Democratizar a cultura no Rio de Janeiro, levando-a a todos os cantos da cidade, encurtando a distância entre a população e a arte e pensando em cada local com sua devida particularidade. De maneira geral, esse é o principal desafio relatado por Marcus Vinícius Faustini, secretário municipal de Cultura, em entrevista exclusiva concedida ao DIÁRIO DO RIO no último dia 20/12 diretamente de seu gabinete, na sede da Prefeitura, na região central da capital fluminense.
Faustini tem atualmente 50 anos de idade e é um carioca criado entre a comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte, onde viviam seus avós, e o Cesarão, em Santa Cruz, na Zona Oeste. Desde a década de 80, quando ainda era adolescente, se vê inserido em projetos sociais e culturais. Antes de se tornar secretário cultural do Rio, teve diversos tipos de experiências.
Em 1999, por exemplo, quando já era formado pela Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, foi escolhido pela Academia Brasileira de Letras (ABL) para adaptar o grande clássico ”Dom Casmurro”, de Machado de Assis, aos palcos. Além disso, antes de ocupar o atual cargo atual na Prefeitura do Rio, atuou na mesma função no Poder Executivo de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde, inclusive, criou, anos atrás, uma Escola Livre de Cinema.
Atualmente em seu cargo no Rio, o qual ocupa há praticamente 1 ano, um de seus principais enfoques tem sido o projeto ”Zona de Cultura”, que pretende mobilizar até 3 milhões de pessoas até 2024, quando termina o atual mandato do prefeito Eduardo Paes. ”Se trata de o governo atuar de maneira concentrada numa determinada região para ajudar aquela localidade a virar um bairro criativo. Com isso, a cultura vira uma participante da transformação da cidade”, explica Faustini, antes de complementar informando as regiões onde o programa será iniciado.
”Estamos botando recursos em Madureira para apoiar a execução do calendário cultural, festivais naquela região, intervenção urbana, oficinas de inclusão social pela cultura, desenvolvimento de produto. É um recurso concentrado num bairro para que ele se transforme numa centralidade cultural. Além disso, temos outras duas regiões da cidade que receberão o Zona de Cultura em breve: Cais do Valongo, na Zona Portuária, e Santa Cruz”, diz.
Segundo ele, o projeto é inspirado em observações feitas na Europa, onde já morou, mas que podem ser implementadas em território brasileiro de maneira mais apropriada. ”Isso eu vi muito na Inglaterra: a cultura disparando o desenvolvimento de um bairro. Mas também temos esse tipo de experiência por aqui. Falta o poder público brasileiro participar disso, articulando e trazendo outras secretarias, como Meio Ambiente e Transportes, e as Subprefeituras. Nossa gestão dialoga com os subprefeitos”, ressalta.
Ainda em meio aos incentivos à cultura, foi regulamentada pelo Governo Federal em agosto do ano passado, em caráter emergencial, a Lei Aldir Blanc. O objetivo era apoiar profissionais da cultura que acabaram impactados pelas medidas de combate à Covid-19.
”Pegamos ela no meio da implementação. O que fizemos foi ajudar na realização da lei. Ver cartilhas de prestação de contas, ver todas as pendências jurídicas. Pegamos [a lei] um pouco desorganizada. Foi uma lei muito importante para um momento de pandemia”, explica Faustini.
Já para 2022, o secretário destaca que o objetivo é que a referida medida seja ressignificada. ”Agora é hora de renascimento da política pública. Vivemos a época das políticas emergenciais e agora precisamos das políticas de mudanças estruturais”, diz.
Ele, porém, ressalta que há dificuldades em relação à execução da lei, e que elas vêm de quem menos se imagina, isto é, da própria pessoa responsável pela sanção, o que foi acompanhado pela antiga gestão da Prefeitura carioca.
”O [presidente Jair] Bolsonaro persegue a lei de incentivo dele. A gente aqui, em vez de persegui-la, pensou em melhorá-la tecnicamente, colocando mais visibilidade em quem é o patrocinador, como acessar… Na etapa dos recursos, vamos melhorar a distribuição, colocando o recorte de 20% garantido para produtoras. Então, é possível melhorar e reformar como um ‘antídoto’ a perseguição que o Bolsonaro faz e o Crivella fazia à cultura. Não tenho nenhum medo de falar isso. Isso sou eu que estou falando. Eu não sou candidato, sou só da cultura”, critica.
Ainda em meio à projeção para 2022, Marcus diz que é preciso trabalhar pensando em possibilidades a curto prazo, sem planejar tão a fundo o ano, devido à incerteza ainda causada pela pandemia. Ele, porém, afirma que há planos preparados para qualquer cenário que venha a surgir.
”Infelizmente, diante do cenário sanitário, não dá para falar do ano inteiro. Tem que se planejar por fases ainda, mas a Secretaria de Cultura já tem um plano. Inclusive, se voltarmos a ter emergências, sabemos como atuar sem atrapalhar as mudanças estruturais que já estão em curso, além de termos um plano de longo prazo. Então, nós estamos preparados para os 2 cenários, tanto para poder ajudar na retomada quanto se houver um plano de emergência. Eu acho que essa é a forma mais consciente que se pode pensar, melhor do que fazer uma aposta. Acho que tem que ir de 3 em 3 meses, avaliando e se preparando. Precisamos dessa calma para encarar o momento. Acho que uma super euforia agora não contribui para a transformação que a gente precisa fazer. Nós estamos preparados e conscientes para os cenários”, explica.
Por fim, e ainda em relação ao ano que se inicia, que terá um importantíssimo pleito eleitoral no segundo semestre, Faustini reforça que será um período de combate para que seja o último momento de perseguição cultural no país.
”Esperamos – e temos que nos dedicar – que seja o último ano da perseguição à cultura no Brasil. Uma coisa é um governo ser ruim na gestão de cultura, outra coisa é ser um governo que persegue a cultura. Isso a gente não pode admitir, e eu acho que a tarefa de um gestor de cultura é trabalhar para melhorar a sua cidade, mas também alertar que não podemos aceitar uma perseguição deliberada como a gente tem visto no Brasil”, enfatiza.
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As lonas culturais sempre foram parte importante da cultura do Rio de Janeiro, mas acabaram sendo um pouco deixadas de lado nos últimos anos. Em meio a isso, surgiram as arenas cariocas, que têm contexto similar. Como está o processo de recuperação desses espaços?
”As lonas cumprem um papel de acesso à cultura na cidade, da concessão de espaços para artistas locais ensaiarem e desenvolverem seus projetos. Elas foram um dos piores legados que nós pegamos [da gestão anterior da Prefeitura]. A de Santa Cruz, por exemplo, estava afundando no solo. Elas são uma prioridade. Já começamos o projeto de transformar todas as lonas em areninhas. Ainda estamos em recuperação econômica da cidade. A Secretaria de Cultura vai gastar tempo e dinheiro na recuperação desses equipamentos. Foram 4 anos que o Crivella passou por aqui sem nenhum contrato de manutenção. É a mesma coisa você deixar sua casa sem manutenção por 4 anos: vai ter mofo, goteira e cupim.”
O Buraco do Padre foi revitalizado recentemente, passando a ser um ponto cultural tanto do Engenho Novo quanto de toda a redondeza. Como foi esse processo de transformar um local até então considerado violento em espaço voltado à cultura?
”Essa foi uma iniciativa do subprefeito da Zona Norte, Diego Vaz, e esse é um ponto muito positivo dessa gestão, essa nossa proximidade com os subprefeitos, e que a cultura ajudou a realizar em alguns momentos. Mas o que é interessante nessa experiência é que ela é liderada pela Subprefeitura. Esse modo da cultura pensar também está presente em outras áreas do governo. E ali a gente colocou toda inteligência de rede, de agentes culturais para ir até lá. Você vê como é simples essa transformação e grandes cidades do mundo começaram as transformações urbanas assim.
Acho que a iniciativa do Diego Vaz ali tem um pouco do espírito de Zona de Cultura. Nós não estamos ainda onde deveríamos estar, mas já estamos no caminho de transformação, dialogando. Buraco do Padre, Zona de Cultura, Escadaria Selarón… Isso tudo mostra que atitudes culturais mudam uma experiência urbana e, através de experiências urbanas, é que se gera renda, recursos, encontros.”
Qual a importância das rodas de samba para a cultura do Rio de Janeiro?
”Você anda pela cidade e vê o Samba da Feira por exemplo. É um acontecimento ali no Engenhão [Estádio Nilton Santos], é popular… Melhoramos a regulamentação das rodas de samba. Recebemos aqui muitos problemas, e esse é o início de uma política para as rodas de samba. Roda de samba tem memória, gera economia, é intervenção urbana, qualifica o território.
Às vezes, a gente precisa olhar com mais atenção… Um pouquinho mais de qualidade na decisão da política pública de cultura, essa é a orientação do prefeito Eduardo Paes, essa é a busca da nossa equipe, esse é o caminho para que a gente tenha uma política de cultura do tamanho do que a cultura é. Não será fácil, não tem mágica. A gente precisa de um plano consistente de transformação e estamos aqui para contribuir.”
Há algum projeto em vista para mais festivais musicais na cidade apoiados pela Secretaria?
”Voltaremos a circular com shows de músicas. Vamos criar uma política aqui para festivais. Já em março, lançaremos o primeiro edital de apoio a festivais de arte, cultura, tecnologia e comunicação da cidade. A nossa meta é ter 200 festivais apoiados até 2023, o que dá um média de 1 por semana. Festival é bom porque ele faz circular ideias, é profissional, cria um vínculo, um ritmo de produção muito intenso.”
A cidade hoje tem poucos cinemas de rua. Há alguma ideia para que possa haver mais?
”A Rio Filmes é que está cuidando da política de cinema. Aqui na Cultura, temos colocado nos editais que a gente lança o apoio a cine clubes, curtas… Temos deixado isso para complementar essa política. O cinema de rua é vital para a cidade se transformar. O prefeito Eduardo Paes demonstrou isso com o decreto do Estação [NET Rio, em Botafogo]. Estamos avançando. O prefeito Eduardo Paes tem trabalhado junto com a Cultura, com a Secretaria Executiva de Coordenação de Governo [Segov], com o secretário [de Planejamento Urbano, Washington] Fajardo, para defender isso. Esse ano a Prefeitura com decretos para evitar que grandes cinemas acabassem e acho que futuramente teremos uma política nesse sentido.”
Não há perseguição à cultura. Repensar os critérios de distribuição de verba pública não é perseguir ninguém.
Palavras de embusteiro. Esse pessoal confunde fechar o cofre com censura. Que arrumem dinheiro por si próprios, como o quitandeiro de Ricardo de Albuquerque.
O imposto renunciado pra cultura é dinheiro público: ele deve ser gasto com muito cuidado e com parcimônia porque existem várias coisas mais importantes e prementes pra nossa população pobre. Nem esgoto tratado temos ainda!
Perfeito o seu comentário, neolight, concordo plenamente. O povo americano, só pra citar um exemplo, é visceralmente contra usar dinheiro público na cultura, lá eles só querem saber de dinheiro privado, e os EUA tem o maior setor cultural do mundo, um mercado de BILHÕES de dólares, aqui o governo federal está tentando acabar com a roubalheira, a mamata que os governos anteriores faziam em conluio com artitsas famosos, mas eles estão sofrendo com a síndrome de abstinência de dinheiro público, estão igual aos crackudos sem droga, estão definhando. kkkkkkkkkkkkk
Seu intuito é enfiar dinheiro público no faturamento de empresas privadas com a desculpa da cultura. Porque não urbaniza várias áreas carentes com esse dinheiro?!? Saneamento básico que falta em muuuuitas áreas do Rio não seria mais importante?! Água potável?! Ordem pública?!? Antes de vislumbrar a “cultura”, vamos fazer o mínimo pra quem mais necessita de meios básicos de sobrevivência, já que o prefeito prefere festejar à saúde do carioca… hoje ninguém entra mais nesse “papinho”… carioca está cansado de entra político e sai preso do cargo… só olhar todas às obras, como exemplo da avenida Brasil… essa prefeitura é uma piada de mal gosto…