A Reserva Biológica Estadual de Araras, localizada em Petrópolis, celebrou neste final de semana a reintrodução de uma fêmea de Leopardus guttulus, popularmente conhecido como gato-do-mato-pequeno, uma espécie ameaçada de extinção e crucial para o equilíbrio ecológico da região. A soltura, realizada no sábado (30/11), marcou o fim de um processo de nove meses de reabilitação do animal, resgatado ainda filhote em condições de extrema fragilidade.
O felino foi encontrado em fevereiro deste ano na horta de uma residência localizada na zona de amortecimento da unidade de conservação. Com poucos meses de vida, estava abaixo do peso e apresentava sinais de debilidade. Após ser resgatada pela equipe da reserva, a filhote foi encaminhada para tratamento veterinário especializado.
“Devolver animais silvestres às florestas é sempre uma alegria, especialmente em casos como este, que envolvem espécies ameaçadas. Este retorno ao habitat natural é fundamental para a preservação da biodiversidade”, destacou Bernardo Rossi, secretário de ambiente e sustentabilidade, que enfatizou o trabalho conjunto dos profissionais do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e de outras instituições envolvidas.
Processo de recuperação e reabilitação
A soltura foi acompanhada por profissionais do Inea e pelo diretor de biodiversidade, áreas protegidas e ecossistemas, Cleber Ferreira, que destacou os cuidados realizados durante o tratamento. “Antes de ser liberada, a felina passou por exames clínicos rigorosos que confirmaram sua recuperação total. Hoje, ela está saudável e pronta para retomar seu papel no ecossistema”, afirmou Ferreira.
O processo de reabilitação incluiu uma fase inicial de cuidados na clínica veterinária Estácio de Sá, em Petrópolis, sob a supervisão do veterinário Felipe Facklam. Posteriormente, a filhote foi transferida para o Centro de Recuperação de Animais Silvestres (CRAS) da UNESA, em Vargem Grande, onde ficou por três meses. Após estabilização, foi enviada ao CRAS da Eletronuclear, uma referência no tratamento e reintegração de animais silvestres, onde completou sua recuperação.
Durante o tratamento, a felina foi diagnosticada com Hepatozoon spp., uma infecção transmitida por carrapatos. A condição, identificada por exames clínicos e moleculares, exigiu atenção especial. O caso chamou a atenção por ser o primeiro registro documentado da infecção em um exemplar de gato-do-mato-pequeno. “Este achado reforça a importância do diagnóstico precoce e do uso de técnicas avançadas para o manejo de doenças em populações de felinos silvestres”, explicou Ferreira.
Reintrodução planejada e monitoramento contínuo
A soltura ocorreu na trilha do Caneco, uma área preservada da reserva, cuidadosamente escolhida por oferecer condições ambientais favoráveis à espécie. O local é monitorado regularmente por armadilhas fotográficas, permitindo o acompanhamento da fauna local e a análise do comportamento do felino após a reintrodução.
Antes da soltura, o animal participou de um programa intensivo de reabilitação para reaprender habilidades essenciais, como caça e autoproteção, além de recuperar seus instintos naturais. O processo foi acompanhado pelos guarda-parques Vanessa Cabral e Renato Sampaio, que contribuíram com informações valiosas para a pesquisa científica e a educação ambiental.
“A reintrodução bem-sucedida deste indivíduo reforça a importância de esforços conjuntos para a conservação da biodiversidade e a proteção de espécies ameaçadas”, destacou o presidente do Inea, Renato Jordão, enfatizando o compromisso da instituição com a preservação da fauna silvestre e com estratégias integradas de conservação.
Importância da Reserva Biológica Estadual de Araras
Criada em 1977, a Reserva Biológica Estadual de Araras é composta majoritariamente por florestas em diferentes estágios de regeneração, oferecendo habitats variados que favorecem a sobrevivência do gato-do-mato-pequeno e outras espécies. A área é parte de um corredor ecológico entre a Serra dos Órgãos e a Serra do Tinguá, essencial para a conectividade das populações de animais silvestres.
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