HBO estreia série sobre tragédia do Bateau Mouche e impunidade no Brasil

A série Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça, que estreia nesta terça-feira na Max, investiga a tragédia de 1988 e o longo caminho da impunidade. A produção reúne depoimentos, arquivos e reconstituições dramáticas.

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Foto: HBO

Na noite de 31 de dezembro de 1988, o Bateau Mouche IV partiu da praia de Botafogo rumo a Copacabana com mais de 140 passageiros a bordo. O objetivo era oferecer uma experiência exclusiva de Réveillon em alto-mar, com ceia e música ao vivo. No entanto, a embarcação foi parada pela Capitania dos Portos por suspeita de superlotação e obrigada a retornar ao cais. Pouco depois, foi liberada novamente – e nunca chegou ao destino. Às 23h50, o barco afundou, vitimando 55 pessoas, entre elas a atriz Yara Amaral, que havia acabado de estrear na novela Fera Radical, da TV Globo.

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Agora, 36 anos depois, a tragédia é revisitada na série documental Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça, que estreia nesta terça-feira (18) na Max. Em três episódios, a produção dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra, mesmos criadores de Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez, investiga os erros, negligências e a impunidade que marcaram o caso.

“São décadas de impunidade. Inúmeros crimes aconteceram sucessivamente nessa história, que, infelizmente, não ficou no passado”, afirma Tatiana Issa, citando outras tragédias recentes no Brasil, como Brumadinho, Mariana e a Boate Kiss.

Investigação e impunidade

Dois laudos, um da Marinha e outro da Polícia Civil, apontaram que o Bateau Mouche IV estava superlotado e apresentava diversas irregularidades estruturais, incluindo furos no casco, escotilhas abertas e coletes salva-vidas inadequados. Os proprietários da empresa Bateau Mouche Rio Turismo, os espanhóis Faustino Puertas Vidal e Avelino Rivera, além do português Álvaro Costa, foram condenados em 1993 por homicídio culposo, sonegação e formação de quadrilha, com pena de quatro anos em regime semiaberto. Em 1994, fugiram para a Europa e nunca cumpriram a sentença.

A produção aponta ainda outros responsáveis pela tragédia, incluindo a Marinha, que liberou a embarcação mesmo com questionamentos sobre sua segurança. O barco, que tinha permissão para transportar 28 passageiros, recebeu uma autorização ampliada para 153 pessoas, sem justificativa oficial. A Marinha foi convidada a dar sua versão na série, mas recusou participação.

“Por décadas, muitas pessoas buscaram justiça, e isso não aconteceu”, afirma Guto Barra, diretor da série.

Depoimentos e reconstituições impactantes

A produção combina entrevistas com sobreviventes, documentos inéditos e reconstituições dramáticas da tragédia. Devido à falta de imagens de arquivo do barco no dia do acidente, cenas foram filmadas em um tanque de ondas no Rio de Janeiro, recriando os momentos de desespero dos passageiros.

Entre os depoimentos mais emocionantes está o de Bernardo Amaral, filho da atriz Yara Amaral, que perdeu a mãe e a avó no naufrágio. Aos 18 anos, ele criou uma instituição para apoiar familiares das vítimas. Hoje, aos 52 anos, espera que a série sirva para conscientizar sobre falhas do sistema judiciário brasileiro.

“A série será uma ferramenta para discutir o Judiciário e o processo de responsabilização. Um naufrágio moral não pode ficar impune”, afirma Bernardo Amaral.

Um novo olhar para o true crime

O documentário faz parte da estratégia da Warner Bros. Discovery de expandir o gênero true crime para além de histórias de assassinatos, explorando casos emblemáticos de impunidade no Brasil.

“Estamos deixando o que era clássico no gênero – sangue, crimes e assassinos – para contar um evento com rigor jornalístico”, explica Patricio Diaz, gerente sênior de produção da Warner.

A diretora Adriana Cechetti reforça que o objetivo da empresa é produzir séries que gerem debate público e impacto social. “Queremos contar histórias que ainda refletem no presente e que tragam um efeito positivo para os envolvidos”, afirma.

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