Emanuel Alencar: O jornalismo em tempos pantanosos

Jornalista com grande experiência, colunista do DIÁRIO DO RIO reflete sobre a profissão nos dias de hoje

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Há alguns anos, um querido e renomado jornalista, com quem aprendi demais nos tempos em que trabalhávamos em um periódico em Niterói, me mandou uma mensagem direta e reta: “E aí, você já virou um grande jornalista?”. Tirando a evidente piada associada (tenho 1,71 metro de altura), eu pensei, pensei e… não cheguei a nenhuma resposta. O que é ser um grande jornalista nos tempos atuais? O mundo mudou, a profissão mudou. Enquanto escrevo esta coluna, ouço as trepidações do reembaralhar de cartas promovido por Donald Trump. A bolsa de valores de Tóquio travou. Apavoros e incertezas. Me vem a imagem de um assaltante morto aqui perto de casa, por um policial. Leio que o governador do Rio quer estruturar um plano de segurança – sim, em seus dois últimos anos de mandato.

Está tudo complicado. Mas uma essência não pode ser alterada: a democracia – muitas vezes imperfeita e cheia de falhas e injustiças – depende de uma imprensa livre e qualificada. O mundo mudou, a gente se transforma e tenta se adaptar. Nem sempre é fácil. A boa apuração dos fatos, penso com firmeza, nunca deixará de ter peso e extrema relevância – ainda mais numa realidade permeada por inteligências artificiais, falsidades e discursos simplórios e antidemocratas.

Sou fã de Eric Arthur Blair, conhecido como George Orwell (1903-1950). Ele dizia que “jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique, e que todo o resto é publicidade”. Eu procuro pautar minhas atuações na vida com esse preceito. Ainda me emociono com a notícia bem fundamentada. O brilhar dos olhos da criança que fazia jornaizinhos para distribuir no colégio continua. Isso é inegociável.

O que é ser um bom jornalista no Brasil do século XXI? A notícia boa é a que gera cliques, visualizações. Como ter profundidade e garantir cliques? Sempre dou uma risada quando leio aquela “notícia” que viralizou, em 2011, num portal de notícias: “Caetano Veloso estaciona o carro no Leblon”. Elisangela Roxo, a jornalista, explicou, de forma muito bem humorada, que precisava bater uma meta de postagens. Recebeu a fotografia – um Caê de camisa social branca e calça cáqui – atravessando uma rua no famoso bairro da Zona Sul do Rio. Subiu a informação, já na madrugada. Achou que ninguém daria bola. Virou meme. E gozação das boas. Acho que às vezes falta humor ao jornalismo. Eu mesmo passei boa parte de minha profissão fazendo críticas e cobranças.

Saúdo os amigos e amigas jornalistas que trabalham com afinco e driblam uma série de contratempos. Estamos juntos, sempre. Viva o jornalismo. Ah, se virei um grande jornalista? Sigo tentando.

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