Ediel Ribeiro: Simplesmente, Charles

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre Charles Peixoto, ou, simplesmente, Charles, um dos ícones da poesia marginal

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Carlos Ronaldo de Carvalho, o Charles Peixoto, ou, simplesmente, Charles, é um dos ícones da poesia marginal, movimento surgido entre o sol de Ipanema e as sombras da ditadura militar.

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1948. Portanto, está dentro da validade. Se é que a poesia marginal ainda vale alguma coisa.

Charles Peixoto poeta e roteirista é neto do poeta Ronald de Carvalho – importante nome do modernismo brasileiro. Começou a publicar nos anos 1970, sendo um dos fundadores, ao lado do poeta Chacal, de uma das vertentes da chamada poesia marginal carioca.

O movimento contracultural conhecido como Poesia Marginal ou Geração Mimeógrafo, surgiu em um período turbulento da História do Brasil: a ditadura militar.

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Charles fez parte, junto com Paulo Leminski, Torquato Neto, Ana Cristina C., Chacal e Cacaso do grupo de poetas que com seus versos desafiaram a Ditadura Militar.

Em 1971, sai seu primeiro conjunto de poemas: um livrinho mimeografado por Guilherme Mandaro, chamado ‘Travessa Bertalha, 11’; ao que se seguiu “Creme de Lua”, “Perpétuo socorro” e “Coração de cavalo”.

Foi um dos fundadores do coletivo ‘Nuvem Cigana’, em 1975. Movimento que deu poder de fala aos poetas marginais, em pleno auge da ditadura no Brasil.

Charles Peixoto é considerado um dos fundadores da chamada “geração mimeógrafo”, grupo de poetas que trouxe à poesia, através da denominação de poesia marginal a linguagem coloquial, cotidiana, tirando o paletó da poesia e levando seus versos para os saraus e as ruas.

Em 1969, Jorge Ben gravou “Charles Anjo 45” um samba rhythm&blues, com arranjo forte e pesado no conceito de letra marginal.

O refrão “Ôba, ôba, ôba Charles/ Como é que é my friend Charles/ Como vão as coisas Charles?” levou muita gente a associar a música a uma homenagem a Charles Peixoto que surgia com versos fortes no movimento marginal carioca.

Outra versão dá conta que ela foi composta em homenagem ao marinheiro Avelino Capitani – protagonista de uma das trajetórias mais espetaculares da história da luta armada no Brasil. Capitani, preso pela ditadura militar, fugiu e se exilou no Uruguai e fez treinamento de guerra em Cuba. A militância política de Capitani começou durante a Revolta dos Marinheiros – o motim que fragilizou o governo João Goulart durante a Semana Santa de 1964.

Ben Jor, autor da letra de ‘Charles, anjo 45’ por sua vez disse em entrevista que a música – gravada mais tarde por Caetano Veloso – foi feita inspirada no malandro carioca.

Formado em comunicação social trabalhou em rádio, cinema, TV e publicidade. A partir da década de 1980, passou a escrever roteiros para a Rede Globo de Televisão, em programas como ‘Armação Ilimitada’ e ‘Malhação’.

A poesia de Charles Peixoto aparece no cenário da contracultura carioca explorando a construção de poemas breves perpassados por humor, entre suas linhas habilmente aliteradas por sinuosas figuras de linguagem e notas críticas, bem como pela informalidade que aponta para o antilírico.

Em 1976, integrou a antologia “26 Poetas Hoje”, de Heloísa Buarque de Hollanda, que mapeou a produção poética brasileira dos anos 1970 e tirou os poetas marginais do underground e os trouxe para o mainstream.

É um dos editores do ‘Almanaque Biotônico Vitalidade’.

Em 1985, lança seu primeiro livro por uma editora comercial: “Marmota Platônica”, livro que reuniu material novo e obras anteriores do poeta. Ficou quase três décadas sem publicar. Em 2011, assinando como Charles Peixoto, reaparece com o livro de poesia “Sessentopeia” , volume que reúne sua produção desde 1985. Com “Supertrampo”, seu último livro, Charles reúne toda sua obra, desde seu primeiro livro, incluindo poemas inéditos.
Charles continua escrevendo. De terno, mas marginal, sempre.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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