No período entre 11 de outubro de 2023 e 29 de janeiro de 2024, os visitantes do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro terão a oportunidade de explorar uma exposição intitulada “Tesouros Ancestrais do Peru” e composta por 162 peças em cerâmica, cobre, ouro, prata e têxteis. Esta mostra convida os espectadores a embarcarem em uma fascinante viagem pelas antigas civilizações andinas até o auge do Império Inca.
O acervo de objetos raros, reconhecido como patrimônio pelo Ministério da Cultura do Peru, pertence à Fundação Mujica Gallo e faz parte do renomado catálogo do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo. Com a curadoria de Patricia Arana e Rodolfo de Athayde a exposição está dividida em cinco blocos temáticos: Linha do tempo, Mineração, Divindades e Rituais, Cerâmica e Têxteis, e Colonização. Ela apresenta ao público um dos acervos mais significativos da história das civilizações.
Sueli Voltarelli, Gerente Geral do CCBB Rio de Janeiro, destaca a importância desta exposição no 34º aniversário do CCBB Rio, enfatizando que ela estimula um vital debate sobre a memória latino-americana e seus processos de colonização. A mostra oferece a oportunidade de explorar a complexidade das técnicas e conhecimentos das civilizações que habitaram a região, bem como de reconhecer a triste supressão do legado desses povos devido às ações dos colonizadores.
A exposição será inaugurada com um debate entre os curadores e Camila Pérez Palacio Mujica, diretora do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo, em 12 de outubro, às 15h.
A mostra é patrocinada pelo Banco do Brasil e pela BB Asset Management, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A organização está a cargo da Arte A Produções.
Uma História Contada Pelos Objetos
As peças em exibição foram produzidas entre 900 a.C e 1600 d.C. Os traços culturais dos povos andinos são revelados em utensílios como depiladores, bolsas, penachos, máscaras funerárias e coroas feitas de ouro. Há também blocos dedicados à cerâmica e aos objetos têxteis, como jaquetas, gorros e sapatos. E no catálogo estão ainda cinco Tumis, espécies de facas ornamentais usadas durante cerimônias de sacrifícios de animais e, em casos excepcionais, de humanos.
“O desenvolvimento de todas essas culturas revela um acúmulo histórico notável de conhecimentos e a maestria em diversas técnicas e ofícios, refletidos na elegância e complexidade das peças apresentadas. A habilidade na mineração e na confecção de objetos feitos de ouro, prata, cobre e outros minerais atinge um nível de sofisticação excepcional, mesmo nas civilizações mais antigas” explicam os curadores.
Se destaca ainda que essas sociedades não faziam uso do dinheiro como instrumento de intercâmbio econômico, em contraste com a valorização do ouro e da prata acumuladas como reservas de capital pelos europeus.
Para essas culturas, os metais possuíam valor simbólico e ritualístico, além de conferir distinção social, evidenciada na arte meticulosamente elaborada nas peças da exposição. “Cada objeto contém em seu feitio informações preciosas sobre religiosidade, rituais, cotidianidade e técnicas empregadas. Eles revelam também estruturas sociais complexas e uma vasta gama de conhecimentos, representados em itens como tigelas, copos, ornamentos, machados, cerâmicas e têxteis que compõem a mostra” comenta Athayde, o Diretor Comercial e de Produtos da BB Asset.
Os curadores da mostra apontam que, apesar de essas civilizações não terem um sistema de escrita alfabética e desconhecerem os fundamentos da economia comercial e monetária no sentido dos europeus, desenvolveram noções sofisticadas de matemática e contabilidade. Eles usavam objetos como os Quipus, um complexo sistema de cordas e nós pelo qual faziam os registros, e as Yupanas, instrumentos de cálculo baseado no sistema decimal, que permitiam uma administração funcional da economia desse enorme império.
Da Agricultura à Colonização
No primeiro bloco, Linha do Tempo, são pontuados os momentos-chave de mais de 10 mil anos de história andina, desde os primeiros habitantes (pescadores e caçadores) até o surgimento da agricultura de irrigação. Essa evolução permitiu que essas populações desenvolvessem um alto nível tecnológico, dedicando-se à produção cerâmica, à metalurgia e têxteis, alcançando um notável desenvolvimento cultural.
Já o segundo bloco, Mineração, aborda o domínio sobre os metais, o controle sobre o ambiente natural e, consequentemente, seu impacto nas dinâmicas das estruturas do poder. Trata-se de um aspecto fundamental do desenvolvimento dos povos que utilizavam ferramentas diversas para extrair e utilizar cobre, ouro e prata, e produzir objetos de notável elaboração.
No terceiro bloco, Divindades e Rituais, é possível conhecer de perto peças em ouro e prata, cerâmica e frisos de personagens divinos e semidivinos que orientavam o sistema teocrático-militar operado a partir de complexas mitologias fundadoras das culturas andinas.
Os metais eram usados para decorar edifícios, adornar corpos e vestes reais em rituais e oferendas funerárias. Um detalhe é que só as pessoas pertencentes à elite podiam usar ouro. Nesta área são expostas máscaras e luvas feitas de ouro, além dos Tumis e dos recipientes usados em rituais sagrados, como os utilizados para recolher o sangue dos seres sacrificados.
No quarto bloco, Cerâmicas e Têxteis, estão peças e informações sobre as técnicas utilizadas desde 1.800 a.C para produção de barro moldado e cozido em fornalha. Essas técnicas permitiram uma produção intensa de utensílios usados também para expressar ideias e representar estilos de vida e tradições. Também é mostrada a importância da domesticação de animais como lhamas e alpacas para a produção têxtil e artística.
Por fim, no quinto bloco, Colonização, trata da história da colonização do império Inca pelos espanhóis e a fundação do Vice-reinado do Peru. Esse bloco expositivo pretende mostrar a assimetria desse violento encontro de civilizações, que funda uma nova identidade sincrética e mestiça, sobre as ruínas do império Inca.
Caráter Reflexivo
E cada bloco reúne uma série de representações e painéis informativos que permitem entender com maior profundidade os conteúdos das salas expositivas. “Nós adicionamos uma série de conteúdos de caráter reflexivo e ampliações de fotografias dedicadas aos lugares religiosos e sagrados dessas culturas, como templos e pirâmides ricamente decorados e que eram chamados de huacas” explica Athayde.
A produção da exposição também conta com o Projeto Panaca que divulga, por meio de vídeos de desenhos animados, a história das culturas antigas do Peru. A série de filmes será exibida ao público e é parte do conteúdo educativo da mostra.
Ecos Até Os Dias Atuais
O impacto da colonização pelos europeus também é abordado em cópias autorizadas de obras originais pertencentes à coleção do Museo Pedro de Osma. Em uma sala haverá um monitor exibindo ilustrações das obras do Frei Martín de Murúa realizadas entre 1580 e 1610.
As peças da exposição são raras em diversos sentidos. Quase tudo o que havia em território inca foi destruído, roubado ou derretido. E posteriormente, também foi saqueado por assaltantes de monumentos arqueológicos, conhecidos no Peru como huaqueiros, que reviraram tumbas e centros cerimoniais em busca de peças a serem vendidas ilegalmente a colecionadores.
Dos poucos objetos que sobreviveram, os mais comuns são oferendas funerárias compostas por pequenas figuras de ouro e prata de mulheres e homens.
A mostra é complementada por intervenções de artistas contemporâneos, os peruanos Iván Sikic e Alexandra Grau e a brasileira Bete Esteves. Essas inserções de arte contemporânea propõem um olhar que amplia a leitura do acervo da exposição em uma visão crítica e reflexiva sobre a representatividade das peças.
Exposição: “Tesouros Antigos do Peru”
- Período: De 11 de outubro de 2023 a 29 de janeiro de 2024
- Horário de Funcionamento: De quarta a segunda, das 9h às 20h (fechado às terças)
- Entrada: Gratuito
- Ingressos disponíveis na bilheteria do CCBB RJ ou em www.bb.com.br/cultura