Ganime: Quem tem fome, tem mais que pressa. Tem que ter emprego

Para Paulo Ganime, o que falta ao estado do Rio de Janeiro são gestores públicos sérios, competentes e comprometidos em resolver os problemas

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Domingo a gente não tinha nada para comer”. O depoimento de Janete Evaristo, 57 anos, moradora do Morro dos Macacos, na Zona Norte do Rio, levou às lágrimas a repórter de uma emissora de tevê carioca e emocionou todo o Brasil esta semana. Desempregada desde o início da pandemia e com cinco netos menores para criar – perdeu a filha há dois anos e o marido há seis meses -, Dona Janete não consegue fazer o básico que é colocar comida na mesa. O drama da desempregada, infelizmente, não é único. Ao contrário, hoje somente no estado do Rio de Janeiro (RJ) mais de 2,8 milhões de pessoas têm dificuldade para alimentar suas famílias, um aumento de 400% entre 2018 e 2022. Esse número representa 15,9% de toda a população fluminense.

O aumento da fome, que hoje alcança 33 milhões de pessoas no país, segundo dados do Instituto Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), vem de longa data, de políticas públicas equivocadas, da corrupção nos diversos governos, do aumento da pobreza, que geraram uma crise econômica sem fim. Quando o assunto é insegurança alimentar nos três níveis (leve, moderado e grave), as informações são ainda mais estarrecedoras. A pesquisa aponta que quase 60% dos brasileiros não têm acesso a uma alimentação adequada, situação semelhante à que vivemos na década de 1990.

No estado do Rio, essa crise ganhou contornos ainda mais graves que levaram à decadência econômica, política e social da segunda maior economia brasileira. Uma situação gerada por sucessivos desgovernos ao longo dos últimos anos, que ora optaram por políticas populistas e eleitoreiras, ora pela prática da corrupção. E até hoje a população paga um preço alto por tamanho descaso. Quase 70% das pessoas que estão desempregadas no estado do Rio, segundo a pesquisa, sofrem de insegurança alimentar moderada ou passam fome. O RJ tem a terceira maior taxa do país com mais de 1,3 milhão de desempregados, segundo o IBGE.

Essa dura realidade da fome tem se apresentado cotidianamente nas cidades do Rio. Famílias inteiras, que não têm o que comer, vão em busca de refeições oferecidas por voluntários, igrejas, ONGs, que alertam para o novo perfil das pessoas que entram na fila para conseguir um prato de comida. São pessoas que há pouco tempo tinham emprego e renda e podiam pagar um aluguel e sustentar a família. Porém, ao perderem o emprego, precisaram morar na rua ou se alimentar com ajuda de terceiros.

É o caso de Dona Janete, que trabalhava como cuidadora de crianças há dois anos, mas com a perda do emprego passou a viver na extrema pobreza, catando latinhas para sobreviver. Após a repercussão da matéria na tevê, houve uma grande onda de solidariedade por todo o país para ajudar a desempregada com doações de alimentos. Novamente entrevistada, ela já fazia planos para reformar a casa, pagar a faculdade e a formatura da neta e conseguir um trabalho digno para sustentar a família.

Sem dúvida, a solidariedade tem sido fundamental para salvar vidas. E devemos ser gratos a cada cidadão que estende a mão para ajudar os mais necessitados. Porém, o nosso estado tem um enorme potencial econômico, capaz de gerar emprego e renda e de dar dignidade às famílias. Somos o maior produtor de petróleo e gás natural do país, contamos com um parque industrial diversificado nos setores siderúrgico, metalúrgico, automobilístico, químico, farmacêutico e alimentício, uma indústria de turismo com grande potencial, além de um ambiente bastante favorável à inovação, com universidades, centros de pesquisas, incubadoras, grandes empresas e profissionais altamente qualificados.

O que falta ao estado do Rio de Janeiro são gestores públicos sérios, competentes e comprometidos em resolver os problemas que há anos afligem nossa população; que tenham pulso firme para combater a criminalidade e a corrupção que se alastram pelo estado; que se empenhem verdadeiramente pela atração de mais investimentos que gerem oportunidades para gente como Dona Janete. O Rio precisa dar um basta aos políticos que só pensam em encher os bolsos de dinheiro. Muito em breve a população terá mais uma chance de fazer sua escolha e mudar esse cenário.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Infelizmente, acho que esse problema não é apenas do Rio de Janeiro, mas do Brasil…basta vermos quais as preferencias dos eleitores para a presidência. O eleitor brasileiro, em sua maioria, não se satisfaz em escolher péssimos governantes e péssimos parlamentares eventualmente, mas INSISTE em manter os mesmos no Poder para sempre ao invés de colocar novos candidatos com novas idéias para substituir os que já provaram serem completos erros administrativos e morais…e depois reclamam que as coisas não mudam, mas COMO vão mudar elegendo sempre os mesmos?

  2. para mim, Populismo também é só falar da pobreza e da insustentabilidade quando é favorável. Como bem colocado não é de hoje, é de sempre. Parafraseando o filme, quanto valemos ou somos medidos pelo peso? Cadê a governança pública, a assistência social e demais braços voltados para não permitir que nem ao menos uma pessoa chegue a esses níveis de vulnerabilidade? E outra, geração de emprego vai “salvar” cada vez menos pessoas conforme o tempo. Pois hoje, quase todo mundo precisa ter experiência e uma atrativa formação acadêmica ou em cursos. Sarava o pseudo empreendedorismo, subemprego e trabalhar nas ruas.

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