completava: “Longe de mim – e bota longe nisso! – ser um Suassuna da vida. Mas é bom saber o que as pessoas pensam da gente, profissionalmente. Principalmente quando falam bem, claro. Quando nada, dão bons epitáfios (alô alô, framenguistas: Epitáfio não foi centroavante do Framengo).

Sendo assim, segue a apresentação do PC:

Paulo Cezar Guimarães (assim mesmo, com Z, revisão), nasceu em Garanhuns, no Sertão de Pernambuco, era pisciano e filho único. Radicado no Rio de Janeiro, passou a infância no Grajaú, tradicional bairro da Zona Norte do Rio.

Foi jornalista, escritor, biógrafo, professor universitário e artista bissexto. Foi repórter especial e assistente de editor no jornal ‘O Globo’, manteve por longo tempo a coluna mais imparcial da crônica desportiva carioca no ‘Jornal do Brasil’, online, exclusivamente dedicada ao Botafogo, seu time de coração. Foi repórter do jornal ‘O Mundo’; colunista do jornal ‘Correio do Brasil’; assessor de imprensa da Companhia de Cigarros Souza Cruz e autor do ‘Blog do PC’.

Desenvolveu, também, longa carreira como professor de jornalismo nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA). Como jornalista, PC Guimarães, orgulhava-se de ter acompanhado o dia a dia do governador Leonel Brizola, durante seu primeiro mandato à frente do Estado do Rio, na década de 1980.

Entre os prêmios que recebeu ao longo da carreira constam 12 prêmios da Associação Brasileira de Jornalismo (Aberj).

PC é autor dos livros “Jogo do Senta – a verdadeira origem do chororô” (Editora Livros de Futebol – 2014); “Edição de Impressos sobre o Jornalismo Brasileiro” (Faculdades CCAA – 2010); “Sandro Moreyra – Um autor à procura de um personagem” e participou da coletânea “Sermos humanos – Crônicas da Gente” (Espaço Novo Clube de Autores – 2016).

Nos últimos anos estava escrevendo a biografia do jornalista Armando Nogueira (1927-2010). Para a obra, que não chegou a ser concluída, PC conseguiu uma entrevista exclusiva com o ex-jogador Pelé.

Outra história que ele contava e que está no livro sobre Sandro Moreyra:

“Sandro Moreyra contava que, numa partida de futebol soçaite, no clube dos 30, o jornalista Armando Nogueira não dava a bola para ninguém, insistindo em dribles seguidos. E tanto driblou que acabou advertido por Garrincha, um dos participantes do jogo:

– Para de driblar, Armando!

– Logo você reclamando de quem dribla? – protestou o jornalista.

– Mas eu sei, né? retrucou Mané ainda na bronca. ”

Para o livro “Sandro Moreyra, um autor à procura de um personagem”. PC convidou um grupo de amigos talentosos: o cartunista Ique assina a belíssima caricatura da capa; o prefácio é do escritor Carlos Eduardo Novaes, o texto da orelha de João Máximo e texto da contracapa da Sandra Moreyra, filha do biografado.

Sandra Moreyra, manteve encontros com PC por mais de um ano e cedeu fotos, recortes de jornais, cartas e postais.

“A Sandra andava meio adoentada, passamos cerca de um mês sem trocar mensagens. No início de outubro, quando o livro já estava bem adiantado, ela enviou um e-mail: ´PC, fiz exames e vou ter que passar por nova quimioterapia. Antes que eu fique derrubada e preguiçosa para escrever, vai aí o texto da contracapa. Espero que goste’.

Dias depois, foi vencida por um câncer que enfrentou bravamente durante sete anos. Foi embora encontrar-se com o pai no dia 10 de novembro de 2015”, relembra o biógrafo.

PC só esteve com Sandro Moreyra uma vez, mas ouviu mais de 100 pessoas que conviveram com ele. Mergulhou de cabeça na vida do biografado, leu dezenas de livros, pesquisou periódicos, sites, blogs, assistiu filmes e visitou acervos públicos e pessoais. Manteve longas conversas com parentes, jornalistas, jo­gadores, técnicos, juízes de Direito e árbitros de futebol, pessoalmente, por e-mail e telefone.

Paulo Cezar Guimarães morava há alguns anos sozinho na serra, onde se isolou para escrever a biografia do jornalista Sandro Moreyra.

Continuava trabalhando e fazia pinturas em caixotes que ganhava do comércio local. O jornalista morreu vítima de um infarto, em Visconde de Mauá, no Sul Fluminense.

Ele deixa a mulher, Bebeth, e uma filha, Joana.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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