“Mas eis aí o Morro do Castelo, que pede a palavra pela ordem e exige que lhe paguemos o tributo de alguns minutos de atenção.” Joaquim Manoel de Macedo.
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A Sergio Castro Imóveis apoia a história do Rio.
Durante minha infância passava dias e dias fantasiando sobre o suposto Castelo que existia no ponto final do ônibus que meus pais pegavam para trabalhar. No entanto, lá pelos meus 11 anos fui finalmente visitar o local e, para minha completa decepção, não tinha Castelo nenhum, só uma rua larga, cheia de prédios altos de grandes colunas e de ar imponente. Assim como eu, ainda hoje alguns cariocas – e não somente crianças – não sabem a origem desse “Castelo”.
A atual explanada do Castelo tem esse nome em função do antigo Morro que ali se encontrava até meados de 1922. Berço de nosso município, foi o local escolhido por Estácio de Sá para a formação inicial da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro logo após a expulsão dos franceses em 1567. No alto de seus 60 metros de altura era excelente para a defesa da nascente vila – era possível avistar tanto quem vinha do mar quanto quem chegava do continente.
Lá em cima, como mandava os moldes citadinos medievais, construíram uma cidade murada. Ergueram inicialmente um fortim em homenagem a São Tiago da Misericórdia, depois uma pequena bateria de canhões denominada de São Januário, por fim, todo o complexo foi batizado de Fortaleza de São Sebastião do Castelo – já que alguns colonos afirmavam que a distância o prédio principal parecia um castelo. Daí a nomenclatura para todo o morro, que anteriormente era conhecido como Morro do Descanso.
Na invasão do corsário francês Jean-François Duclerc a “Fortaleza do Castelo” teve importante papel no combate, não somente esta, como outros ilustres moradores do Morro: os jesuítas. Segundo relatos de época, os estudantes do colégio pertencente a esta ordem e alguns índios aldeados – nativos que viviam em aldeamentos jesuíticos – foram de importância singular, em especial, no confronto corpo a corpo.
Desativada no período regencial devido ao seu pequeno poder de fogo e localização desprivilegiada em relação a outras Fortalezas, a primeira fortificação carioca se transformou numa Estação Semafórica. Em suma, sua função passou a ser mais de comunicação por bandeiras com outros fortes da Baia de Guanabara do que propriamente de defesa.
Em fins do século XIX a Estação Semafórica foi desativada e dentro da antiga Fortaleza alguns moradores instalaram pequenas casas. Chamado de “bairro da fortaleza” por alguns, suas terras foram invadidas por soldados rasos do Exército, inicialmente com a autorização do então chefe militar da época. Em 1922, o que restava da construção que deu nome ao primeiro sítio urbano carioca sucumbiu juntamente com todo o Morro do Castelo na onda “modernizante”, “higienizadora” e “civilizatória” das primeiras décadas do século passado.
E o Rio de Janeiro se tornava um caso quase único na história, uma cidade que destruiu completamente todo o seu primeiro e principal sítio arqueológico. Naquela época, um dos argumentos principais para a destruição do Morro do Castelo era um grande evento aliado a ideais modernizantes: a Exposição Internacional de 1922, em homenagem ao centenário da independência.