Fisicamente, o Morro do Castelo não existe mais. No entanto é impossível contar a história do Rio de Janeiro sem cita-lo. Foi praticamente por lá que tudo começou e o término do local está ligado a diversos pontos marcantes da memória da cidade.
Em 1567, dois anos após ser fundada a cidade de São Sebastião (no morro Cara de Cão), o Rio de Janeiro foi reinstalado após a expulsão dos franceses. A área escolhida para erguer de fato a cidade foi o então denominado Morro do Descanso – que também foi chamado de Alto da Sé, Alto de São Sebastião e depois Morro do Castelo.
A escolha se deu pois o morro ficava de frente à ilha de Villegagnon – onde os franceses se encontravam. Assim era possível estruturar uma defensiva mais firme em caso de novas tentativas de invasão, até porque, do local se via a Baía da Guanabara, porta de entrada da cidade.
O Rio de Janeiro, murado e fortificado, erguido no Morro do Castelo contava com prédios como a Casa da Câmara e a da Cadeia, a Casa do Governador, Colégio dos Jesuítas, os Armazéns, e também as Igreja dos Jesuítas e a Igreja de São Sebastião, onde foi instalada a primeira Sé Catedral da cidade, e junto à qual estava o marco de pedra da fundação da cidade, trazido do primitivo estabelecimento no sopé do Morro Cara de Cão, assim como os restos mortais do fundador do Rio, Estácio de Sá.
A cidade se desenvolveu bastante no Morro do Castelo e as pessoas tiveram que ocupar regiões vizinhas, como áreas planas que ficavam entre outros três morros vizinhos: de São Bento, de Santo Antônio e da Conceição. Esses lugares eram chamados de “várzea” e limitavam o Rio de Janeiro no período colonial.
Embora tenha sido fundamental para o surgimento do Rio de Janeiro, os planos de derrubar o Morro do Castelo eram antigos. No reinado de Dom João VI, quando a cidade já estava estabelecida “no chão”, se falava nos problemas que o Morro poderia causar ao restante do município. Entre os citados estavam a dificuldade da circulação de ventos e o impedimento do livre escoamento das águas.
Em 1838, os engenheiros militares Conrado Niemeyer e Pedro Bellegarde escreveram em um projeto que pregava o desmonte do Morro: “Edifícios nobres deverão um dia substituir aquele morro; e o navegante que demandar o importante porto capital do Brasil receberá na sua entrada a agradável impressão da vista de toda a cidade, até hoje encoberta a seus olhos pela massa informe do mesmo morro”.
Após pequenas derrubadas para a realização de aterros em algumas partes da cidade, o Morro do Castelo foi completamente devastado em 1921, pelo prefeito Carlos Sampaio.
O prefeito, que foi duramente criticado por alguns intelectuais da época, argumentava que o espaço, repleto de velhos casarões e cortiços, era ruim para a saúde pública da população. Além do mais, várias obras estavam sendo realizadas no centro da cidade para a montagem da Exposição Comemorativa do Centenário da Independência do Brasil e a saída do morro se fazia necessária nos planos da gestão de Sampaio.
Mauricio de Abreu no livro “Evolução Urbana do Rio de Janeiro” destaca que o Rio iria receber muitos turistas na comemoração do 1º Centenário da Independência do Brasil e por isso foi preciso correr contra o tempo e realizar essa reforma.
A medida gerou tanta repercussão que o prefeito Carlos Sampaio chegou a escrever um livro no qual apresentou seu ponto de vista justificando empréstimos e outras negociações que envolveram o arrasamento do morro do Castelo.
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A Sergio Castro Imóveis é uma empresa que valoriza as obras que respeitam a história do Rio de Janeiro e ajudam no crescimento da nossa cidade.
No livro “Era uma vez o Morro do Castelo”, Marly Silva da Motta diz: “Boa parte da argumentação dos higienistas sacrílegos (em especial, Carlos Sampaio) se sustentava na evocação dos malefícios provocados pelo infecto monturo; e nos relatórios do século XVIII, denunciando a falta de ventilação, a umidade e os miasmas febrígeros (sujeiras de odor forte); e nas famosas águas do monte, terríveis enchentes que assolaram a cidade em fevereiro de 1811, provocadas, em grande parte, pela lama que descera do Castelo. O telegrama de Belisário Pena, figura luminar da saúde pública, nacionalmente conhecido por sua atuação na profilaxia rural, parabenizando (Carlos) Sampaio pelo decreto de 17/08/1920, era a prova científica da necessidade de eliminar aquele quisto de terra vermelha. Ou, como dizia a imprensa, aquele tumor infeccionado que obstruía o seio do Rio e ameaçava contaminar a cidade”.
“Naquele morro, testemunho ativo da história, nasceu a cidade. Ironicamente apaga-se essa memória em favor de um urbanismo moderno. Mas se analisarmos os reais motivos, passaremos a compartilhar da opinião dos realizadores da obra ‘Era uma vez o Morro do Castelo’ que reivindicam para aquele lugar o resgate do seu valor histórico e um justo reconhecimento do flagrante desrespeito com a memória nacional. Em torno de dois anos ( de 1920 a 1922 ) conclui o arrasamento, ao meu ver, não só do espaço geográfico daquele sítio como também, de todo o testemunho arquitetônico e artístico daquele local.” disse Carlos Jorge de Souza no texto “História da urbanização da cidade do Rio de Janeiro”.
As terras do Morro do Castelo foram usadas para servir como base para parte da Urca, da Lagoa Rodrigo de Freitas, do Jardim Botânico e outras áreas baixas ao redor da Baía da Guanabara, entre elas a região que hoje abriga o aeroporto Santos Dummont.
“Era a primeira vez que as duas iam ao Morro do Castelo. Começaram de subir pelo lado da Rua do Carmo. Muita gente há no Rio de Janeiro que nunca lá foi, muita haverá morrido, muita mais nascerá e morrerá sem lá pôr os pés.” Escreveu Machado de Assis no livro Esaú e Jacó, lançado em 1904 , quase uma década antes da demolição plena do morro.
Que horrível ler comentários de pessoas que proferem comentários criminosos defensores de ditadura. Deve ser mais um daqueles que invadiram, quebraram e causaram prejuízo de milhões de reais por não se conformarem que o seu candidato ex-militar defenestrado do exército por insubordinação e muito citada a frase do ex-ditador general Ernesto Geisel (1907-1996), que chamou o inelegível de “um mau militar”.
Os moradores do antigo morro do Castelo, foram removidos para uma antiga fazenda de café que pertenceu aos franceses (Irmãos Borel). Surge no Rio o Morro do Borel.
Resolveram um problema de fezes e sugeira, demolindo um dos símbolos de arquitetura e da História do Rio de Janeiro?
Eu já conhecia a conhecia a história do Morro do Castelo. Tenho um livro chamado “Rio de Janeiro. O Cotidiano Carioca no Início do Século XX” de Alberto A Cohen e Samuel Gorberg. Um livro Maravilhoso! Cheios de fotografias do início do século passado. E realmente essa história tem muito descaso envolvido. Numa época em que as diversões eram de acontecimentos como inaugurações e visitas de chefes de Estado de outros países, o governador na época, inclusive disse que o Rio estava muito miscigenado e já era a hora de higienizar a cidade acabando com o Morro do Castelo. E seus habitantes foram jogados pra outro bairro em barracos de madeira sem nenhuma infraestrutura. Amei essa matéria. Acrescentou muito mais ainda o que eu já tinha lido.
Gostei muito dessa matéria. Trabalho no único prédio daquela época, ainda existente.
Na primeira foto ali aparece os fundos da Santa Casa De misericórdia Do Rio de Janeiro . A chaminé vista ali ainda está de pé. Uma das subidas do morro do Castelo lá está preservada.
Parabéns pelo material que você publica.
Gostaria de saber se você tem a fonte bibliográfica desse informação abaixo.
Em 1838, os engenheiros militares Conrado Niemeyer e Pedro Bellegarde escreveram em um projeto que pregava o desmonte do Morro: “Edifícios nobres deverão um dia substituir aquele morro; e o navegante que demandar o importante porto capital do Brasil receberá na sua entrada a agradável impressão da vista de toda a cidade, até hoje encoberta a seus olhos pela massa informe do mesmo morro”.
Wagner, vc é o típico imbecil-mor.
Faz o discurso choroso (e copiado) dos que, assim como você, procuram desesperadamente uma justificativa pro seu voto perdido.
Uma vez coxinha, sempre coxinha.
Parabéns pela matéria, bem sucinta,mas que esclarece os dois lados da demolição do Morro do Castelo, local repleto de valor histórico e cultural. Independente e muito mais importante do que o julgamento da demolição do Morro do Castelo é resgatar a história da nossa cidade, que se confunde com a história do Brasil.
Muito bom conhecer essa importante passagem da história carioca. As pessoas passam por lá diariamente e nem se dão conta da riqueza histórica por onde estão pisando. Cidade repleta de lugares históricos, mas pouco aproveitado culturalmente.
Cidade linda, onde nasci em 1963. Um ano depois, em Abril de 64 chega ao Brasil a ditadura que obrigou os meus jovens pais, emigrantes portugueses de Lisboa, a regressar.
Nunca fui ao Brasil, nunca regressei à minha terra mas sinto-a tão minha como se pisasse o chão do Rio todos os dias, como se de lá nunca me tivesse vindo embora, há 55 anos. No meu coração, Brasil sempre.
Assim q vc puder, vem ao Rio de janeiro! Q continua lindo, apesar de tudo q passa.
Vc vai gostar.
Jáder, a “ditadura” foi uma necessidade. O que aconteceu aqui na PSEUDODEMOCRACIA iniciada em 1985 foi muito pior e arrasou com o país. Venha ver o Brasil agora, ele está a se reorganizar depois dos ratos petralhas saírem, mas ainda há muito a fazer.
É esse pensamento que destrói o Brasil, nenhuma ditadura é necessária! Quem dizia isso eram os alemães do nazismo, a democracia foi essencial, e foi nela que o brasil viveu seu novos dias de glória que haviam sido interrompidos, pela ditadura que destruiu famílias e pessoas inocentes, a comissão da verdade taí pra mostrar isso. Veja os gráficos dos anos 2000 e 2010, veja como era o PIB, o dólar e outras coisas daquela época, o brasil hoje esta à decair mais e mais, e culpar o PT não é a solução. E Jáder, venha ao Rio sim! as últimas reformas melhoraram e muito a cidade, depois que um viaduto foi derrubado a área do porto virou um centro cultural que prospera a cada ano, pode vir e não confie na imprensa, pois sempre exageram, apenas tome cuidado como em qualquer centro urbano e bem -vindo!
Concordo! Certamente, a que passou, foi muito tranquila, em relação às ditaduras em outros países.Como seria uma ditatura do proletariado no Brasil?
Estranha a EXPULSÃO de seus pais pelos militares brasileiros hein meu patrício… desculpa cá…
Sou português-brasileiro (registro em Lisboa e Rio), meus pais chegaram ao Brasil em 1955 e 1958, cá estão até hoje, com filhos e netos, já na quarta geração no país (meus avós que vieram para o Brasil já são falecidos).
Muitos portugueses retornaram simplesmente porque caiu Salazar, nada mais (este sim um déspota sanguinário) mas isso é em 1974, já bem longe de Março de 1964, nada a ver com a situação sócio-política brasileira, me perdoe!
PS.: Minha família de origem na classe trabalhadora nunca teve problema algum com o regime militar no Brasil (ao contrário de artistas, estudantes, pseudo intelectuais e afins…), tendo construído uma vida de sucesso com trabalho e honestidade, sem R$ 0,01 de dinheiro público no bolso (nunca até hoje, quase 70 anos após a chegada – só aposentados pelo INSS, nada de mamatas).
Não houve “ditadura” militar, Jáder. Deveria rever seus conhecimentos históricos. O povo exigiu ordem no país e pediu por meio de manifestações um governo exercido por militares, considerados bons cidadãos e democratas. O término do Regime Militar foi a decepção que tivemos até 2018, previsto pelo último Presidente militar General João Figueiredo que disse que nos arrependeríamos muito em apoiar daquela forma a transição para o sistema eleitoral que deu entrada a corrupção no Brasil.
Concordo, tenho 79 anos a “ditadura” comecou em 64. Eu tinha entre 18/19 anos. Não perdi um dia da minha vida: estudei, casei, trabalhei, sem problema algum. Hoje sou uma aposentada tranquila, apesar de estar passando por uma, essa sim, ditadura democratica.
Adorei conhecer mais esse importante episódio da história do Rio de janeiro.