A música está diretamente ligada à história do Rio de Janeiro. Nessa liga, alguns gêneros musicais têm um vínculo ainda mais forte. Um deles é o samba e seus subgêneros, como o exaltação, tão presente nos desfiles de carnaval.
Há quem defenda que o momento mais emocionante de um desfile de uma escola de samba é o “esquenta”. Opiniões e exageros à parte é nessa hora que normalmente os sambas exaltação das agremiações são entoados e de fato é ali que a comunidade mostra sua força antes de pisar definitivamente na avenida.
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A Sergio Castro Imóveis admira criações que ajudam a formar a história da nossa Cidade Maravilhosa
Quando, no final dos anos 1920, as escolas de samba se organizaram como agremiações, o sentimento de rivalidade e paixão que já existia nas disputas anteriores de blocos, ranchos e cordões se avolumou. Com isso, letras que exaltavam o amor às escolas de samba passaram a fazer um sentido maior para as pessoas que estavam envolvidas nesses ambientes. Essa ideia se esticou pelas décadas e se mantém firme até hoje em dia. É comum notar nas quadras e barracões, torcedores das agremiações do Carnaval cantando seus hinos (os sambas de exaltação) como se estivessem em um estádio de futebol assistindo a uma final diante do maior rival.
O Samba Exaltação e Getúlio Vargas
A nomenclatura “samba-exaltação” surgiu em 1939. No entanto, a ideia de sambas que faziam menções honrosas a algo já existia desde o início da década de 1930, quando Getúlio Vargas se tornou presidente da República. Nesse período, os compositores passaram a escrever letras que exaltavam o Brasil e o governo. Também em 1939, Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Até então, o samba era voltado à malandragem. A partir daí, o governo investiu no uso da música como veículo de sua ideologia, principalmente de entusiasmo ao trabalho, chegando a distribuir verba para as escolas de samba para que abordassem temas de cunho patriótico em seus desfiles. Um dos maiores representantes desse gênero foi o compositor
Ary Barroso, que fez, em 1939, “Aquarela do Brasil”, considerado o primeiro samba-exaltação da história. Ary chegou a ser acusado de ter aceitado uma encomenda de Getúlio Vargas, devido a grande coincidência do conteúdo da música com o contexto vivido no momento. Barroso, que em meados dos anos 1940 chegou a ser eleito vereador do Rio de Janeiro pela UDN (União Democrática Nacional), que na época era oposição ao PTB de Vargas, se defendia dessa argumentação alegando que foi pura coincidência, que não escreveu nada a mando de ninguém.
Deixa Falar e A Primavera e a Revolução de Outubro
De todos os sambas e marchinhas ufanistas, uma canção se destacou. A escola de samba Deixa Falar, conhecida como a primeira do Brasil, desfilou em 1932 – ano que marcou o início do Carnaval com disputa de título entre as agremiações – com o enredo “A Primavera e a Revolução de Outubro”, uma clara homenagem a chegada de Vargas ao poder dois anos antes. Do samba que exaltava o país para o samba que exalta as escolas foi um caminho reto.
O historiador Claudio Russo, um dos pesquisadores da Comissão de Carnaval da Beija-Flor, diz como se deu esse processo: “Precisar exatamente a época e qual escola de samba começou é uma tarefa um tanto quanto difícil, mas podemos dizer que por muito tempo o samba-exaltação foi uma prática extremamente utilizada pelos compositores das escolas. Temos para posteridade grandes sambas como as composições de Candeia, Chico Santana e Paulinho da Viola, na Portela; Silas de Oliveira e Mano Décio, na Império Serrano, que nos deixaram tantas obras magnificas. Na Academia do Salgueiro, Geraldo Babão e Djalma cantarolavam seus sambas com a beleza de um Sabiá – desculpe o trocadilho. Na Estação Primeira, Cartola afirmava: ‘Muito velho, pobre velho vem subindo a ladeira com bengala na mão é o velho, velho Estácio. Vem visitar a Mangueira’… Isto nas quatro grandes escolas do passado. Se for me estender um pouco mais, em verde e branco ecoa a Rainha de Ramos, a Mocidade! Mas tenho certeza que a Beija-Flor está muito bem representada com ‘A Deusa da Passarela’, do Neguinho”.
Claudio ainda pontua que é preciso que haja uma mobilização para que diversos subgêneros do samba não se tornem apenas uma saudosa lembrança. “Acredito que a escola de samba deve ter muito mais que apenas o concurso de samba-enredo. Poderíamos semear este solo tão fértil de valores e talentos com festivais de sambas de quadra, de terreiro e principalmente sambas de exaltação nas tardes de sábado ou domingo, para que assim possamos fortificar e preservar as raízes do samba, o amor ao pavilhão e a história para as novas gerações”, disse o historiador.
O samba-exaltação é mais importante que o samba enredo
Monarco, um dos maiores nomes da história do samba e do carnaval, afirma com veemência a importância que o samba-exaltação tem para uma escola: “É mais importante que o samba-enredo. É um samba que sai do coração. O samba enredo é encomendando, vem de fora. O samba-exaltação vem de dentro. Óbvio que os dois são importantes, o de enredo e o de exaltação. Mas o de exaltação tem esse algo a mais, essa coisa de reforçar o amor à escola de samba. O samba-exaltação é uma coisa que não deve morrer” conta ele, que está na ala dos compositores da Portela desde 1950.
Outro baluarte do carnaval, Nelson Sargento, depois de frisar que os sambas exaltação são extremamente necessários para a manutenção da alma da festa, apontou seus prediletos: “Gosto dos que o Silas de Oliveira fez para a Império. Os do Salgueiro são ótimos. A Beija-Flor tem uns muito bonitos também”.
O samba-exaltação é o refrão que levanta o bloco
O samba-exaltação é o hino da escola
O assessor jurídico da Liesa, Ubiratan Guedes, também é um entusiasta dessa modalidade de samba. Ele reforça a atmosfera que cerca essas composições: “O samba-exaltação é aquilo que para a escola é o equivalente ao hino do time de futebol. É um hino que funciona como um chamado geral, que desperta a emoção da comunidade, que busca no interior de cada componente a força para se fazer um grande carnaval, ultrapassando, muitas vezes, limitações da agremiação. O ‘esquenta’, que realmente esquenta a emoção das pessoas, é fundamental. Se eu pudesse escolher entre um samba de anos anteriores ou um samba de exaltação, eu sempre escolheria o samba-exaltação, de esquenta, porque esse mexe com a sensibilidade mesmo. Todo mundo canta, todo mundo participa e a comunidade se inspira, fica mais energizada para desfilar” enfatiza o advogado.
O Rio de Janeiro e suas peculiaridades sempre devem ser exaltados.
Obrigada pela riqueza de informações sobre este tópico cultural que representa tão bem o Rio! Preciso muito das referências bibliográficas sobre os dados históricos, agradeço se puder passar de alguma forma ou publicar.