Liderado pela Universidade Duke, localizada nos Estados Unidos, o estudo SMILE é uma pesquisa sobre experiências de vida (incluindo desafios e bem-estar geral) de pessoas que se identificam como minorias sexuais e/ou de gênero (MSG). De acordo com o relatório da ONG Transgender Europe (TGEU), no período entre 2008 e 2021, pelo menos 4.042 pessoas trans e de gêneros diversos foram assassinadas em todo o mundo e o Brasil lidera a lista como o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo.
O estudo SMILE está recrutando pessoas LGBTI+ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais/Travestis e Intersexo no Brasil para participarem da pesquisa, disponível em https://encr.pw/ttRzO Indivíduos que são atraídos pelo mesmo gênero ou por múltiplos gêneros, pessoas que não se identificam com o gênero atribuído ao nascimento, assim como aqueles que não se identificam estritamente com as definições tradicionais de masculino e feminino podem colaborar, respondendo pesquisa virtual que durará cerca de 15-20 minutos.
O objetivo do estudo é coletar dados da maior quantidade possível de pessoas LGBTI+ vivendo no Brasil, Quênia, Vietnã, para documentar os variados desafios enfrentados por MSGs e entender como políticas públicas, programas e serviços podem ser melhor desenvolvidos ou adaptados para ajudar e dar suporte as minorias sexuais e de gênero vivendo em seu país.
Para realizar a pesquisa, o estudo SMILE reuniu uma equipe multidisciplinar, que conta com pesquisadores brasileiros, americanos e de outras nacionalidades, de diferentes formações acadêmicas e vasta experiência no trabalho com comunidades de minorias sexuais e de gênero. Além disso, muitos dos líderes e membros da equipe também se identificam como participantes do grupo de minorias, trazendo uma perspectiva sensível para a pesquisa.
Violência e saúde mental
Segundo o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, o Brasil registrou 273 mortes violentas de pessoas LGBTIA+ em 2022. Outra fonte que divulga dados alarmantes sobre violência contra pessoas trans é a Rede Trans (Rede Nacional de Pessoas Trans), que registrou 100 assassinatos de pessoas trans em todo o país durante o ano de 2022, além de 15 suicídios e três vítimas letais da aplicação clandestina de silicone industrial. De acordo com a Rede Trans, 97,3% das vítimas eram mulheres trans e/ou travestis; 77,8% eram pessoas negras; 43,7% tinham entre 26 e 35 anos; 43% residiam na Região Nordeste e metade das pessoas trans assassinadas cuja ocupação é conhecida eram profissionais do sexo. Já entre os anos de 2017 e 2022, segundo levantamento da ANTRA (Associação Nacional dos Travestis e Transexuais), 912 pessoas trans foram mortas no Brasil.
“A violência afeta a saúde mental das pessoas LGBTIA+. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Duke, nos Estados Unidos, apontou que mais da metade das mulheres transgênero no Brasil (58,3% do total) já teve pensamentos suicidas “, explica a Profa. Dra. Jaqueline Gomes de Jesus, ativista e docente vinculada à Fiocruz e IFRJ – Campus Belford Roxo, e uma das responsáveis pela pesquisa no Brasil, juntamente com os pesquisadores Profa. Dra. Angélica Baptista Silva (Fiocruz) e Prof. Dr. Estevão Leite (IFRJ).
A Profa. Dra. Angélica B. Silva explica que o estudo SMILE Brasil tem como objetivo analisar as condições de vida e saúde de 3.500 minorias sexuais e de gênero no país. “E para essa importante investigação, que trará benefícios para nosso país e em especial a comunidade LGBTIA+, o projeto conta com importantes parceiros, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), que contribuem com seu conhecimento e expertise no campo da saúde pública e pesquisa científica”.
Como os resultados do estudo serão comunicados?
O Prof. Dr. Estevão Leite comenta que os resultados e achados sobre o estudo estarão disponíveis quando todos os participantes estiverem cadastrados e completado a pesquisa. “Temos o compromisso de divulgar resumos dos dados apurados na pesquisa, que serão postados no site do estudo SMILE (https://brasil.smilestudy.org/) juntamente com os links para todas as publicações que serão produzidas. Além disso, vamos disseminar e comunicar apontamentos para as comunidades dos comitês de aconselhamento local e investidores locais assim que estiverem disponíveis” explica o pesquisador.