Esta semana, a Prefeitura do Rio anunciou que está prorrogando a intervenção no sistema BRT por mais seis meses, um prazo que acredita ser necessário para reabrir mais 46 estações e recuperar a sua frota. A justificativa para tal ação, que começou em março passado, é melhorar o atendimento à população, um serviço que, na verdade, começou mal e nunca funcionou adequadamente.
Aliás, sejamos justos, a má qualidade dos serviços prestados não é uma exclusividade do sistema BRT. Temos acompanhado os graves problemas com os diversos meios de transportes na cidade, sejam na esfera municipal ou estadual. Quem nunca esperou debaixo de sol quente por uma condução, que circula superlotada e sem refrigeração? Ou precisou descer no meio do caminho para o trabalho por conta do descarrilamento do trem? São problemas que se arrastam há décadas por total falta de planejamento e fiscalização, desorganização, corrupção, incapacidade e ausência do poder público, causando enormes prejuízos à população.
Um dos problemas mais antigos está relacionado a empresas de ônibus urbanos, que nos últimos anos se beneficiaram com esquemas de corrupção envolvendo agentes públicos, que as permitiram continuar, sem punição, oferecendo serviços precários aos usuários. A corrupção atingiu em cheio também o BRT, com um ex-gestor sendo preso e condenado por irregularidades nas obras dos corredores expressos de ônibus; a linha 4 do Metrô (Zona Sul-Barra da Tijuca), cujas fraudes custaram mais de R$ 3 bilhões aos cofres estaduais, e que até hoje está longe de atingir a previsão de demanda de 300 mil usuários por dia; e o canteiro da estação Gávea do Metrô, abandonada e inundada há seis anos, que precisa de reparos, pois apresenta risco de afundamento, com potencial de dano para a região.
E se o setor de transportes coletivos já estava mal das pernas, a pandemia da Covid-19 só fez piorar a crise na mobilidade urbana do Rio. Empresas de ônibus reduziram suas frotas ou fecharam as portas definitivamente; e a Supervia, concessionária dos trens urbanos, entrou em junho com pedido de recuperação judicial, a fim de dar continuidade aos serviços enquanto negocia com os credores e com o governo uma maneira de superar a crise financeira. São problemas que só se multiplicam no dia a dia do carioca.
O aumento da criminalidade também está contribuindo para a degradação dos transportes públicos. Na semana passada, assistimos aos violentos ataques ao transporte alternativo na Zona Oeste do Rio, numa guerra infindável entre grupos rivais de milicianos que brigam pelo controle das vans e kombis na região. Não podemos esquecer da depredação de várias estações do BRT e do fechamento de todo o corredor do sistema, entre Campo Grande e Santa Cruz, por conta do vandalismo e da ação do tráfico.
Em meio ao caos urbano está o passageiro que, segundo estudo feito pelo aplicativo de mobilidade Moovit, 11% deles perdem mais de duas horas diárias nos trajetos entre casa e trabalho. É a pior avaliação da mobilidade urbana do Brasil. Enfrentam transportes superlotados e precários, muitos sem refrigeração e com atrasos constantes, além do risco de assaltos. E o pior de tudo, se é que podemos avaliar assim, sem o necessário distanciamento social para evitar contágio de Covid-19.
É importante destacar que, por mais que pareça impossível encontrar uma saída para tamanho caos, existem sim soluções viáveis.Temos que aprimorar a integração entre os modais para reduzir custos tarifários e agilizar o deslocamento, aumentar a oferta de meios de transportes em regiões menos favorecidas, aprimorar a bilhetagem eletrônica, a fim de conhecer os custos e receitas de cada modal, garantindo mais transparência nas operações, entre outras propostas. Não podemos deixar de lado tampouco a segurança nos transportes para evitar situações absurdas ditadas pelo crime organizado, que já dominou territorialmente várias áreas da cidade. É preciso que as autoridades dêem uma resposta firme e urgente ao problema para que os moradores recuperem sua liberdade.
A pauta é bastante complexa, mas estamos seguros que os problemas têm solução. É preciso esforço e coragem para superar os desafios, que não são poucos, nem fáceis; e assumir um compromisso sério com a população para enfim oferecer um serviço de boa qualidade ao cidadão fluminense.
O artigo é muito bom!
O metrô da cidade do Rio de Janeiro não se desenvolveu por causa dos donos de companhias de ônibus que molhavam a mão do prefeito e governador.(Principalmente de 1999 até 2015)
Foram 16 anos molhando a mão das autoridades.
Mas na época do sergio cabral e eduardo paes beirava ao absurdo.
No lugar de BRT era para ser feito metrô de superfície ou até um trem de superfície.
O metrô subterrâneo realmente é muito caro e seria inviável.
Mas o Eduardo Paes e o Sérgio Cabral receberam muita propina dos donos de companhias de ônibus para colocar este BRT.