O coronavírus atingiu em cheio o jeito carioca de ser. Isto não é pouco, afinal, se existe algo que o carioca se orgulha, é de sua reconhecida maneira de viver. Do modo como leva a vida, resolve seus problemas e principalmente, se relaciona. Não há “estrangeiro” que passe por essa terra que não se sinta em casa. Pessoas que nem tinham o hábito, acabam abraçando um estranho como se fosse um amigo. Alguns gostam tanto, tanto, dessa gente carioca, que se apaixonam e acabam ficando por aqui, adotando o Rio em seus corações e como lar.
Bem, vale lembrar como é o carioca, seja ele da Zona Sul ou da Norte, Centro ou da Oeste. Há variações? Sim, com certeza, porém, não na essência. O fato é que esse indivíduo, esse ser que encanta o mundo, possui uma maneira bem aconchegante de se relacionar. Quando sai para buscar um simples pão na padaria, ou para tomar seu café na lanchonete da esquina, ele brinca com o porteiro de seu prédio, troca uma prosa com o jornaleiro, cumprimenta o guarda de trânsito ou o verdinho da Cet-Rio, a senhorinha que passa sempre no mesmo horário, o ambulante que o chama de doutor, o gari que cuida da sua rua…. Quando chega ao seu destino ele já abraçou alguns amigos, apertou as mãos de outro tanto, deu dois beijinhos nas amigas, e convidou a galera toda com aquela tradicional frase: “passa lá em casa”.
Assim, é do carioca falar, sorrir, brincar, agradecer, ajudar, interagir…, coisas que esse vírus parece não gostar. Pelo COVDID-19 já não se pode mais dar dois beijinhos, abraçar ou apertar as mãos dos amigos. Quem quiser falar deve estar à uma boa distância. Assistir ao por do sol com a turma também não está recomendado, o café ou a boa conversa em uma mesa de bar ficou fora da programação. O passeio na praça ou no parque ficou complicado. Ao que parece, o forte deste tal coronavírus é o isolamento.
Entretanto, não tenho dúvidas, o carioca não irá mudar. Dará, sim, um tempo e um novo trato em seus modos. A alma e o jeito carioca de ser, porém, permanecerão. Este é um povo que sabe respeitar as diferenças, que mantém como melhor amigo alguém que torce pelo clube rival e que mesmo após uma acalorada discussão sobre futebol, acaba confraternizando numa roda de samba, ou outra diversão de sua preferência. Ele vai, com certeza, com a paciência e sua alma carioca, esperar a maré baixar, o vírus ser vencido e voltar para as ruas, praças, parques, praias, shoppings, teatros, cinemas… da cidade mais maravilhosa do mundo. Terá novo jeito? Novos hábitos? Sim, entretanto, jamais perderá o jeito carioca de ser. Continuará sendo este povo acolhedor, alegre, festivo e encantador. Para todos deixo um grande abraço, bem apertado. Em breve estaremos juntos novamente nas ruas, nas prças, nas praias… Até lá.
Esse era o Rio do meu tempo, na década de 1970 até inícios dos anos 1980… Hoje não existe mais.