Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam a ocorrência de mais de 65 mil novos casos de câncer de próstata a cada ano, entre 2020 e 2022, sendo este o segundo tipo de câncer mais comum no mundo. Apesar da alta incidência da doença principalmente em homens a partir dos 50 anos, eles parecem estar se cuidando ainda menos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, houve queda de 50% na procura por cirurgias eletivas urológicas nos meses de pandemia do novo coronavírus.
No mês dedicado à prevenção da doença, a mobilização inclui o reforço sobre a importância dos cuidados com a saúde masculina, desmistificando tabus em torno de exames urológicos e do autocuidado. O temor e a falta de informação sobre possíveis efeitos colaterais relacionados a tratamentos – como incontinência urinária, impotência sexual ou infertilidade – também podem ser responsáveis por afastar grande parte da população de risco da busca por acompanhamento médico.
Do ponto de vista do tratamento, novas perspectivas discutidas mundialmente, estão disponíveis no país e ajudam na escolha das melhores terapias para cada paciente. Quando os tumores são descobertos em estágio inicial, antes mesmo de se tornarem aparentes, tratamentos locais podem ser indicados, como a radioterapia, além da vigilância ativa por meio de exames periódicos.
Médicos do Grupo Oncoclínicas comentam as principais inovações e tendências terapêuticas:
Alta precisão em radioterapia
Desde fevereiro de 2020, unidade de tratamento do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro possui um exemplar do acelerador HALCYON-E, considerado o equipamento mais avançado em radioterapia. Com alta precisão, o aparelho – que foi o primeiro a ser adquirido no Brasil – permite rápida localização dos alvos a serem alcançados pela radiação. Dessa forma, o número de visitas para esse tratamento do câncer de próstata pode ser reduzido para apenas cinco sessões.
“O tratamento de pacientes, tanto curativos quanto metastáticos, pode ser planejado incluindo uso de técnica que direciona uma dose de radiação diretamente no alvo e poupa outros órgãos. Nesses casos, exames de imagem guiam as sessões de radioterapia. Assim, estamos a cada dia conseguindo reduzir os efeitos colaterais associados ao tratamento”, afirma o rádio-oncologista Henrique Braga.
A radioterapia pode ter várias aplicações, inclusive pós-cirurgia. Pode contribuir com o controle da doença, por meio de tratamentos locais chamados de ablativos, quando há poucas metástases, ou auxiliar no conforto dos pacientes, aliviando as dores decorrentes do câncer.
“A modalidade chamada de Radioterapia Estereotáxica Corpórea Ablativa aplica altas doses de radiação com precisão sobre os tumores metastáticos, como, por exemplo, lesões ósseas. Esses tratamentos ablativos com a radioterapia auxiliam no controle da doença e no prolongamento de vida dos pacientes. Quando há poucas metástases e todas elas são atingidas diretamente, ocorre uma redução da carga total de doença, auxiliando no manejo do quadro”, explica o médico Henrique Braga, que acompanhou o congresso americano de radioterapia ASTRO 2020, realizado em outubro.
União de terapias
“A conduta em casos que apresentam agressividade pode ser cirurgia, radioterapia combinada a tratamento hormonal ou até mesmo a união de todos eles. Nos casos de doença metastática, os últimos anos têm trazido ótimas notícias para os pacientes com a chegada de diversas novas drogas, tais como uma nova geração de quimioterápicos, terapias hormonais e radioisótopos, moléculas inteligentes com pequena ação radiante que pode tratar diretamente os tumores”, destaca o oncologista clínico Andrey Soares, Diretor Científico do Latin American Cooperative Oncology Group-Genitourinary.
Para Soares, os últimos dez anos causaram uma mudança de paradigma com a medicina personalizada, voltada ao olhar integral e individualizado para cada paciente, e pesquisas são realizadas no Brasil, com colaboração de equipes dos Estados Unidos e Europa, para estudar novas técnicas e uso de novas drogas no tratamento.
Exames de imagem modernos
“O uso de exames de imagem modernos no planejamento da decisão terapêutica, especificamente no cenário onde há falha do tratamento cirúrgico e o paciente necessita de radioterapia complementar, tem mudado a conduta de até 38% dos casos, além de permitir melhor controle dos tumores, uma vez que o tratamento é escolhido com mais detalhes e informações da doença”, explica o médico Henrique Braga.
Tais exames, como o PET-PSMA, têm ganhado muito destaque nos últimos anos.
Avanços na genômica
A individualização da linha de cuidado integral, desde o diagnóstico mais preciso até a definição da conduta de tratamento mais indicada, tende a ditar o tom para o tratamento nos próximos anos. Com o rastreamento do genoma e do DNA de tumores, é possível saber suas particularidades.
Especialista em genética, a oncologista clínica Marcela Bulcão, que atende no Centro de Oncologia Leste Fluminense, em Niterói, reforça que 5% dos casos da doença são hereditários. O mapeamento genético pode ajudar no diagnóstico precoce.
“Há genes associados ao câncer avaliados em painéis genéticos. Quando o paciente sabe o histórico familiar, isso pode ajudar na prevenção e tratamento. Urologistas, oncologistas clínicos ou geneticistas podem ser consultados”, explica.
Cirurgia robótica
Procedimentos cada vez menos invasivos, que incluem o uso da tecnologia robótica, fazem parte do arsenal de alternativas que melhoram a qualidade de vida dos pacientes. No Rio de Janeiro, uma parceria entre o Grupo Oncoclínicas e a Casa de Saúde São José ampliou o atendimento integral ao paciente, promovendo acesso a equipamentos de última geração em casos de cirurgia.