Gontijo: As palavras e as modas

Paulo Gontijo conta histórias de família para criticar a pronomização da política, a necessidade de escolher os pronomes e as palavras que saem de moda

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Foto de Markus Winkler/Pexels

Foi no verão da empatia, lá por volta de 2011. Em uma discussão no Facebook percebi que, tal como a calça saruel, as palavras também tinham suas estações. Mesmo na faculdade de letras, o uso das palavras no tempo não era um objeto de estudo que me chamasse tanto a atenção quanto hoje. Agora não consigo mais evitar. Frequentemente me sinto um voyeur dos modismos alheios, observando à distância os usos mais variados e por vezes tortuosos das palavras; e o quanto a escolha delas diz muito sobre o tempo em que vivemos.

Pronomes, por exemplo, se tornaram uma trincheira de batalha política, cada vez mais incorporada no mundo do trabalho. Com frequência crescente e-mails contêm a identificação “meus pronomes são…”. Confesso que, como um ser do século passado, nunca me ocorreu poder escolher meus pronomes. Uma vez resolvi dizer que não gostava do meu nome para o meu pai. Ele desconversou e ficou por isso mesmo. Ir ao cartório ia ser trabalhoso. Enfim, em paz com o Paulo que me deram, sigo intrigado com a “pronomização” da política. Gostaria de ir mais fundo no problema, mas me falta “lugar de fala”, esse conceito que podia ser substituído por legitimidade sem que nosso cardápio linguístico perdesse nutrientes. Sigo, então, com os pronomes que me foram dados lá na gramática do Celso Cunha.

É importante dizer que nem só de política vivem as palavras da moda. Assim como um “Game of Thrones” linguístico, palavras cotidianas vão sendo decapitadas dando lugar aos sucessores de outros clãs. “Foda” já foi “irado”, que já foi “maneiro”, que já foi “bacana”, que na temporada original era “supimpa”. Na verdade, “foda” é uma daquelas palavras que pode significar duas coisas completamente diferentes: aquela conjunção carnal (que pode até ter sido ruim) e aquele adjetivo de carioquice (um filme foda, por exemplo). Mas só no Brasil mesmo para inventarmos de dar à mesma palavra significados opostos. Quem aqui nunca teve que diferenciar “sinistro bom” de “sinistro ruim”?

Inspirado pela retumbante vitória do meu Fluminense, passo enfim aos modismos futebolísticos. Meu avô, de quem herdei o nome (e os pronomes) era da época em que futebol podia ser ludopédio. Em que jogador era bom ou ruim, craque ou perna de pau, mas jamais diferenciado. Craque era suficiente, não precisava ter virado pica. Aliás, quando sobe na vida, vira “das galáxias”.  Assim como as pizzas de strogonoff e a Batata de Marechal, a gente gosta mesmo é de pecar pelo exagero nas palavras. Se você não tanka muito esses modismos e acha isso tudo muito cringe, saiba que, assim como estantes da Zara, esse bagulho fica mais doido 8 estações por ano.

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