“O Pasquim” era um jornal diferente. ‘Sui generis’, como dizia Paulo Francis, do alto de sua afetada arrogância.
Tinha gente boa de papo, de traço, de copo e, principalmente, de texto, como Sérgio Augusto, o ‘Montaigne brasileiro’ – epiteto colado ao jornalista por Moacyr Scliar.
O escritor e jornalista Sérgio Augusto foi um dos jornalistas a quem coube, junto com Millôr Fernandes, Henfil, Miguel Paiva e Marta Alencar segurar a onda do ‘O Pasquim’, quando parte do time principal – Tarso de Castro, Ziraldo, Jaguar e Sérgio Cabral, Luiz Carlos Maciel, entre outros – foi preso pela ditadura militar.
A história do jornalismo cultural brasileiro do século XX não pode ser contada sem que Sérgio Augusto empreste o nome a um verbete.
Sérgio nasceu no Rio de Janeiro, em 1942, começou sua carreira como crítico de cinema do periódico ‘Tribuna da Imprensa’, em 1960, aos 18 anos. Trabalhou também nos jornais ‘Correio da Manhã’ e ‘Jornal do Brasil’, “Folha de São Paulo” “O Estado de São Paulo” e nas revistas ‘O Cruzeiro’, ‘Senhor’, ‘Diner’s’ ‘Fatos & Fotos’, ‘Veja’, ‘Bravo!’, ‘IstoÉ’ e nos semanários ‘O Pasquim’, ‘Opinião’ e ‘Bundas’.
Em 55 anos de profissão, Sergio escreveu seis livros, entre eles: “Este mundo é um pandeiro : a chanchada de Getúlio a JK” (1989); “Arte do encontro” (2002); “Jobim cancioneiro” (2004-2007); “As penas do ofício : ensaios de jornalismo cultural” (2006); “Cancioneiro Vinicius de Moraes (2007) “E foram todos para Paris : um guia de viagem nas pegadas de Hemingway, Fitzgerald & Cia” (2011).
Se não foi, oficialmente, um dos fundadores de ‘O Pasquim’, Sérgio Augusto foi um dos primeiros a chegar ao hebdomadário. Debutou no número 9. Antes dele, só Tarso, Jaguar, Sérgio Cabral, Carlos Prósperi e Claudius – os fundadores -; Luiz Carlos Maciel, Ziraldo, Henfil, que estreou no segundo número e Paulo Francis, no sexto, são mais antigos que ele.
Sérgio chegou ao ‘O Pasquim’ convidado por outro Sérgio, o Cabral, a quem encontrara casualmente na tribuna de imprensa do Maracanã. Na coluna de estréia, o escritor recorda o encontro que teve com a atriz Sharon Tate em um cruzeiro pelo Caribe, para o lançamento do filme ‘Vale das Bonecas’. Dois anos depois a atriz foi brutalmente assassinada em casa, por uma seita de jovens seguidores do fanático Charles Manson que idolatravam Hitler e Satã.
Extremamente culto e romântico, Sérgio Augusto era apaixonado pelas grandes damas do cinema mundial. Nutria grande paixão por Esther Williams, Jean Seberg, Lizabeth Scott e, principalmente, por Ava Gardner que o poeta francês Jean Cocteau descreveu como “O mais belo animal do mundo”.
O jornalista começou escrevendo sobre cinema, sua paixão, mas, logo em seguida enveredou para outros assuntos como imprensa, literatura, discos e viagens. Foi o primeiro jornalista brasileiro a escrever sobre história em quadrinhos. Seus textos na sua coluna no jornal ‘Correio da Manhã’ levava a sério os quadrinhos, como faziam os franceses, americanos e os italianos. Sua coluna “É Isso Aí” prestou serviços relevantes para a valorização e afirmação da profissão e da atividade jornalística.
Outra paixão do escritor são as viagens com a mulher, a também jornalista Maria Lúcia Rangel: “Como nem eu nem ela temos filhos, isso facilitava as viagens. Deixava os gatos com minha mãe, e pé na estrada. Viajei muito, para tudo quanto é lugar. Tirei praticamente um ano sabático em 1974, viajando pela América do Norte e Europa. Felizmente cansei de voos e aeroportos na mesma época em que o jornal cancelou os dois bilhetes aéreos internacionais que todo ano me dava de bonificação” , disse, em uma entrevista.
Sérgio Augusto representa hoje uma espécie em extinção no jornalismo cultural brasileiro: a do jornalista que consegue, sem ser presunçoso ou cansativo, escrever com propriedade e elegância sobre temas tão variados como cinema, música, futebol, quadrinhos e política.