Em recente trabalho, pesquisadores do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores (Maqua), da Faculdade de Oceanografia da Uerj, puderam comprovar os níveis de poluição sonora das regiões da Baía de Guanabara, Baía de Sepetiba e Baía da Ilha Grande.
Ao longo de três anos, a paisagem acústica submarina desses locais foi gravada, registrando os sons no ambiente de origem natural, humana, industrial ou tecnológica. O que se pôde comprovar foi o quanto os barulhos produzidos pelo homem interferem no ecossistema marinho.
As baías de Guanabara e de Sepetiba apresentam maiores níveis de ruído causados pelo tráfego de embarcações, mas ainda têm algumas áreas acusticamente pouco impactadas e que precisam ser preservadas. Já a Baía de Ilha Grande teve os menores índices, porém foram identificadas tendências de risco de aumento. Para Lis Bittencourt, pesquisadora do Maqua, o importante é estar atento ao problema, agir logo e reforçar a legislação específica.
“Tudo o que o ser humano faz na água produz ruído. Se esses sons são muito intensos e constantes, irão gerar poluição sonora e alterar a paisagem acústica natural, trazendo desequilíbrio ao ecossistema. Locais onde há maior tráfego de embarcações, barulho de obras, construção de portos e plataformas têm menor presença de animais marinhos”, afirma.
A autora da pesquisa explica ainda que o meio marinho é muito dependente dos sons. Os animais que ali habitam precisam do som para se guiar, fugir de eventuais perigos, saber onde se abrigar, ou mesmo encontrar um bom local para procriar. Os ambientes mais ruidosos geram estresse, afetam toda essa dinâmica e atrapalham não só o dia a dia dessas espécies como a sua própria existência.
Segundo Bittencourt, os resultados sinalizados no estudo acendem um alerta para o problema da poluição sonora nos ambientes costeiros do Brasil. Por outro lado, a pesquisadora faz questão de lembrar que ainda há locais acusticamente preservados, especialmente nas Unidades de Conservação Marinhas, o que comprova a importância de sua manutenção. A Área de Proteção Ambiental Marinha Boto Cinza, em Mangaratiba, é uma delas. Atualmente, a região abriga os botos que antes frequentavam a Baía de Guanabara.