Ediel Ribeiro: Perdemos um herói, taokey

Colunista do DIÁRIO DO RIO aborda, de forma irreverente, os bastidores da política brasileira

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General Newton Cruz ex-chefe do SNI na ditadura militar

Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha – e muito – é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).

Ligado à Secretaria de Comunicação Institucional, antiga Secretaria de Comunicação – SECOM – o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, ao lado do gabinete do ódio, sob o comando do secretário especial Flávio Augusto Viana Rocha.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

Quando o secretário especial entrou no gabinete do presidente, Jair Bolsonaro estava trancado no banheiro, chorando.O secretário bateu na porta:

– O senhor está bem, presidente?

– Uma tragédia! O país está de luto. O Brasil acaba de perder um de seus grandes heróis. Perdemos um grande homem!

– O padre Júlio Lancelotti morreu?

– Que Lancelotti!!???

– Quem morreu, presidente?

– Morreu o grande general Newton Cruz.

– Hummmm! Aquele da bomba do Rio Centro? – resmungou o secretário.

– Essa ‘cuestão’ daí não teve nada a ver com o general, taokey?

– Segundo noticiado na época, o general Newton Cruz foi informado sobre o atentado e não fez nada para evitar.

– A bomba no Riocentro foi colocada lá pela esquerda. Pelos comunistas!

– Mas, presidente, a bomba estava no carro dos militares. Explodiu no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário.

– Narrativa! Tudo Narrativa da esquerda. Os militares estavam lá para desmontar a bomba.

– Quero que você publique no Diário Oficial da União luto de três dias pela morte do general.

– Mas, presidente, Newton Cruz foi um dos mais duros chefe da agência central do SNI (Serviço Nacional de Informações) durante a ditadura militar. O general foi um dos envolvidos no atentado a bomba no Riocentro, em 1981. Ele foi acusado de tentativa de homicídio doloso, associação criminosa armada, transporte de explosivos, favorecimento pessoal e o senhor ainda quer homenageá-lo?

– O atentado foi planejado pela esquerda brasileira, taokey.

– O general também foi acusado pela morte do jornalista Alexandre von Baumgarten, sua esposa, Jeanette Hansen e o barqueiro Manoel Valente, ocorrida em 1983.

– Tudo narrativa da esquerda comunista!

– Recentemente morreram os artistas Tarcísio Meira, Gilberto Braga, Agnaldo Timóteo, Marília Mendonça, Paulo Gustavo, Eva Wilma, Genival Lacerda, Paulo José, Nelson Sargento, Dominguinhos do Estácio, Luis Gustavo e o senhor não publicou nem uma linha prestando condolências aos artistas na imprensa. Vai pegar mal o senhor decretar luto pela morte do general. O senhor já foi criticado por elogiar o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o torturador, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, um dos órgãos atuantes na repressão política, durante o período da ditadura militar no Brasil, agora essa homenagem ao general? Isso vai cair como uma bomba na imprensa. O senhor vai dar munição aos seus opositores.

– O que eu faço no tocante a isso daí? Preciso de uma cortina de fumaça para desviar o foco da história dos pastores, do Milton Ribeiro e do MEC.

– Porque o senhor não faz uma motociata?

– Você é um gênio, Flávio! Vou aproveitar, antes que a gasolina aumente novamente.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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