Funk Melody, o ritmo que transformou o Rio em pista de dança nos anos 90

Misturando batidas vindas do Estados Unidos com letras que falavam de amor, o funk melody promoveu uma revolução no cenário musical do Brasil

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Baile Funk no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução Internet)

Todo carioca adulto com mais de 30 anos, que viveu sua infância ou adolescência nos anos 1990, lembra muito bem da febre que foi o funk melody no Rio de Janeiro. Diferente do funk que vemos atualmente, o funk melody, trazia um pouco da influência da música disco dos anos 1970, com elementos do Miami Bass, derivado do hip-hop americano (que bombava nos subúrbios usando e abusando de samplers e bateria eletrônica) e letras que falavam de amor.

Algumas pessoas, sobretudo as mais velhas, que viveram o auge do funk melody, gostam de classificar esse movimento como “funk das antigas“, mas ele vai muito além disso, foi uma revolução cultural que arrebatou jovens de todas as partes da cidade, dos bailes de periferia até as festas de granfino.

Mas vamos tentar voltar um pouco ao tempo para entender como se deu esse fenômeno. No final da década de 1980, desembarcava na Cidade Maravilhosa um estilo musical derivado da soul music, do swing e do groove dos Estados Unidos. No entanto, essa nova vertente tinha instrumentos eletrônicos, ao invés dos tradicionais metais e do contratempo marcante do baixo, que caracterizaram a carreira de artistas como James Brow, tido como o rei do Funk.

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James Brown, ícone do funk americano (Foto: Reprodução Internet)

Mesmo sem internet naquela época, essa fórmula rapidamente se fundiu com o que já se fazia em terras brasileiras, especificamente terras fluminenses. Nas favelas do Rio de Janeiro, o funk já era uma febre, com bailes lotados e uma das principais opções de lazer para os moradores daquelas áreas. Por lá, já existiam Djs e Mcs que colocavam todo mundo pra dançar nas festas que aconteciam nos salões de clubes, associações de moradores e quadras de escolas de samba. Ao som dessas batidas pesadas que estimulavam o corpo a não ficar parado, todo mundo se divertia com o funk rolando até altas horas.

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A expressão corporal traduzida pela dança também caracterizava a cena de funk na Cidade Maravilhosa, principalmente nos anos 1970, quando ficou conhecida como “Black Music Carioca“, onde os artistas prezavam pelo fator “banda ao vivo tocando seus instrumentos“, mas não renegava a evolução da música com a inserção de recursos eletrônicos.

O caminho estava pavimentado para a explosão do funk melody, mesmo com todo preconceito e marginalização do funk carioca na década de 1980, impulsionados pela repressão da ditadura militar (algo que, infelizmente era comum, tendo em vista que a cena era composta basicamente por homens e mulheres negras).

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Bailes Blacks no Rio de Janeiro na década de 70 (Foto: Reprodução Internet)

Na chegada dos anos 1990, os artistas de funk que prezavam por românticas foram ganhando espaço na grande mídia, não era incomum vê-los em programas da Xuxa, Angélica, Faustão, Gugu, entre outros.

Nas festas de aniversários e confraternizações em geral dos anos 1990, era simplesmente impossível não ver pessoas de todas as idades ensaiando passos das coreografias das músicas, que consistiam praticamente em mexer as pernas para frente e para trás e concluir com um giro 360º sobre o próprio eixo.

Foram quase 10 anos de auge e hegemonia nas paradas de sucesso que fizeram do funk melody carioca um dos movimentos musicais mais relevantes e representativo dos últimos anos.

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Meninas dançando ao som de funk melody nos programas de TV dos anos 90

Mas quem foram os grandes nomes do Funk Melody?

Muitos afirmam que o primeiro funk melody brasileiro gravado foi “Melô do Príncipe“, pelo cantor Guilherme Jardim, em 1990. Era uma versão da canção Just Another Lover, de Ray Guell. Essa versão foi produzida pelo DJ Marlboro e lançada no LP intitulado “DJ Marlboro Apresenta: Funk Brasil 2“, que, junto do tecladista Humberto Mello, foram um dos maiores produtores do estilo dos anos 1990, assim como o Dj Robson Leandro e o tecladista Victor Junior.

Em 1991, a canção “Vem Amor” gravada pelo grupo Cashmere, e lançada no LP: “Malboro D.J. Apresenta: Funk Brasil 3″, se tornou sucesso em todo Brasil. No mesmo ano, foi lançado o álbum Love Girls, do grupo Funk Girls, que também teve enorme repercussão. Desde então, surgiram diversas coletâneas de funk melody, e diversos novos artistas surgiram, entre eles You Can Dance, Latino, Johnny B, Ginno, Força do Rap, Mc Marcinho, entre muitos outros. A coletânea “Funk Brasil Especial” ganhou disco de ouro por ultrapassar a marca 100 mil álbuns vendidos.

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Coletânea Funk Brasil

Mas o pico de sucesso do funk melody foi quando surgiram grandes sucessos como “Me Leva”, do Latino, “Anjo”, do You Can Dance, “Mel da sua Boca”, do Copacabana Beat, “Segura”, do Cashmere, “Joguei com seu Coração“, do Abdullah, “Sinto Saudade“, do Mike Dee, “De Bar em Bar“, do Tchello. Em 1996 o gênero ganhou espaço nas rádios com o surgimento da dupla Claudinho & Buchecha, que emplacou sucessos como “Só Love“, “Nosso Sonho” e “Quero Te Encontrar“.

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Claudinho e Buchecha (Foto: Reprodução/Instagram)

Grandes nomes do funk carioca nessa época utilizaram a música como forma de dar voz a população das favelas e protestar contra a desigualdade social. Canções como o “Rap do Silva”, do MC Bob Rum, e, talvez, a obra que mais represente a realidade do Rio, o ‘Rap da Felicidade, do Mc Cidinho & Doca, com o icônico refrão: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, e poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar“.

MC Cidinho e Doca – Rap da Felicidade

Bob Rum – Rap do Silva

O funk melody foi uma expressão cultural tão forte que respingou na carreira de grandes nomes nacionais do pop atual, como das cantoras Anitta, Ludimila e Perla, onde é possível ver poucos, mas claros traços das batidas surgidas e consagradas décadas atrás.

Muitas vezes acusado de ser um estilo musical datado, o funk melody está longe de ser um movimento mainstream nos dias de hoje, mas seu legado e seu impacto cultural, sobretudo no Rio de Janeiro, onde provocou uma revolução, não podem ser esquecidos jamais.

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