Fabiana Bentes: A política se faz com as vísceras, avisa pra ela!

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre violência política

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Imagem apenas ilustrativa - Vista aérea dos bairros do Recreio e da Barra da Tijuca • Foto: Rafa Pereira, Diário do Rio

Foi com essa mensagem (ameaça?) que um dia meu chefe de gabinete adentrou minha sala, atônito, para me dar o aviso de um membro do alto escalão do governo que eu fazia parte, enquanto secretária de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do RJ.  

O sujeito estava bastante incomodado com as limitações e controles que eu determinava na secretaria para evitar quaisquer desvios de comportamento, atuação e, claro, de foco no objetivo final; que sempre foi e sempre será o de atender a população e não o de interesses privados de quem quer que seja. Não desci do salto, não subi no pedestal, mantive minha conduta e não me intimidei. As vísceras eram apenas as dele, mas por precaução, a partir deste dia, meus seguranças não me deixavam sequer em reuniões sozinha, por ordem do meu chefe de gabinete. E assim foi até o final da minha gestão. 

A violência política é oriunda da vontade de pessoas, não de sistemas ou organizações criminosas. A potencial vítima da violência tampouco é um sistema, ou uma instituição , é também uma pessoa. Parece óbvio mas é preciso deixar claro.  A relação entre criminoso e vítima é pessoal. 

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Estamos na era da política em que a atuação, seja de um juiz, de um secretário, de qualquer agente público, que está em seu dever de julgar, absolver ou condenar, ou apenas de trabalhar corretamente, é motivo para fazê-lo alvo de ódio, de vingança e revanchismo. É aÍ que entra a personificação do algoz e da vítima. 

Quando esse “ódio”  torna-se público em pronunciamentos de autoridades públicas que foram eleitas, consolidamos o pensamento coletivo da relação da política com o crime organizado. E nesta relação, a vista do que está acontecendo no Rio Grande do Norte ou o que aconteceu com a juíza Patrícia Acioli,  os criminosos tornam-se muito maiores que o Estado, e tornam-se ainda maiores que a Justiça. 

Não é novidade alguma o que estou escrevendo. Mas os avisos estão aí. Há uma mudança real de violência política adentrando o Brasil e é preciso respostas contundentes.

Para contextualizar, é importante falar da Colômbia. Em 1989,  Luis Carlos Galán Sarmiento era candidato a presidência deste país pelo Partido Liberal Colombiano, e foi assassinado neste mesmo ano enquanto liderava com folga para as eleições presidenciais de 1990.  Entre seus executores e mentores do crime estava Pablo Escobar. Nesta história, um narco e um político combativo.  Algo parecido por aqui? 

Há uma predominância do uso das vísceras na política. Hora de tomar muito cuidado. O recado já foi dado e está se repetindo.  A Colômbia já mostrou o caminho. Desejamos segui-lo? 

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Jornalista, pós-graduada em Relações Internacionais pela PUC/RJ, com MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral. Foi Secretária de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro; Consultora/Diretora de Projetos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) / Ex-Conselheira de Segurança Pública do Estado do RJ / Foi vice-presidente dos Conselhos de Segurança Pública e Esportes da Associação Comercial do Rio de Janeiro / Preside a organização do terceiro setor Sou do Esporte e o coletivo Logística Solidária.
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