Recentemente, quando completou 85 anos, Ziraldo disse: “A velhice é uma coisa que acontece de surpresa.”
O AVC, sofrido pelo cartunista, em 2018, no Rio, pegou a todos de surpresa.
Embora já tenha sofrido um infarto leve, em 2013, em Frankfurt, na Alemanha, seu estado de saúde era ótimo. Aos 85 anos, vinha trabalhando e produzindo normalmente.
Hoje, quando faz 89 anos, Ziraldo está muito bem, obrigado. Ziraldo não sai muito de casa. Com a pandemia, o cartunista trabalha em casa, junto à família e os amigos que sempre o visitam.
Mineiro de Caratinga, onde nasceu no dia 24 de outubro de 1932, seu nome tem origem na junção de parte do nome de sua mãe com parte do nome de seu pai: Zizinha e Geraldo, deu Ziraldo.
A prática não era incomum entre as famílias de antigamente. Meu nome também originou-se da junção do nome dos meus pais: Edith e Manoel, deu Ediel.
Ziraldo é caricaturista , cartunista, chargista, colunista, cronista, desenhista, dramaturgo, escritor, humorista, jornalista e pintor.
Desde criança, o artista já mostrava que tinha talento e o dom de desenhar. Aos 6 anos, teve um de seus desenhos publicado no jornal “Folha de Minas”.
Em 1954, aos 22 anos, Ziraldo começou a trabalhar no jornal “Folha da Manhã” (atualmente, Folha de São Paulo).
Três anos depois, o artista foi trabalhar na revista “O Cruzeiro”. A publicação tinha bastante notoriedade na época e, com isso, o trabalho de Ziraldo ganhou popularidade.
Em 1960, lançou a “Turma do Pererê”, os primeiros quadrinhos totalmente coloridos e escritos por ele.
Autor dos livros infantis “Flicts” (1969) e “O Menino Maluquinho” (1980) que vendeu mais de três milhões de exemplares, um fenômeno editorial.
Meu primeiro encontro com Ziraldo foi em 1981, no lançamento do livro “O Pipoqueiro da Esquina”, em Ipanema, no Rio de Janeiro.
Depois disso, nos encontramos várias vezes. A última, quando ele fez 80 anos. Acho que já contei essa história aqui, mas, como diz o “Plim-Plim”, vale a pena ler de novo:
Foi um dia especial, afinal, não é todo dia que você esbarra com um cartunista famoso – ainda mais com o Ziraldo – por aí.
Mas, naquele sábado, no Restaurante Martinez, no Leme- RJ, ele passou o dia comemorando seus 80 anos com um punhado de cartunistas.
Rolava, ali, o 10º Encontro Anual dos Cartunistas e o pai do Menino Maluquinho estava ali – a convite dos cartunistas Ferreth e Amorim – autografando seus livros e, como bom mineiro, jogando conversa fora.
Entre as conversas que tivemos, falei sobre a primeira vez que nos encontramos.
Estávamos em 1981. Tempos de ditadura no Brasil. Ele e o poeta Carlos Drummond de Andrade, lançavam, em Ipanema, o livro “O Pipoqueiro da Esquina”.
O livro era uma seleção das tiradas (chamadas de pipocas) que Carlos Drummond de Andrade escrevia no Jornal do Brasil, ilustradas pelo Ziraldo.
Uma obra marcante, sobretudo, pela apreensão do momento histórico ali retratado.
Eu, na época, um jovem cartunista, começava a publicar meus trabalhos no jornal “Luta Democrática”.
Duro. Não tinha dinheiro pra comprar o livro dos meus ídolos.
Fui à noite de autógrafo com um velho e surrado livro do Ziraldo: “A Última do Brasileiro”, lançado em 1975, pela Codecri, editora do “Pasquim”.
A fila era enorme. Na minha vez, tímido, disse que também era cartunista e entreguei o livro nas mãos do Ziraldo. Ele olhou o livro, me encarou e sorrindo, autografou e me devolveu.
Sentado ao lado dele estava o poeta.
Entreguei o livro. Ele apertou minha mão, desenhou uma autocaricatura (o poeta sempre quis ser um cartunista) e tascou: ” Ediel, entro nesse livro de gaiato. Carlos Drummond de Andrade.”
Ziraldo ouviu atentamente a história. Sorriu e perguntou: “Você ainda tem esse livro?” Diante da minha afirmativa, concluiu: ” Isso vale uma fortuna!”
Na verdade, a maior recompensa para um jovem cartunista, aquela noite, foi conhecer Ziraldo e Drummond.
Ruth da Silva Procópio dás