Estão tentando apunhalar o Rio de Janeiro!

Este artigo é um manifesto pessoal de revolta e repúdio público de Wagner Victer a tentativa de aumentar os voos no Santos Dumont

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Aeroporto Santos Dumont. Foot: Alexandre Macieira/Riotur.

A principal mobilização conjunta do Rio de Janeiro, e talvez a única que tenha acontecido nos últimos cinco anos, foi a união de todas as forças políticas, representações empresariais e a mídia na defesa do resgate do Aeroporto Internacional do Galeão, que, por interesses equivocados, estava progressivamente definhando, trazendo uma série de prejuízos: perda de dezenas de milhares de empregos, redução da captação de cargas para o Rio de Janeiro e, consequentemente, diminuição da competitividade da indústria fluminense, além de queda na arrecadação de impostos e impacto negativo no turismo local.

O movimento, do qual tive a honra de participar como um dos coordenadores desde o início, começou há cerca de cinco anos pela ALERJ e, aos poucos, mobilizou uma série de atores empresariais. Inicialmente, a Associação Comercial do Rio de Janeiro, seguida pela Fecomércio, Firjan e Rio Indústria, além de outras representações do conhecimento local, como a FGV e universidades.

Da mesma forma, no espectro político, especialmente a Prefeitura do Rio de Janeiro se identificou com o movimento, contando com o envolvimento direto e efetivo do prefeito Eduardo Paes, além de um grupo de parlamentares municipais, estaduais e federais.

No âmbito do governo estadual, também houve alinhamento e sinergia de muitos secretários e até do governador. O movimento foi suprapartidário, com representações de todas as vertentes ideológicas.

Para mim, pessoalmente, foi algo bastante significativo, pois, além de já ter atuado como secretário responsável por essa área em nível estadual, sou morador da Ilha do Governador e tenho plena consciência da importância da retomada do Galeão para nossa economia, tanto fluminense quanto local. Participei de diversas audiências públicas, sempre representando a ALERJ, já que, na época, eu era o diretor-geral da Assembleia Legislativa, ou representando o Clube de Engenharia, do qual sou membro. Os debates sempre foram bastante convergentes.

No atual governo, em uma postura muito acertada, o presidente Lula veio ao Rio de Janeiro e estabeleceu limites concretos para solucionar esse imbróglio, o que pacificou e deu fim ao debate com uma solução clara para a questão.

Ficou estabelecido pelo presidente um limite razoável e originário para a movimentação de passageiros no Aeroporto Santos Dumont, de cerca de 6,5 milhões de passageiros por ano. O resultado foi fantástico, culminando não apenas no crescimento superior a 100% no número de passageiros do Galeão, mas também na sua retomada como hub de voos internacionais, influenciando positivamente o turismo. Isso sem mencionar o aumento da captação de cargas, superando em agilidade e competência outros aeroportos concorrentes, o que trouxe reflexos muito importantes para nossa economia.

Durante esse processo, muitos lobistas, travestidos de defensores da “liberdade econômica”, atuaram em favor de companhias aéreas que queriam consolidar seu poder relativo no Santos Dumont, além de aeroportos de outros estados concorrentes do Galeão. No entanto, o movimento em defesa do Galeão prevaleceu, com o apoio diferenciado que obtivemos no Estado do Rio de Janeiro, reduzindo o ICMS do querosene de aviação (QAV) no Galeão em relação a outros aeroportos do país e do próprio estado, consolidando-o como um hub. Esse movimento e essas ações sinalizaram claramente aos investidores o processo irreversível de retomada.

A própria Changi, controladora do Galeão e operadora do aeroporto mais moderno do mundo, em Singapura, voltou atrás em sua decisão de abandonar o Galeão, que, aliás, tem 49% de participação da Infraero. Com isso, a Changi retomou o fortalecimento de seus investimentos, o que trouxe inclusive alguns benefícios colaterais, como a retomada, pela United, da antiga oficina de manutenção de aeronaves da Varig, abandonada pela TAP. Essa operação está agora literalmente se movimentando positivamente e gerando centenas de empregos de alta qualidade.

Não obstante todo esse movimento sacramentado pela histórica decisão do presidente Lula e pela mobilização de todos os entes públicos e privados, surge agora, do nada e “na calada”, uma nova ameaça. Tomamos conhecimento por meio do OFÍCIO Nº 482/2024/SAC-MPOR, enviado pelo atual secretário de Aviação Civil, Tomé França, à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), solicitando que o Aeroporto Santos Dumont volte a ampliar sua movimentação de passageiros de 6,5 milhões para 10 milhões. Essa ação é uma tentativa de apunhalar o povo fluminense, revelando um escárnio e desrespeito a toda a sociedade fluminense, suas instituições e a toda lógica econômica que embasou esse movimento.

Não se sabe quais interesses ou lógica embasam essa decisão, mas acredito que não esteja motivada apenas pelo interesse isolado de uma companhia ou pelo lobby de algum aeroporto que se sentiu prejudicado pelo crescimento do Galeão. Talvez haja até interesses de lojas locais que possivelmente se sentiram afetadas após o Santos Dumont ter retornado à sua vocação normal de ponte aérea. Antes disso, havia uma desordem comparável aos piores momentos da Rodoviária Novo Rio, com um comércio local que se aproveitava do caos, mais confuso que o Saara na véspera de Natal.

É inaceitável e inexplicável que esse pleito surja por parte desse órgão, configurando um movimento desrespeitoso contra toda a sociedade fluminense.

Como cidadão fluminense e engenheiro, estou indignado com essa correspondência, que já circula como pública e certamente será repudiada por todos os agentes políticos, especialmente pelo presidente Lula, que não aceita movimentos que sugiram traição a seus atos, vindos de escalões inferiores de seu próprio governo.

Este artigo é um manifesto pessoal de revolta e repúdio público a essa carta, que, como disse, recebi de um parlamentar igualmente indignado. Não há a menor dúvida de que a própria mídia, que se alinhou a esse processo, verificará quais são os interesses inconfessáveis por trás dessa manobra, que poderia parecer silenciosa, mas é tão ruidosa quanto as ações de ratos no porão.

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6 COMENTÁRIOS

  1. Eu não tenho dúvidas de que existem interesses de outros aeroportos em boicotar GIG para se favorecerem, principalmente os que ficam mais próximos (Confins (CNF), Viracopos (VCP), Congonhas (CGN) e, principalmente, Guarulhos (GRU)). Há também interesses da Infraero, que, depois de perder Congonhas, que foi privatizado, passou a ter em SDU sua principal fonte de receitas. Logo, a limitação de SDU diminui as receitas dessa estatal. GIG tem a seu favor a maior pista de pouso e decolagens de todos os aeroportos comerciais no país, além de possuir o maior sítio aeroportuário do Brasil. Nesse sentido, GIG leva vantagem sobre os demais aeroportos citados. Guarulhos, por exemplo, tem um sítio aeroportuário bem menor e não tem mais como se expandir. Está próximo de seu limite, a ponto de haver quem defenda a construção de um novo aeroporto na cidade de São Paulo ou na região metropolitana. Eu sempre fui contra o excesso de voos em SDU e o esvaziamento de GIG. Afinal SDU é muito limitado, seja no tamanho dos terminais, seja no comprimento das pistas, o que gera uma série de restrições. Mas também fui contra a limitação de SDU a 6,5 milhões de pessoas por ano. No meu entendimento, o melhor critério era o de limitar os voos de SDU a aeroportos que ficassem a, no máximo, 400 km de distância e que não tivessem voos internacionais. É um critério de mais fácil controle. Limitar a 6,5 milhões de passageiros é complicado. Como saber se SDU já chegou a 6,5 milhões? E se chegar antes do final do ano? Em novembro ou outubro, por exemplo. O que fazer? Mas é óbvio que GIG tem um calcanhar-de-aquiles: acesso. É inegável que os passageiros que vivem no Rio ou que se destinam ao Rio (moradores e turistas) preferem SDU, que é um aeroporto central, com acesso mais rápido e seguro, ao invés de GIG, que, embora não seja tão distante (Guarulhos fica mais distante do centro de São Paulo, e Confins, em relação ao centro de BH, nem se fala), tem problemas de acesso que foram negligenciados pelo governo estadual e pela prefeitura ao longo de décadas. Recentemente, com o aumento de conflitos entre policiais e traficantes na área da Av. Brasil e da linha Vermelha, acessos a GIG, a questão se complicou. Isso sem falar na saturação das vias de acesso, que, em muitos horários, apresentam retenções enormes. E, como disse um analista da questão no YouTube: é importante pensar não apenas nos passageiros que fazem apenas conexão em GIG, pois estes normalmente não saem do aeroporto. Além disso, como disse tal analista, GIG vai sempre enfrentar concorrência de outros aeroportos para conexões, principalmente dos mais próximos (GRU, CGN, CNF, VCP). É preciso, pois, fazer investimentos para beneficiar quem mora no Rio e viaja de avião e o turista quem vem à cidade e depois vai embora, porque são esses os que usam as vias de acesso.

    • Parabéns!!! Vc disse absolutamente tudo! A SEGURANÇA de sair ou chegar do Santos Dumont, não tem preço.
      E a pergunta que não quer calar que você fez: “Como saber a quantidade de vôos do Santos Dumont?!”

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