Fechada há dois anos, Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens aguarda obras do Iphan

A Justiça Federal condenou o Iphan a fazer as obras, mas até agora nada. Igreja, que é uma das pérolas do Rio, apresenta uma série de problemas, como vazamentos que ameaçam o patrimônio histórico da cidade

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Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens - ArqRio

Uma das pérolas dos estilos Rococó e Barroco do Rio de Janeiro, a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens foi construída no Centro em meados do século XVIII. A Capela teve as suas obras iniciadas em 1752, após a criação da Irmandade Nossa Senhora Mãe dos Homens, em 1750. A igreja se encontra em péssimo estado de conservação e o Iphan foi condenado pela Justiça Federal a executar o projeto de restauro e fazer as obras necessárias, mas há dois anos nada é feito e a igreja segue fechada.

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Fechado há dois anos, o templo encontra-se em uma situação gravíssima, sendo solapado por vários pontos de vazamentos que degradam e depreciam o patrimônio histórico e cultural católico e carioca. As fotos do laudo público do Iphan trazem imagens fortes. A Igreja aguarda o recebimento de verbas do IPHAN, que foi condenado pela Justiça Federal a sanar os vazamentos e outros problemas. O telhado está virtualmente arruinado. A lei federal que criou o órgão é muito clara ao estabelecer que quando o proprietário de um bem tombado não tem recursos, cabe ao órgão de patrimônio federal realizar as obras necessárias.

O templo pertence à Irmandade de Nossa Senhora Mãe dos Homens cuja maior parte dos integrantes faleceu, estando os demais muitos muito idosos ou sem recursos para tomarem alguma providência. A associação não possui outras rendas e nem imóveis além da Igreja, que foi mandada interditar pelas autoridades públicas. Atualmente, há menos de 10 membros vivos, e a entidade não conta com recursos para manter o templo. Uma irmandade é uma associação pública de fiéis católicos, normalmente leigos, que se reúnem em torno de uma devoção comum: uma organização com autonomia em relação à diocese. Com o esvaziamento do Centro a partir de 2016, não houve a entrada de novos membros para a irmandade. Com o fechamento do templo, menos ainda.

O templo, localizado na Rua da Alfândega, 54, no coração do Centro do Rio de Janeiro foi projetado por José Fernandes Pinto Alpoim, militar português e um dos grandes nomes da arquitetura colonial no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro.

Antes da construção da capela, a devoção à Nossa Senhora Mãe dos Homens era praticada em um altar de pedra, localizado nas proximidades da construção do templo.

Em 1790, o Mestre Inácio Ferreira Pinto construiu o retábulo do altar-mor, as talhas do arco-cruzeiro e do coro. A igreja foi palco de inúmeros eventos de grande peso histórico. Entre abril e maio de 1798, o templo abrigou Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. O inconfidente mineiro ficou escondido no local até migrar para um esconderijo na Rua dos Latoeiros, atualmente Gonçalves Dias, onde foi preso e, posteriormente encaminhado para a Ilha das Cobras.

Coube ao pintor, desenhista e gravador brasileiro, Antônio de Pádua e Castro, a requalificação do trono do altar-mor e confecção das talhas dos dois altares da nave; obras que duraram de 1854 a 1856. Nos anos seguintes, a fachada do templo foi reconstruída, com a finalização da obra acontecendo 1863, sob o comando do arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva.

A Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens foi construída com uma única nave, capela-mor, sacristia, além de duas torres: uma sineira e outra inacabada.

A nave foi elaborada em formato octogonal, com cobertura abobadada. Já a capela-mor conta com planta retangular. A torre sineira, por sua vez, foi erguida com um pináculo revestido com azulejos portugueses, com a instalação de um galo de bronze em seu topo. A fachada principal (frontispício) foi reconstruída em estilo neoclássico, fazendo da Igreja uma das construções mais representativas do século XVIII no Rio de Janeiro.  

Em 15 de julho de 1938, sob o processo de nº 0020-T-38, a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

A comunidade católica e os moradores do Rio de Janeiro esperam que o Iphan tome as devidas providências para que Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens não tenha o destino trágico como o Convento de São Francisco em Salvador (BA) e para que não cheque ao estado de ruína da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, fechada há anos na rua Primeiro de Março.

Para intervenções básicas na Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens que evitem sua ruína, o Instituto do Patrimônio Histórico estimou as despesas iniciais. O valor inicial a ser investido, segundo o órgão, seria de 766 mil reais a serem empregados na revisão do sistema elétrico, restauração de elementos da cobertura da Igreja, conserto de vazamentos e descupinização do prédio tricentenário. Segundo o Iphan, a previsão em 2020 era de que as obras teriam a duração de nove meses. Mas nada ocorreu.

Morte e tragédia anunciada em Salvador

No dia 5 de fevereiro deste ano, o Convento de São Francisco em Salvador, localizado no Pelourinho, teve parte do forro do teto desabado, deixando uma pessoa morta e seis feridas. Segundo uma reportagem publicada pelo jornalista Fernando Molica no site Correio da Manhã, o Instituto sabia das condições do templo baiano desde 29 de maio de 2024, portanto há mais de oito meses.

A empresa Solé Associados, de acordo com Molica, teria entregado um laudo assinado pela engenheira civil Rosana Muñoz ao Iphan. No documento, a técnica enumerou uma série de problemas estruturais que deveriam ser “remediados com urgência” para que a estrutura não desabasse.

Na matéria de Fernando Molica foi citado ainda que o Iphan tinha conhecimento de outros estudos anexados pela Solé que revelavam problemas graves nos telhados, além de 95 pontos de cupinização dentro da igreja, como em altares, imagens e forro do teto.

As instalações elétricas também apresentavam problemas graves na fiação e falta de para-raios. A documentação enumerou 48 situações classificadas de “risco crítico”, quando há ameaça à vida, à saúde, ao meio ambiente ou patrimônio.

No acidente, a turista Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos e natural de Ribeirão Preto (SP), foi atingida por parte do teto da Igreja. Ela estava acompanhada de dois amigos e do namorado, que não se feriram, pois estavam um espaço mais afastado.

No dia 7 de fevereiro, o DIÁRIO DO RIO denunciou a aterrorizante situação da Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, do Mestre Valentim, na Praça XV. Já em 2022, o templo, de propriedade da latifundiária Ordem Terceira do Carmo, uma organização religiosa autônoma em relação à Arquidiocese do Rio, sofria risco de incêndio, estando tomada por cupins e sendo classificada como em estado “péssimo”, segundo laudo do órgão federal. Segundo a reportagem, a situação atual da Igreja é de quase ruína. Ainda assim, o Iphan deu de presente à Ordem Terceira 9 anos para realizar as obras necessárias, embora seus técnicos atestem que é preciso intervenção imediata. Por especialistas, ela é considerada a “bola da vez”, apesar de pertencer a uma organização que tem muitos bens.

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