Na próxima quinta-feira (18/8), a Fiocruz e a Redes da Maré realizam o seminário Olhares sobre a Covid em favelas: ciência, participação e saúde pública. O evento ocorre de 9 às 18h, no campus Manguinhos (no Rio de Janeiro), com transmissão ao vivo pelo canal da Fiocruz no YouTube.
No seminário, os pesquisadores apresentarão os resultados e as ações empreendidas na comunidade durante os mais de dois anos do estudo inédito Vacina Maré e do projeto Conexão Saúde: De olho na Covid-19, além de planejar os próximos passos e potenciais colaborações. De acordo com Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz que lidera o projeto, além do resultado de anos de pesquisa, também irá aborda a temática da prevenção da doença.
“O seminário trará os dados e os resultados dos estudos realizados na Maré, em particular as ações de controle da pandemia por meio do programa Conexão Saúde; os resultados da vacinação em massa na Maré e também novos dados sobre Covid longa, saúde mental e o andamento dessas pesquisas na comunidade. Será um prazer compartilhar essas informações”, disse Fernando Bozza.
Pesquisadores de diferentes instituições nacionais e internacionais envolvidas no projeto apresentarão aspectos dos estudos e compartilharão impressões com seus pares. O seminário também informará à sociedade, em especial aos moradores da Maré, os frutos do trabalho desenvolvido até o momento.
Presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima destacou a importância da mobilização da comunidade no enfrentamento à pandemia. Ela participa da mesa de abertura do evento junto ao secretário Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Rodrigo Prado, a diretora da Redes da Maré, Eliana Silva, e o pesquisador do Instituto Todos Pela Saúde (ITpS) Vanderson Sampaio.
“Com o seminário, procuramos compartilhar uma síntese de alguns aprendizados dos trabalhos realizados em conjunto com a população e organizações do Complexo da Maré. Da campanha de vacinação às pesquisas de efetividade da vacina, foram muitas lições. A importância de ações de engajamento e de comunicação realça que a pandemia, além de um fenômeno biológico, é também um fenômeno social. A mobilização do território foi por isso um aspecto primordial para seu enfrentamento, constituindo uma verdadeira tecnologia social, e pudemos contar com a parceria de moradores, influenciadores, coletivos e organizações locais, como a Redes da Maré, que promove conosco o evento”, disse Nísia.
A Maré é o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, com cerca de 140 mil moradores, sediou iniciativas de vacinação em massa e testagem em grande escala conduzidas a partir de uma ação integrada entre a Secretaria Municipal de Saúde, a Fiocruz e a Redes da Maré. O estudo de efetividade da vacina na região, coordenado pela Fundação, propõe um olhar que considera as características próprias do território – alta densidade populacional, cadeias de transmissão próprias, grande circulação do vírus e vulnerabilidade social da população. A meta de vacinar toda a população adulta da Maré foi cumprida: 93,4% do público-alvo foi imunizado com as duas doses da vacina da AstraZeneca.
Além de apresentar os resultados gerais da pesquisa e os resultados das ações de mobilização no território, os palestrantes também apresentarão os resultados do estudo de coorte desenvolvido pela Fiocruz, que acompanha cerca de duas mil famílias e mais de seis mil moradores, incluindo crianças, num monitoramento de longo prazo para avaliar a transmissão intradomiciliar, as dinâmicas da circulação do vírus nas comunidades e proteção indireta. A vigilância genômica, a iniquidade, os impactos da pandemia e suas consequências de longo prazo no território também serão temas de debate.
“A combinação de ciência, participação e saúde pública mostrou caminhos inovadores, e os olhares sobre a Covid-19 na favela orientam-se também para o futuro, buscando potenciais ações e colaborações. Os estudos de coorte e a análise das consequências de longo prazo da Covid-19 nos territórios, nesse sentido, terão muito a contribuir, a fim de identificarmos os desafios pela frente e fornecer dados, sobretudo em relação ao impacto desigual da pandemia, ela mesma produtora de mais desigualdades”, destacou Nísia.