Ediel Ribeiro: Tu não te moves de ti

Se você, leitor, só conhecia a poesia de Hilda Hilst, vai se surpreender com a prosa densa e intrigante de “Tu não te moves de ti” ( Companhia das Letras, 144 páginas)

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Pra onde vão os trens, meu pai? Para Mahal Tamí, Camiri, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti. (Hilda Hilst)

Se você, leitor, só conhecia a poesia de Hilda Hilst, vai se surpreender com a prosa densa e intrigante de “Tu não te moves de ti” ( Companhia das Letras, 144 páginas).

“Eu penso que é preciso cuidar das coisas, que tudo aqui é delicado”, escreve Hilda Hilst na novela inaugural deste volume, publicada pela primeira vez em 1980 e agora reeditada pela Companhia das Letras.

Embora possam ser lidas como histórias avulsas, as três narrativas de ‘Tu não te moves de ti’ – “Tadeu (da razão)”, “Matamoros (da fantasia)” e “Axelrod (da proporção)” – criam, de modo surpreendente, uma engenhosa trama subliminar, que, a princípio, parece não se conectar, mas se entrelaçam totalmente. 

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Envelhecimento, sexualidade, vínculos afetivos, incomunicabilidade e moralidade são alguns dos temas que perpassam toda a produção de Hilda Hilst. Altamente existencialistas, estas obras – contaminadas pela poesia, pela filosofia e pela psicanálise – são marcadas pela ironia corrosiva e pelo estilo singular. Com prosa experimental e provocativa, esta reunião de três novelas se consagrou como uma das obras mais fascinantes da autora.

As obras de Hilda Hilst surgem a partir da segunda metade do século XX, momento em que o processo de liberdade avança de forma vertiginosa, com as lutas pelas minorias, como a mulher, o negro e os homossexuais. Parte de sua literatura representa esse momento de transformação e transgressão às regras sociais, estéticas e artísticas. 

‘Tu não te moves de ti’ não está entre os livros considerados libertinos da autora, mas nem por isso deixa de fazer referências de caráter lascivo. O leitor não tardará a dar-se conta de que o sagrado e o profano se confundem na obra da autora.

“A prosa de Hilda Hilst não é um espaço ameno ou de confortável entretenimento. Talvez seja por isso que, quando a leio, me sinto convocada a um esforço: a estar bem atenta ao que acontece nas sensações e nos humores, a tentar pelo menos reconhecer o que os enigmas do texto convocam a experimentar.” – disse,  Júlia de Carvalho Hansen.

Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso. 

Com pouco tempo de vida, seus pais se separaram, o que motivou sua mudança, com a mãe, para a cidade de Santos (SP). Seu pai, que sofria de esquizofrenia, foi internado num sanatório em Campinas (SP).

Hilda de Almeida Prado Hilst, faleceu no dia 4 de fevereiro de 2004, em Campinas, São Paulo.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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