Na política, no jogo eleitoral, as trocas de acusações são mais do que normais; afinal de contas, o que é uma eleição, se não a vontade de alguém ter o poder para governar de acordo com o que julga melhor para a sociedade? Mas, teoricamente, tudo tem limite, limite esse que o Vereador Felipe Michel parece sequer considerar que existe.
Agindo sempre com uma hipocrisia sem tamanho, Michel entra para a arena pública ao lado do que foi a pior gestão municipal da história da cidade do Rio de Janeiro, a do bispo Marcelo Crivella, de quem foi secretário de “eventos e envelhecimento saudável”, mais um monstrengo administrativo que foi criado para abarcar aliados políticos. Qual foi seu legado? Pois é. Nenhum. Atualmente, em seu mandato de vereador, Michel decidiu ficar, de novo, do lado errado da história.
Apesar de em seu perfil no site da Câmara Municipal ele apontar com muito orgulho ter trabalhado numa antiga gestão do prefeito Eduardo Paes, atualmente ele parece ter esquecido disso, e apenas prefere atuar na demagogia; é um blablablá sem fim. A bola da vez são críticas ao Secretário de Saúde Daniel Soranz. Que a saúde carioca é complicada ninguém duvida, afinal de contas, ter um sistema público que contemple mais de seis milhões de pessoas é difícil, principalmente depois do desmonte que Crivella fez no programa de saúde da família – sim, o mesmo Crivella do qual Michel foi secretário. Sem contar a quantidade de residentes em municípios limítrofes que vêm ser atendidos nos hospitais cariocas.
Mas é inegável a máquina de trabalho que é Soranz, alguém conhecido por dormir pouco e cobrar muito de sua equipe. Atualmente, a menina dos olhos de Soranz é o “Seguir em Frente”, um plano de assistência para pessoas em situação de rua, que já atendeu quase mil pessoas em um mês e até o dia 23/1 já tinha reinserirido mais de 600 pessoas no mercado de trabalho. Concebido da forma mais abrangente possível, o programa tem diversas etapas e processos de apoio para quem precisa e quer sair das ruas – é claro que querer é importante. Mas para Michel, a hipocrisia fala mais alto.
Mesmo depois de apoiar o desmonte da saúde carioca, foi às suas redes chamar o programa de “campo de concentração”, o que além de absurdo, é uma completa falta de respeito com quem sofreu os horrores do nazismo. Michel consegue apelar para o mais baixo nível da política, apenas para angariar um punhado de votos, e aparecer com estardalhaço nas redes.
O vídeo do edil, como de costume, é um mal apanhado de cenas e declarações, com uma edição lamentável. Há pessoas dormindo no chão no espaço temporário do programa no Centro do Rio, que sofre com pessoas passando fome e com os cracudos, mas sem explicar direito. Tudo pelo voto, para chocar, não interessa a Felipe Michel se o programa funciona ou não, ele quer antagonizar com Soranz e Eduardo Paes. Interessante que apesar de toda a estrutura que existe pra atender o morador de rua no local, fala como se fosse melhor pra eles seguir nas ruas. Ignora também a quantidade de pessoas que integram esta população e são viciados em drogas ou reincidentes no crime, ou os dois.
A verdade é que este vereador não é oposição, se fosse Pedro Duarte, do Novo, ou o médico Paulo Pinheiro, do PSol, poderíamos dar crédito às acusações. Ambos nunca desejaram cargos no atual governo, e Michel quase foi secretário de Eduardo. Já Duarte e Pinheiro apontam os erros e se posicionam corretamente em suas pautas, nenhum deles ainda criticou o Seguir em Frente. Mas já denunciaram antes o descaso com a Saúde e com a Assistência Social deste mesmo governo. Garotinho falava muito numa “turma da boquinha”. Ela ainda existe. E quando não é atendida, não faz o que for possível pra “causar”.
Felipe Michel cada vez mais se apresenta como o tipo de político que o Rio não merece. Aquele que é situação e oposição quando lhe convém, se há cargos ou não para trocar. E, pior, tenta esconder sem sucesso a verdadeira razão para seus ataques.
Vamos aguardar. Reempregar 600 em um mês é gente pra caramba. Ótimo. Serão os desempregados das obras do metrô, Comperj, Indústria Naval, dos grandes eventos (Copa/Olimpíadas) voltando ao trabalho? Lembram deles, gente qualificada que sofreu pelo desastre econômico petista/peemedebista? A nova reinserção tem relação com o tal encontro do G20, o novo oba-oba, e depois eles voltam pra rua? O tempo dirá, o problema é que os senhores das soluções (e dos gastos) nunca estão aqui pra responder por seus atos.
ps. Lembram dos artigos em 2010-2011 falando que os eventos Copa/Olimpíadas seriam as oportunidades definitivas do Rio? Pois é…
O Soranz é bem adulto para fazer uma defesa, e existem canais de mídia fartamente acessados por este político em rádio e tv e meios jurídicos para tal. A Opinião, como sempre devemos ter como referência, deve ser livre. Tanto é que a crítica aqui existe. Mas é curioso, se usarmos as referências citadas do Vereador Michel e fazer uma pesquisa, que as grandes realizações do secretário de saúde municipal são norteadas por fatos do momento. Fez seu capital político na crise da Covid e agora com o PAR/Seguir em frente. Ataca efeitos, não causas. O cidadão, dono do mandato e dos cargos executivos, deve sempre se chocar com a quantidade de moradores de rua na cidade em todo o mandato Paes, principalmente quem convive e trabalha em regiões do Centro que mais se assemelham a “Walking Dead” do que “Minecraft”. E deveria se chocar se análisar o “timing” de se colocar esse programa às pressas, gerando efeitos no Réveillon passado e agora com seu objetivo principal, que é a limpeza das ruas no Carnaval, evitando atritos com entre população de rua e a turma que vai brincar e beber sem sentir dor. As faixas que vem sendo colocadas em ruas e cruzamentos da região da Cruz Vermelha criticando o programa na podem nos oferecer dados de que quem mora por lá deve estar muito satisfeito. Por fim, deveria tocar ao leitor a oferta de serviços e utilidades (chuveiro, lavadoras, corte de cabelo, café da manhã saúde primária, assistência social, etc,etc.) a essas pessoas. Recebem recursos que trabalhadores que se matam pra ganhar salário-mínimo (R$ 1412) com descontos não tem. Durante o dia conseguem refeições e a noite alojamento custeado pelos governos. A pessoa sairá da rua? Claro que não. E programa público, para o brasileiro desavisado, é sempre TEMPORÁRIO, ou seja, se aloca uma verba por tempo definido. Não foi feito pra durar. É por isso que ficamos batendo palmas pra malucos. Seja de que forma for, vereador Michel, atingiu o ponto fraco. Uma ferida! E ela dói quando se mexe.