O volume de construções no Rio de Janeiro tem crescido mais do que sua própria população. A constatação faz parte de um estudo inédito divulgado nesta quarta-feira (26) pela WRI Brasil, que analisou a evolução da forma urbana em cidades brasileiras entre 1993 e 2020.
Segundo Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano da instituição, o levantamento vai além da medição da expansão territorial, ao cruzar dados de demografia, uso do solo e volume construído. “A gente conseguiu categorizar tipos diferentes de cidade. Há aquelas com crescimento horizontal intenso, outras mais controladas, algumas estáveis e outras com verticalização acentuada”, explicou.
No caso do Rio de Janeiro, classificado como grande cidade por ter mais de 1 milhão de habitantes, o crescimento ocorreu de maneira predominantemente vertical. A capital fluminense seguiu a tendência de metrópoles como São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, que passaram a ocupar menos espaço físico, mas concentrando construções, serviços e população.
“Cidades mais compactas facilitam o acesso da população às oportunidades urbanas e podem oferecer padrões de mobilidade mais eficientes, reduzindo o consumo de energia e a emissão de poluentes”, destacou Evers.
Apesar disso, o estudo revelou que o volume construído cresceu em ritmo muito superior ao demográfico, em um contexto de estagnação — e, em alguns casos, redução — da população. “As grandes cidades estão num processo de estagnação populacional. Porém, isso não impediu que continuassem crescendo fisicamente, sobretudo na vertical”, afirmou o pesquisador.
Entre as razões apontadas para esse descompasso está a financeirização do espaço urbano, com a construção de imóveis que permanecem desocupados, voltados para a especulação imobiliária. O setor da construção civil também foi apontado como um dos maiores geradores de resíduos urbanos.
“Nosso objetivo é oferecer essa série de dados para permitir novos estudos sobre as causas desse fenômeno”, explicou Guilherme Iablonovski, cientista de dados da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
O estudo ainda revelou comportamentos diferentes em cidades de médio e pequeno porte, onde o crescimento foi majoritariamente horizontal, como em Campo Grande, Cuiabá, Natal, Manaus, Palmas e Teresina.
A compreensão dessas dinâmicas, segundo os especialistas, é essencial para planejar políticas urbanas mais eficientes, que otimizem a ocupação do território e reduzam impactos ambientais.
“Existe uma relação direta entre a expansão urbana e as questões climáticas, tanto na mitigação das emissões quanto na adaptação das cidades a padrões mais sustentáveis”, concluiu Evers.