Uma valiosa coleção de 850 mil amostras de plantas, desidratadas, registradas, catalogadas e armazenadas em condições especiais, que reúnem informações de extrema importância sobre a biodiversidade mundial está em exposta no Herbário do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio. O acervo, que é o maior da América do Sul, está entre os 100 maiores do mundo e serve de referência para estudos científicos em botânica. No mês em que completa 131 anos, a instituição torna pública a sua amostra mais antiga, coletada há 254 anos.
Pertencente à família Lycopodiaceae (semelhante à samambaia), foi coletada, no Estreito de Magalhães, localizado no extremo sul da América do Sul, entre novembro e dezembro de 1767, e deu a volta ao mundo até chegar ao Rio de Janeiro possivelmente pelas mãos da princesa Leopoldina.
Segundo a curadora do herbário do JBRJ, Rafaela Forzza, a planta foi coletada pelo naturalista Philibert Commerson, cuja expedição passou pelas ilhas de Java, Madagascar e Maurício, onde morreu, sem conseguir organizar todas as coletas, até ser levada para Paris.
“As coletas foram organizadas por Jeanne Barré, assistente de Commerson, que o acompanhou na viagem disfarçada de homem. Foi ela quem levou as amostras para Paris. Esta amostra chegou ao herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro graças à doação de D. Pedro II ao então diretor João Barbosa Rodrigues para a criação do herbário, em junho de 1890. Conta-se que a princesa Leopoldina a tenha trazido para o Brasil, mas não temos esse registro aqui“, conta a pesquisadora.
Conhecer para preservar. Essa é a missão dos herbários, considerados museus científicos que abrigam amostras de plantas, chamadas exsicatas, devidamente identificadas e catalogadas. Exsicata é uma amostra de planta trazida do campo pelo botânico que é prensada, seca em estufa, com temperatura de 70 graus Celsius, e, posteriormente, fixada em uma cartolina especial, acompanhada de uma etiqueta contendo informações sobre o vegetal, coletor, identificador do material, data de coleta e local, para fins de estudos nas áreas de botânica. Atuam como bancos de informações sobre a flora, e são indispensáveis para a identificação científica de plantas para distintos pesquisadores.
“Se for bem cuidada e preservada no acervo, a amostra pode durar centenas de anos. Depois de montada, os dados e imagens são incluídos no nosso banco de dados, o Jabot, que é um sistema de gerenciamento de coleções científicas depositadas em herbários e redes laboratoriais de instituições de pesquisas botânicas e das coleções vivas dos jardins botânicos. A amostra ganha um código de barras para ser digitalizada. O acervo do herbário do Jardim Botânico está em constante crescimento devido à inclusão diária de novas amostras. Aqui trabalhamos para conhecer e conservar a flora brasileira“, afirma Rafaela Forzza, ressaltando que, além da coleção de exsicatas, o herbário do JBRJ também reúne amostras de frutos (carpoteca), madeiras (xiloteca), coleção em meio líquido, bancos de DNA, tecidos e sementes, coleção micológica e etnobotânica.
O acervo do herbário do JBRJ conta com amostras de diversas partes do mundo e, principalmente, de todo o território nacional. O Rio de Janeiro é o estado com o maior número de espécimes (210 mil), e a Mata Atlântica, o domínio mais bem representado. A informatização do acervo foi iniciada em 2005, com o estabelecimento do sistema institucional Jabot (Jabot – Consulta). A coleção é consultada por pesquisadores de todo o Brasil e outros países.