Maior acervo de obras lusitanas fora de Portugal, o Real Gabinete Português de Leitura tem quase dois séculos de riquíssimas memórias. Eleita uma das vinte bibliotecas mais bonitas do mundo, essa construção só poderia estar na Cidade Maravilhosa.
Em 1837, um grupo de 43 emigrantes portugueses reuniu-se na casa do Dr. António José Coelho Lousada, na antiga Rua Direita (hoje Primeiro de Março), nº 20, e resolveu criar uma biblioteca para ampliar os conhecimentos de seus sócios e dar oportunidade aos portugueses residentes no Brasil. Aí nasceu o Real Gabinete Português de Leitura.
O atraente prédio da atual sede do Gabinete foi projetado pelo arquiteto português Rafael da Silva e Castro e erguido entre 1880 e 1887. O estilo arquitetônico é o neomanuelino. Corrente que evoca o exuberante estilo gótico-renascentista vigente à época dos descobrimentos portugueses, denominado “manuelino” em Portugal por haver coincidido com o reinado de D. Manuel I (1495-1521).
Em 2014, o Real Gabinete Português de Leitura foi eleito pela revista Time uma das vinte bibliotecas mais bonitas do mundo. A lista inclui prédios históricos como a antiga biblioteca da Trinity College, em Dublin, a biblioteca de Alexandria, no Egito, a famosa biblioteca pública de Nova York, entre outros.
A fachada do prédio foi trabalhada por Germano José Salle em pedra de lioz em Lisboa e trazida de navio para o Rio de Janeiro. A inspiração da frente do edifício veio do Mosteiro dos Jerónimos de Lisboa.
As quatro estátuas que se encontram próximas ao Real Gabinete Português de Leitura são de: Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, Infante D. Henrique e Vasco da Gama. Os medalhões da fachada retratam, respectivamente, os escritores Fernão Lopes, Gil Vicente, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.
Aberta ao público desde 1900, a biblioteca do Real Gabinete possui cerca de 350 000 volumes, nacionais e estrangeiros. Encontram-se obras raras como um exemplar da edição “princeps” de Os Lusíadas de Camões (1572), as Ordenações de D. Manuel (1521), um manuscrito da comédia “Tu, só tu, puro amor” de Machado de Assis, e muitas outras obras.
Machado de Assis tem outra história que o liga ao Real Gabinete Português de Leitura. As cinco primeiras sessões solenes da Academia Brasileira de Letras, sob a presidência dele, foram realizadas na Biblioteca.
Bonito e cheio de conteúdo, o Real Gabinete Português de Leitura pode até ser uma casa portuguesa, com certeza, mas tem muito do Rio de Janeiro.