Fabiana Bentes: Carta aos governantes

Em seu texto Fabiana Bentes diz que engomados em seus ternos ou em seus vestidos, somos achacados diariamente por condutas espúrias

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Foto de Anete Lusina:

Geralmente entendemos como o protagonista de um pronunciamento a carta de um governante para a nação. Não estabelecemos em momento algum na história da democracia a carta do povo aos governantes, como se o principal protagonista da democracia não fosse a população. Talvez tenhamos esquecido ou até mesmo não tenhamos percebido o valor que cada um de nós temos num processo democrático. 

Ao assistir aos debates, que mais parecem um empratado de palavras em que a maior probabilidade é a de causar mal-estar do que precisamente uma degustação de ideias sobre o futuro do nosso país, criamos memes, sátiras, debochamos, brigamos por este ou aquele candidato, e somos engolidos pela superficialidade, tal qual tratam a política do nosso país. 

Engomados em seus ternos ou em seus vestidos, somos achacados diariamente por condutas espúrias, que vão desde o loteamento de cargos de forma indiscriminada, a corrupção dos detalhes, da moral, dos valores, do dinheiro, até a tão singela incompetência da gestão, em que o dinheiro não chega na ponta porque simplesmente o gestor público não sabe como fazer chegar. 

Mas como mudar de fato essa realidade? Por vezes a corrupção foi a base do nosso temor. Nós, cidadãos, braveamos aos quatro cantos que a corrupção mata e não a toleramos, mas é difícil acreditar nisso se continuamos elegendo pessoas investigadas, condenadas, que respondem a processos, que já foram presas e que fazem ou fizeram parte de esquemas de corrupção. É incrível que muitos destes candidatos continuam liderando pesquisas e estão ilesos em seus pedestais…, mas a culpa é nossa. 

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É praticamente impossível mudar e transformar nossa cidade, nosso Estado e nosso país fazendo o mesmo de sempre. Garantir um cargo, uma boquinha durante as eleições, uma quadra pintada na favela, tudo significa moeda de troca para cabos eleitorais, hasteadores de bandeiras políticas, seguranças, e todo e qualquer serviço prestado para eleger este ou aquele candidato que “arrumou alguma coisa”. Mais uma vez, queremos mudança e não mudamos nossa conduta em nada. Benefícios privados são notadamente mais importantes que benefícios comuns.

Mas porque esta carta seria então para os governantes se é tão somente uma reflexão de uma cidadã? É porque há uma mudança, mesmo que singela, na percepção da política. Há um movimento, mesmo que ainda tímido por parte da população, de realmente entender a dinâmica da política, de entender o mal que faz alguém que ousa não honrar o voto do cidadão. 

Durante estes quatro anos vimos de tudo, desde ativismo judicial, impeachment, imprensa tendenciosa e, claro, corrupção. E parece que mesmo que não seja uma mudança brusca agora, os governantes precisam tomar muito cuidado. Estamos muito mais atentos, muito mais politizados, muito mais informados, muito mais cientes do nosso papel como povo.

Assim, aos candidatos eleitos, é preciso o entendimento que não é uma caça às bruxas. Queremos, inclusive, que durmam em berço esplêndido àqueles que lutam por nós; mas àqueles que insistirem na conduta errada, debochada, e que despreza o nosso voto, teremos ainda mais força para mudar a lógica da política: vamos fazer de tudo para que tenham privados seus direitos e assim possamos garantir o benefício comum de vivermos em sociedade. 

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Jornalista, pós-graduada em Relações Internacionais pela PUC/RJ, com MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral. Foi Secretária de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro; Consultora/Diretora de Projetos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) / Ex-Conselheira de Segurança Pública do Estado do RJ / Foi vice-presidente dos Conselhos de Segurança Pública e Esportes da Associação Comercial do Rio de Janeiro / Preside a organização do terceiro setor Sou do Esporte e o coletivo Logística Solidária.
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