Gualín do TTK: conheça a segunda ‘língua’ da cidade do Rio de Janeiro

‘Língua do TTK’, ou ‘Gualín do TTK’, é uma linguagem criada pelos moradores dos bairros do Catete, Glória e Lapa na década de 60, contra a ditadura militar. Atualmente, o ‘idioma’ ainda é falado e se tornou parte da cultura urbana carioca

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Bairro do Catete - Foto: DIÁRIO DO RIO/Daniel Martins

As gírias cariocas e o sotaque carregado fazem com que os moradores do Rio de Janeiro sejam reconhecidos em qualquer parte do Brasil. Mas, você sabia que além do português brasileiro, a Cidade Maravilhosa possui uma segunda “língua”? Conhecida como “Gualín do TTK” ou Língua do TTK”, a linguagem é própria do bairro do Catete, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

História

O “idioma” foi criado na década de 60, dentro do triângulo KGL (Catete-Glória-Lapa), e surgiu contra a censura da Ditadura Militar, que controlava o país na época. Ao DIÁRIO DO RIO, Felipe da Silva Vital, especialista em linguística e pesquisador na área de morfologia e fonologia das línguas naturais, contou que, no início, a linguagem surgiu com o objetivo de “criptografar” uma mensagem na comunicação feita entre pessoas contrárias à ditadura militar.

Ouvir uma frase em TTK pela primeira vez pode causar estranheza, pois parece um idioma diferente. Mas, na verdade, a língua está em Português, apenas as sílabas que estão de “trás pra frente”.


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IMG 4570 Gualín do TTK: conheça a segunda 'língua' da cidade do Rio de Janeiro
Lapa é um dos principais polos gastronômicos do Rio – Foto Cleomir Tavares/Diário do Rio

Porém, com o afrouxamento da repressão e a ascensão do hip hop e do skate nos anos 80, passou a ser um instrumento de representatividade e símbolo de pertencimento. A linguagem se transformou após o período agressivo e ganhou um novo significado.

Felipe Vital conta que a língua vem recebendo, atráves da música, uma nova visibilidade nas redes sociais. “Na ‘Era da internet’, sobretudo na figura de Filipe Ret, com a galera do RAP, a Gualín do TTK passou a ter uma visibilidade para além dos limites do KGL potencializada pelas exposições nas redes sociais. De uma maneira geral, a Linguagem do TTK não pode ser definida como ‘isso’ ou ‘aquilo’ ou ‘serviu pra isso x serviu para aquilo’. Ela se mistura à história do Catete, Glória e Lapa, sob determinados fatores sociais e históricos, ela sobrevive como uma forma de simbolizar os falantes e a ‘cultura KGL”, afirma Vital ao DIÁRIO DO RIO.

Em 2021, a Amazon Music lançou um minidocumentário “Tributo ao TTK”, com a participação de rappers que contam os impactos da linguagem na cultura urbana carioca. O documentário teve a direção criativa do rapper Filipe Ret e para complementar a produção, Ret também lançou a música Tributo ao TTK, ao lado dos músicos BK, Sain, Mãolee, DJ Erik Skratch e 2Nunaip.  

TTK no Engenho da Rainha

Além dos bairros Catete, Glória e Lapa, outras áreas criaram suas “variações da língua do TTK”. De acordo com o pesquisador Felipe Vital, a popularização da linguagem criou o “TTK do Engenho da Rainha”, no bairro da Zona Norte do Rio.

“Existe uma variante da Gualin do TTK que se diferencia da ‘variante padrão do KGL’ por uma característica bem interessante. Na variante do engenho da rainha, palavras monossilábicas do português (como ‘gol’ e ‘sal’) podem sofrer inversão, enquanto na variante padrão do KGL os monossílabos são proibidos de servirem como base para inversão”, diz Felipe Vital.

Felipe Vital ainda diz que do ponto de vista linguístico é fascinante ver como os falantes utilizam de conhecimentos linguísticos sobre o próprio português para operarem em TTK.

“Todo falante de uma língua tende a conhecer tanto esta língua, que consegue até transformá-la, dissimulá-la, brincar com ela. É bonito ver como a sílaba parece ser algo extremamente relevante para o acesso mental à mensagem em TTK e à recuperação do sentido do que está sendo dito. Parece que a manutenção da estrutura da sílaba como da palavra base em português é essencial para esta operação, por exemplo: a palavra casa se transforma em zacá. Note que as sílabas ‘ca’ e ‘as’ da palavra original mantiveram-se intactas quanto à pronúncia na inversão ‘zacá”, conclui Felipe da Silva Vital.

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10 COMENTÁRIOS

  1. Só muita imaginação pensar que este TTK fosse capaz de esconder uma mensagem. Ela não resiste a um simples olhar mais acurado. Perda de tempo.

  2. Bom dia!
    Desinformação da esquerda! Nunca houve ditadura no Brasil! Os brasileiros não querem liberdade, querem libertinagem! Regime militar é uma coisa, ditadura é outra totalmente diferente!!!

  3. Achei legal. Parece brincadeira dos tempos de criança. Mas nunca tinha ouvido falar. Que Rio profundo é esse de vidas e camadas a serem descobertas. Não havia nascido ainda nos tempos da ditadura, mas como saber senão por registros do que aconteceu não é mesmo? As pessoas não costumam falar.

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