Fonseca: O Rio precisa do Museu do Urbanismo

O urbanista Guilherme Fonseca defende no Dia do Urbanismo o projeto feito por Carlo Caiado para a criação no Rio do Museu do Urbanismo

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Trecho da Avenida Rio Branco, no Centro do Rio - Foto Cleomir Tavares/Diário do Rio


Neste dia 8 de novembro comemora-se o Dia Mundial do Urbanismo. A data foi oficializada em 1949, sendo reconhecida por 30 países. Tem como objetivo promover o debate sobre o planejamento urbano e a sua relação com a sociedade.

O Brasil é um país urbano. Atualmente, 80% da população vive em cidades. Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o percentual chega a 99,5%. Os desafios das cidades são imensos, com impactos diretos sobre o desenvolvimento humano, econômico e ambiental. Ou seja, é uma questão de tal relevância que, hoje, mais de cem universidades oferecem formação na área.

Tramita na Câmara Municipal do Rio, uma indicação do presidente da casa, vereador Carlo Caiado que propõe estudo para a criação de um Museu do Urbanismo na cidade. A indicação nº 5096/2021 é extremamente interessante e oportuna, principalmente pelo lado educativo dos objetivos deste museu.

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O Rio tem grande diversidade das escolas urbanísticas, bem como inúmeras experiências na questão. Como arquiteto urbanista e especialista em engenharia urbana, considero fundamental trazer este debate ao público de uma forma geral, através de uma estrutura permanente, ou seja, o museu, onde poderão ficar exposições e mostras de uma discussão permanente sobre questões ligadas à habitação, planejamento urbano, mobilidade e os desafios ambientais.

Na justificativa da indicação, o vereador Carlo Caiado ainda relembra a vitória da cidade para sediar o Congresso Mundial da União Internacional dos Arquitetos (UIA), o maior e mais importante fórum internacional de arquitetura. Oportunidade que surgiu exatamente pela história e evolução urbana do Rio de Janeiro.

O Museu do Urbanismo, se criado, oferecerá à sociedade um espaço de lazer, educacional, de discussão, onde conhecimento, técnica e informações ficarão, em tempo integral, à disposição da população.

O Rio de Janeiro como capital internacional, ainda um dos principais destinos turísticos do mundo, poderá, a partir deste Museu, atrair um fluxo turístico ainda maior e diferenciado, reforçando a vocação cultural da cidade. Há necessidade de popularizar debates que muitas vezes estão distantes do dia a dia do cidadão que enfrenta, em média, quase duas horas diárias de deslocamento casa – trabalho e pode desconhecer a relação deste tempo gasto no trânsito com o planejamento urbano e o sistema de transportes.

Já temos livros sobre urbanismo voltados para crianças, o que justifica, de forma reiterada, o caráter cultural e educativo de difusão de uma temática que engloba a vida de milhões de pessoas e que precisa cada vez mais, de gente interessada em estudar e construir soluções aos diversos desafios.

Seria ingenuidade supor que um museu será capaz de transformar, da noite para o dia, uma forma, muitas vezes equivocada, de pensar a cidade. Mas existe a certeza de que se trata de um movimento para fazer avançar a conscientização e o conhecimento, principalmente das gerações mais jovens.

Lembro trecho de um livro do prestigiado urbanista, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, onde ele dizia que a partir de uma das ações de seus governos relacionadas à educação, uma criança estava orientando os pais sobre o erro do descarte de óleo de cozinha no ralo da pia. Os pais não tiveram a oportunidade de receber esse conhecimento, mas, sem dúvida, a partir de uma criança essa informação relevante entra com mais facilidade em sua casa e nas vizinhas da comunidade, multiplicando informações que interessam a toda a sociedade. Em síntese, esse é apenas o exemplo de como a difusão do conhecimento ajuda a gerar interesse em torno de problemas de todos os que vivem em grandes centros urbanos. E, em última análise, cria interesse por uma profissão, a do urbanista que deveria ser reconhecida como carreira de estado.

Vejam que segundo dados governamentais com base em pesquisas para elaboração de planos diretores em âmbito metropolitano, 30% das pessoas que se deslocam diariamente na metrópole do Rio de Janeiro – que tem atualmente em torno de 13 milhões de habitantes – fazem esse deslocamento a pé. Quer dizer, um terço das viagens diárias na metrópole são realizadas por modos ativos. Ou seja, sem o uso de meios de transportes motorizados.

Esse dado demonstra um percentual enorme de pessoas direta ou indiretamente relacionadas com os meios de transportes públicos coletivos, uma diferença abissal da minoria que utiliza o automóvel para seus deslocamentos. Não obstante esses números, sucessivas administrações realizaram – e ainda realizam – gigantesco investimento em infraestrutura dedicada ao transporte individual motorizado – veículos.

No Rio, é certo afirmar que essa realidade começou a mudar nas gestões do Prefeito Eduardo Paes com os investimentos para a implantação do BRT e VLT. Talvez, os maiores investimentos em transporte de média capacidade de que se tem notícia, implementados nas capitais brasileiras nas duas últimas décadas. Algo, obviamente, de extrema importância.

Outro aspecto interessante da existência de um Museu do Urbanismo é a difusão do conhecimento e promoção do patrimônio cultural. Vimos isso na polêmica sobre a venda do edifício do Palácio Gustavo Capanema. Escrevemos sobre isso aqui no Diário do Rio à época.

A democratização do conhecimento é essencial em todas as áreas, mas as carências urbanísticas das cidades tornam essa questão ainda mais relevante. O Museu do Urbanismo é uma ideia excepcional. Vamos compartilhar responsabilidades e soluções para sua criação e implementação plena!

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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