Ninguém pode chegar perto deles, nem pelas redes sociais. Qualquer descompasso no linguajar pode provocar a voracidade da justiça, que está, segundo eles, abarcada pela constitucionalidade, e que, consequentemente, segundo eles também, fortalece o Estado Democrático de Direito…
Já parou para pensar na banalização do termo “Estado Democrático de Direito”? O termo virou a égide da democracia. Danem-se os atos, os fatos e a Constituição. Diga: “Estado Democrático de Direito” que todos os abusos de autoridade, as perseguições políticas, os desmandos e as notícias tendenciosas e deturpadas, serão, sumariamente, encobertas pela toga democrática e seremos um país livre de todo e qualquer mal.
Mas para além da liberdade de expressão, como encontra-se nossa liberdade de ir e vir? É sempre bom lembrar o que muitos cidadãos trabalhadores sofreram durante a pandemia. E para evitar polemizar, apenas reflita sobre as medidas do “fique em casa que a economia a gente vê depois.. e, caso não fique, vou baixar o cacete, prender, algemar, sendo homem ou mulher, e humilhar na frente de quem quer que seja, inclusive de crianças”. Quem acha que não houve um sério desmando violento nestas ações, perceba que são os mesmos que irão continuar usando o termo “Estado Democrático de Direito” como forma de reforçar a justificativa da opressão.
Pandemia encerrada, a vida continua. Segurança para eles, violência para nós. Pense quantos seguranças garantem a segurança dos magistrados. Imagine o acesso a todos os níveis de segurança pública que eles têm em seus celulares, e que possa resolver, quase que instantaneamente, os problemas de segurança que atingem a todos nós meros cidadãos comuns, mas que sequer chegam perto deles e de suas famílias.
No meio do caminho supremo não há uma pedra sequer, mas no nosso caminho há um shopping de luxo e uma favela. De um lado, o segurança privado assume o risco de defender, até mesmo com a sua própria vida, os transeuntes consumidores, provavelmente remunerado por não mais que dois salários mínimos. Preto, pobre, segurança e sem nome. Busquei a sua identidade em diversas matérias e a referência era “o segurança”. Como foi ele o assassinado e não o assassino, não vi notícia de mobilização ativista, condolência suprema ou hashtags #justiçapelosegurança. Na doença social que nos arrebata, ele está ali pra isso, para morrer sem nome, sem família, sem alguém para sustentar.
Já o bandido morto, como a imprensa irá tratar? Como uma guerra equilibrada? Já que um bandido e um segurança morreram? Tudo certo, ponto neutro?
Mas a pergunta que não quer calar é: de onde saíram tantos bandidos e armas? Foram 12 comparsas que entraram com pistolas, provavelmente deixando seus fuzis no carro. Se um Ministro estivesse almoçando neste momento no shopping, um dos seus seguranças reagisse e matasse um deles, como o episódio seria classificado? Tentativa de homicídio ou legítima defesa? Se os 11 que sobraram fossem identificados, localizados dentro de uma favela, poderia a polícia buscá-los para prendê-los? Seria este um crime contra um magistrado, um atentado a democracia ou uma violência comum que atinge os reles mortais diariamente? Como seria a narrativa da imprensa ativista?
Nosso Estado tornou-se acolhedor a bandidagem, temos territórios inviolados pela segurança pública. E, a cada passo da banalização da violência, o Rio de Janeiro reafirma sua “vocação” para o acolhimento supremo dos bandidos em favelas. Assim como nossos magistrados são intocáveis, todos que estão, como dizem, a margem da lei, também são. Mas se o Estado Democrático de Direito permite tudo isso, é porque nossa guerra é legítima, resta saber de qual lado o cidadão de bem está e a quem pede socorro.