Eventos vão lembrar a arte e a persona de Vinicius de Moraes

A música, a poesia e a personalidade de Vinicius de Moraes serão celebrados em eventos no mês de março. As homenagens incluem lives com importantes nomes da música, bate-papo com as filhas do poeta e culmina com temporada online do elogiado musical escrito por Hugo Sukman e Marcos França

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Vinicius de Moraes foi um artista único. E o mesmo pode ser dito sobre o indivíduo. Único não significa uno, no sentido de ter sido um só. Foram muitos os Vinicius no cidadão Marcus Vinicius de Moraes (1913-1980). Consagrado como poeta, viu na música o veículo que impulsionaria sua lírica para todo o Brasil – e o mundo. Casou-se nove vezes e viveu intensamente suas paixões. Se não foram infinitas, foram avassaladoras enquanto duraram. Afastado do Itamaraty, aposentou a gravata e, de camisa e coração abertos, fez dos palcos uma repartição em nada burocrática. Ali, tendo as companhias de um violonista, de uma cantora — e, claro, do uísque –, entreteve o público com música, poesia e comentários. Esse artista será lembrado em quatro eventos – três lives e um musical – contemplados com o edital “Retomada Cultural”, da Lei Aldir Blanc, da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa (SECEC). As homenagens começam dia 13 de março numa live com Joyce Moreno e Dori Caymmi e, no dia seguinte, o papo continua com Carlos Lyra e Francis Hime. Duas das filhas do poeta, Georgiana e Maria, e a jornalista Maria Lucia Rangel falam do Vinicius que conheceram em live no dia 20 de março. A programação é fechada com temporada online de “Com amor, Vinicius — Ou como sobreviver nesta selva oscura e desvairada”, musical de Hugo Sukman e Marcos França que estreou em 2018 e fez bem-sucedidas temporadas no Rio e em São Paulo. No espetáculo, Vinicius é vivido por Marcos França, que divide a cena com a cantora Luiza Borges, com o violonista André Siqueira e com o baterista/percussionista Matias Zibecchi. A encenação tem direção de Ana Paula Abreu e volta agora para apresentação online, dia 26 de março, às 21h, no canal da Diálogo da Arte no YouTube.

As lives:
Nos anos 1960, as boates foram cenários para grandes encontros musicais, muitos deles históricos. Certamente o mais antológico deles foi o que reuniu, em 1962, Vinicius, João Gilberto, Tom Jobim e Os Cariocas no Au Bon Gourmet – um feito e tanto a começar pelo diminuto palco da casa. Décadas depois, outros encontros prometem ser históricos: os que vão reunir Joyce Moreno e Dori Caymmi; Carlos Lyra e Francis Hime. Joyce e Dori, que encontram-se dia 13 de março, acompanharam Vinicius nos shows em que ficaria consagrada a tríade “O poeta, a moça e o violão”. Já Lyra e Francis, parceiros do Poetinha, estarão juntos no dia 14 de março. Esses quatro ases da MPB vão lembrar aspectos diferentes do Vinicius compositor e, claro, destacar parte do seu cancioneiro. Enquanto Dori escolheu pérolas da parceria com Jobim (“Estrada branca” e “Eu não existo sem você”), Joyce joga luz sobre o Vinicius melodista ao interpretar “Medo de amar” (canção feita unicamente por ele) e revisita a “Marcha da Quarta-feira de Cinzas”, gravada por ela em 1974, num LP para o mercado italiano. Já Lyra e Francis cantam e contam histórias por trás das parcerias. Se o primeiro vai de “Sabe você” e “Minha namorada”; Francis relembra “Anoiteceu” e “A dor a mais”.

Vinicius teve cinco filhos, frutos de três dos seus nove casamentos. E a segunda live do projeto, tem tudo para ser emocionante. No dia 20 de março, duas das filhas do poeta, Georgiana (da união com Lila Bôscoli) e Maria (da união com Cristina Gurjão) vão revelar características que elas conheceram bem – e que o grande público não. O bate-papo vai contar também com a participação da jornalista Maria Lúcia Rangel, outra que teve o privilégio de conhecer Vinicius. Seu pai, o escritor e crítico Lúcio Rangel, grande amigo do poeta, foi quem sugeriu a Vinicius o então jovem maestro Tom Jobim como parceiro para as canções do musical “Orfeu da Conceição”. Foi Lúcio quem apresentou os dois numa tarde no Villarino que entraria para a história da música brasileira, aliás.

As conversas de ambas as lives serão mediadas pelo jornalista Hugo Sukman e pelo ator e dramaturgo Marcos França, autores de “Com amor, Vinicius — Ou como sobreviver nesta selva oscura e desvairada”, sobre o qual falaremos a seguir.

O musical:
A partir dos anos 70, quando os shows de música migraram em definitivo das boates para palcos maiores, Vinicius de Moraes adota um formato de apresentação que seria sua marca até morrer, em 1980. O grande poeta e compositor subia o palco tendo a companhia de um exímio violonista e de uma cantora de timbre marcante. Enquanto o violão foi dedilhado por Dori Caymmi, num primeiro momento, e por Toquinho (um dos seus parceiros musicais mais freqüentes), a cantoria ficou a cargo de nomes expressivos como Maria Bethânia, Maria Creusa, Clara Nunes, Marília Medalha, Joyce, Miúcha e até mesmo o Quarteto em Cy. Muitos desses encontros originaram LPs (o com Clara Nunes rendeu o histórico “O poeta, a moça e o violão”). Pois esse conceito de show é o ponto de partida de “Com amor, Vinicius — Ou como sobreviver nesta selva oscura e desvairada”. Esse formato de apresentação não era algo engessado. Tinha um quê de informalidade. Vinicius cantava, dizia poemas e tinha com o público uma conversa franca sobre temas que julgava pertinentes.

E esse clima é justamente levado à cena pelos autores e pela direção. O roteiro traz canções emblemáticas do poeta com seus muitos parceiros  — Pixinguinha, Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell, Edu Lobo, Chico Buarque e o já citado Toquinho — misturadas a textos (poemas e trechos de cartas) e a algumas de suas falas, reproduzidas de entrevistas dadas por ele. Estão lá, por exemplo, “Janelas abertas” (com Jobim), “Gente humilde” (com Chico Buarque sobre melodia de Garoto), “Maria Moita” e “Sabe você” (ambas com Lyra), “Mais um adeus” (com Toquinho) e “Berimbau” (com Baden), entremeadas a poemas como “Pátria minha”, “Poema de Natal”, “Operário em construção” e com “A carta que não foi mandada”, entre outros.

O musical não se atém somente a emular um formato de show. Até porque a apresentação teve, como já dito, diferentes formações e temporadas. Também não se propõe a ser didático/biográfico. O que o público irá conhecer são algumas das facetas que compuseram a persona de Vinicius de Moraes. Trata-se de um Vinicius terno (o poeta não era dado a rompantes e ataques, ao contrário de muitas celebridades de hoje), um Vinicius em total sintonia com questões sociais da vida, mais ligadas ao que conhecemos como direitos humanos, e também preocupado com o fim das liberdades, fossem elas a de expressão, artística, e mesmo a de ir e vir.

Para fazer desse retrato o mais fiel possível ao personagem, a dramaturgia tem como pilares três épocas diferentes. A montagem começa em 1969, com um esbaforido poeta chegando atrasado a um show devido aos protestos populares que ocorriam na cidade. Volta-se ao ano de 1964, quando o golpe militar instala-se derrubando assim o sistema democrático de governo, avançando em seguida até a década de 70, onde a narrativa estabelece-se.

E quem é esse Vinicius afinal? Um cara que não fugia de questões importantes da vida (da sua própria e da dos cidadãos). Um Vinicius que sabia que a liberdade era peça-chave para uma sociedade mais igualitária. Um Vinicius que tinha na figura da mulher amada um objeto de total veneração e que, justamente por isso, foi vanguardista ao exigir respeito a elas (e às suas causas). Há o Vinicius cassado do Itamaraty em razão do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Apesar de avesso às formalidades daquele órgão (que o obrigava a se apresentar de terno e gravata) reconhece, por outro lado, que o Itamaraty ajudou a moldar sua visão humanista. Foi como diplomata que ele viajou pelo país e conheceu, assim, suas desigualdades sociais. “Eu era um homem de direita, tornei-me um homem de esquerda”, reconhece ele numa de suas falas.

Nesses tempos em que muito se reivindica um “lugar de fala”, o público poderá (re)conhecer um homem que, em nome do seu amor à vida e à liberdade, falou por todos nós, independentemente de etnia, credo e demais preferências. Com amor, sempre.

A programação:
Dia 13 de março (sábado), às 19h
Live com as participações de Joyce Moreno e Dori Caymmi
Mediação: Marcos França e Hugo Sukman

Dia 14 de março (domingo), às 19h
Live com as participações de Carlos Lyra e Francis Hime
Mediação: Marcos França e Hugo Sukman

Dia 20 de março (sábado), às 19h
Live com as participações de Georgiana de Moraes, Maria Gurjão de Moraes e Maria Lúcia Rangel.
Mediação: Marcos França e Hugo Sukman

Dia 26 de março, às 21h
Sessão do musical “Com amor, Vinicius”

Ficha técnica musical:
Com amor, Vinicius
Com: Marcos França (Vinicius de Moraes), Luiza Borges (cantora), André Siqueira (violão) e Matias Zibecchi (bateria e percussão)
Roteiro e idealização: Hugo Sukman e Marcos França
Direção: Ana Paula Abreu
Direção musical: André Siqueira
Iluminação: Luiz Paulo Nenem
Cenografia: Pati Faedo
Figurinos: Marcela Poloni e Rafaela Rocha
Desenho de som: Branco Ferreira
Programação visual: Thiago Ristow
Fotos: Rafael Blasi
Assessoria de imprensa: Christovam de Chevalier
Operador de luz: Mário Júnior
Gestão de leis de incentivo: Natalia Simonete
Direção de produção: Ana Paula Abreu e Renata Blasi
Realização: Informal Produções Artísticas e Diálogo da Arte Produções Culturais

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