A Galeria Desvio, no Centro, apresenta a mostra “Que as coisas permaneçam”, que estabelece um diálogo artístico internacional do espaço. O evento tem curadoria de Shannon Botelho e rola de 06/07 a 17/08, reunindo na mesma exposição o brasileiro Ivar Rocha e a colombiana Ivonne Villamil.
A obras expostas refletem a impermanência dos objetos prosaicos e do apagamento de seus sentidos. Em ambos trabalhos, o ponto de partida é a dissolução da memória dos elementos do mundo e sua substituição por modelos impostos através de normatizações ou remodelamentos estéticos da cidade e demais espaços de vivência.
A dupla vai apresentar a mostra Primeira Parte, que traduz em espanhol a primeira página do livro “A doutrina anarquista ao alcance de todos”, de José Oiticica, recriando o ato ocorrido na Colômbia sobre a esperança por um continente tão múltiplo e de política fragmentada, que possa estar conectado por meio de suas arte.
O desejo de imprimir estes vestígios de tempo são uma forma elegante de valorar a força de trabalho que ergueu o próprio passado e tem suas lembranças duplamente demolidas, no sentido físico e completo ostracismo no qual submergem.
O desejo de permanência encontrado nas duas produções desvela a urgência de coletar memórias, imagens e afetos. As duas poéticas buscam relações com o lugar e com uma significação possível para a própria existência. ‘Que as coisas permaneçam’ é um convite à reflexão acerca das relações com os espaços de habitar e viver hoje.
O brasileiro e não menos talentoso Ivar participou da XIII Bienal de La Habana, foi artista integrante do Atelier Sanitário no Rio de Janeiro e Ivonne, além de ter sido residente no Atelier da Sala Arte Jovem da Comunidade de Madrid. Ele coleta fragmentos das ruas da cidade a fim de transpô-las para suas gravuras. Tijolos, enxadas, grades, vergalhões, ferramentas e tantos outros fragmentos de construções tornam-se indícios do apagamento constante de áreas mais pobres ou ignoradas da cidade.
A artista coletou grumos de carvão no teto da cozinha da casa de sua avó, resultantes da queima de madeira no fogão a lenha. As pedras pretas que ficaram durante anos no teto são compreendidas pela artista como uma herança do tempo, das relações familiares e do labor de cozinhar para a família ao passar dos anos. O material colhido foi transformado em tinta preta e acrescido de outros materiais, concretiza incontáveis horas através da matéria espessa na superfície do linho cru.
O desejo de imprimir estes vestígios de tempo, são antes de tudo, uma elegante forma de valorar a força de trabalho que ergueu o próprio passado e tem suas lembranças duplamente demolidas, no sentido físico e completo ostracismo no qual submergem.