Hostilidade ambulante: Camelôs clandestinos ameaçam comerciantes no Centro

Com o retorno da fiscalização sobre a camelotagem ilegal que veio com a posse do novo subprefeito do Centro, Alberto Szafran, voltaram a ocorrer choques com os ambulantes revoltados com a aplicação da lei. Comerciantes são unânimes no sentido de que a economia do Centro precisa de ordenamento urbano

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Sapateiro usava vitrine de loja em shopping no Centro para expor os próprios produtos e teve a mercadoria apreendida

Em um dos pontos mais caros e valorizados do Centro do Rio, na Rua Sete de Setembro, lojistas passaram a sofrer ameaças de camelôs clandestinos, que passaram a ser finalmente retirados pelas autoridades municipais, após praticamente 6 anos de leniência da prefeitura com atividades irregulares e até criminosas – como a venda de mercadoria falsificada bem na cara da polícia, que em geral tem preferido olhar pro outro lado.

Desde a posse do novo subprefeito do Centro, Alberto Szafran, a subprefeitura do Centro voltou a ser vista trabalhando na região, e coibindo o caos urbano que tomou conta da cidade desde a posse do bispo Crivella como prefeito do Rio; o pastor saiu, mas a gestão Paes pareceu dormente na busca pelo ordenamento dos espaços públicos do Centro até recentemente. Agora, vendo o comércio regular falir por conta da concorrência desleal, ilegal e clandestina com a camelotagem irregular, a Prefeitura parece ter retomado o apreço pelo desenvolvimento econômico da região e, através do novo subprefeito volta a coibir irregularidades.

Um sapateiro (foto abaixo) atuava calmamente sentado bem na vitrine de uma loja comercial, espalhando seus materiais por vários metros da calcada, há pelo menos uns 5 anos, impedindo a visibilidade dos produtos do comércio regular e pagador de impostos, e até mesmo servindo de obstáculo para que os eventuais clientes vissem ou se aproximassem da vitrine. Na última terça-feira, numa operação de rotina, ele foi retirado do local pela Guarda Municipal, que, agindo de forma didática, não confiscou seu material que ilegalmente se distribuía por todo o logradouro público, dando-lhe a chance de exercer seu ofício em algum local permitido.

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Na quarta de manhã, o insistente ambulante retornou ao ponto, enfrentando as autoridades e a lei. A SEOP então foi ao local, e foi obrigada a confiscar todo o material irregularmente disposto na calçada, e novamente ordenou a saída do ambulante clandestino do local onde se encontrava. Reincidente, e com seu material finalmente apreendido apesar da chance que lhe foi dada pela Guarda, foi embora.

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Foi aí que uma retaliação começou. Minutos após, alguns homens entraram e abordaram funcionários da loja em cuja vitrine ficava o sapateiro, atrás do proprietário do estabelecimento, com estilete em punho e tomando satisfações, como se o ocorrido fosse culpa do lojista, e não da sua própria ilegalidade. “A galera do camelô de rua tá indo na loja ameaçar o pessoal. Chegaram lá de estilete, procurando o dono. Dizendo que na hora que ele aparecer, vão pegar ele”, contou uma testemunha ao DIÁRIO DO RIO. “É nesta hora que a gente conhece de verdade o tipo de máfia que está organizando a ocupação dos espaços públicos no Centro. Os espaços muitas vezes são repartidos entre bandidos e milicianos, que recebem uma espécie de aluguel do trecho ocupado por um camelô. Isso começou quando o Crivella abandonou o Centro.” explica o síndico de um prédio que fica bem próximo ao ocorrido. O sapateiro não teria participado da ameaça.

Comerciantes tradicionais do Centro Histórico também sentem medo. “A gente tem que fingir que não viu, pois senão sobra para quem paga impostos e abre as portas. Não pode confiar neles. Tem muito bandido ali”, relata uma empresária, que não se identificou por medo dos ambulantes. A empresária foi pontual: “os ambulantes queridos, aqueles que sempre existiram, são os que vendem artesanato, cuscuz, livros, milho verde; estes são velhos conhecidos e acabam se tornando amigos dos comerciantes, e não atrapalham em nada, são comuns em qualquer parte do mundo“, pontua, explicando que não consegue entender como é possível que se venda cargas roubadas, material falsificado ou que se preste serviços no meio da rua sentados na vitrine de alguém que paga funcionários, impostos, luz e água.

A camelotagem ilegal é um câncer no Centro Histórico, que se não for combatido agora, entra em estado de metástase. Muitas lojas fecham por conta da quantidade de camelôs que se instalam nas suas portas e vitrines vendendo, numa região de comércio popular, mercadoria parecida, com origem duvidosa e falsificada. Mais que retirar o ambulante irregular, é preciso ceifar seus depósitos de mercadoria. Apreender tudo e incinerar. Além disso, é preciso promover o bom ambulante, licenciado, que vende livros, artesanato, ou quitutes tradicionais, abraçando-o e treinando-o para que possa contribuir com o desenvolvimento do Centro. Tem camelô de cachorro quente em Nova Iorque; tem camelô de artesanato em Maputo; agora camelô vendendo pão de forma proveniente de carga roubada ou mercadoria de marcas falsificadas tem que ser combatido e a lei aplicada“, ensina Wilton Alves, diretor da Sergio Castro Imóveis, proprietária e administradora de diversas lojas na região.

Nas portas de lojas de departamento, muita concorrência desleal. Bolsas e cintos ocupam parte da calçada, bancas de jornais são usadas como depósito de material falsificado na Uruguaiana, e algumas bancas de camelôs chegam a tapar vitrines e letreiros de lojas que sofrem para se manter viáveis num Centro ainda esvaziado. Uma das rotinas fundamentais do expediente da Subprefeitura do Centro é a identificação do comércio irregular e o seu combate, prezando pelo ordenamento urbano. “Há situações alarmantes como o caso do sapateiro e a Subprefeitura, junto com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP), abordou o cidadão e apreendeu o material utilizado”, afirma o subprefeito do Centro, Alberto Szafran.

Uma semana antes, uma imensa banca com mais de 200 óculos de procedência duvidosa foi apreendida por ação da subprefeitura na mesma rua Sete de Setembro, onde servia de anteparo para a vitrine da loja M Martan.

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Formada em Comunicação Social desde 2004, com bacharelado em jornalismo, tem extensão de Jornalismo e Políticas Públicas pela UFRJ. É apaixonada por política e economia, coleciona experiências que vão desde jornais populares às editorias de mercado. Além de gastar sola de sapato também com muita carioquice.
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7 COMENTÁRIOS

  1. Por exemplo, a esculhambação no centro é tanta que tem 2 barracas pertinho da loja da Mr.Cat vendendo os produtos deles quase por metade do preço. Nem preciso falar de comida e outras quinquilharias… Agora me expliquem: como? Isso ninguém quer falar neh (muito menos os AGENTES DA LEI que estão por trás…).

  2. O problema de ocupação irregular deve ser resolvido com uso do meio legal e de forma impessoal. A lei prevê a não ocupação irregular, cumpra-se. O agente da lei tem que agir de acordo com ela,tem que ser feito. Ponto. Se existe há décadas desconfiança no modo de ação da fiscalização, esta deve dar a resposta com transparência. Quanto aos camelôs o que dizer de pessoas que chegam no espaço que você é proprietário ou permissionário e simplesmente colocam suas coisas ali sem te pedir ou conversar um modo de coexistência? Ou se mantém ordem ou vamos pro salve se quem puder.

  3. Comerciante nao paga imposto mas o cliente sim pois o preco da mercadoria esta embutido tudo de lucro a prejuizo .vamos para de dizer que os donos de lojas pagam impostos .

  4. Ué…o que houve no Centro do Rio? Agora querem ajuda da Guarda Municipal, que sempre foi acusada de ‘roubar’ mercadorias dos amados camelôs? O amor acabou? Que os bandidos tomem todo o Centro, pois é isso que os comerciantes e a população merecem , já que acobertam esses marginais durante décadas!

  5. Vejam só o absurdo, a que ponto chegamos…clandestinos ameaçando comerciantes. Se você é contra comerciantes, e se algum dia, tiver seu comércio legalizado, tudo direitinho dentro dos conformes, pagando impostos, etc., certamente vai sentir na pele o que é combater essa máfia que engoliu o Rio de Janeiro.

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