Incêndio atinge e destroí casarão histórico da Estação Ferroviária de Japeri

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Na madrugada deste domingo (19/07), o Casarão da Estação Ferroviária de Japeri, inaugurada em 1858, foi parcialmente destruído por um incêndio de causas ainda desconhecidas. O imóvel é acautelado pela Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário do IPHAN desde 2010. Uma decisão da 2ª Vara Cível da Comarca de Japeri condenou a Supervia e o Estado do Rio a restaurá-lo. A restauração teve um custo de R$ 2 milhões de reais e havia sido concluída em outubro de 2019.

A origem do prédio remonta a 1858. Embora não seja comprovado, especula-se que o inglês Edward Price tenha comandado as obras da estação, executadas com materiais vindos da Europa. Espinha dorsal de todo o sistema ferroviário, a Linha Japeri – então denominada Belém – foi o primeiro trecho da Antiga Estrada de Ferro Dom Pedro II. Conectava Belém à estação Dom Pedro II, atual Central do Brasil, e em 1875 o trecho se expandiu até o estado de Minas Gerais.

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O prédio histórico da Estação de Japeri, construído com a técnica de madeiras encaixadas preenchidas com tijolos (enxaimel).

A embrionária malha ferroviária brasileira destinava-se a escoar o café do Vale do Paraíba e outros produtos agrícolas voltados para o comércio exterior. Embora esse aspecto prático tenha inspirado a criação das linhas de trem, muitos outros efeitos decorrem do desenvolvimento da infraestrutura de transportes, como o a migração populacional e o crescimento de centros urbanos. É o caso da cidade de Japeri, que se originou no entorno da estação férrea e até hoje mantém uma relação intrínseca com o local.

Originalmente, o prédio destinava-se à bilheteria e ao deslocamento dos viajantes que embarcavam e desembarcavam dos trens. Após a inauguração de uma nova estação nas proximidades, para contemplar o fluxo intenso de passageiros, o prédio histórico perdeu parte da movimentação que costumava receber.

Desde 2010, a edificação integra o Patrimônio Ferroviário valorado pelo instituto. Três anos antes, em 2007, a Lei 11.483 atribuiu ao IPHAN a responsabilidade de receber, administrar e zelar pela manutenção dos bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural oriundos da extinta Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA).

A restauração incluiu limpeza, descupinização, pintura, recuperação do telhado, reconstrução dos sanitários, renovação dos forros e pisos internos. Entre as intervenções, uma etapa chama atenção de especialistas e entusiastas do Patrimônio Cultural: a recuperação do sistema enxaimel.

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Incêndio destruiu parte do Casarão, símbolo do município de Japeri

A fachada em técnica de enxaimel consiste na disposição de paredes estruturadas em hastes de madeiras encaixadas em si – em posições horizontais, verticais ou inclinadas -, cujos espaços são preenchidos por pedras ou tijolos, sendo este último o caso da estação. Aliada à mão francesa, elemento que apoia beirais do telhado, os desenhos geométricos do enxaimel compõem a decoração. Também cativam o olhar a cobertura com telha cerâmica e a inclinação do telhado, características que reforçam a aparência de chalé.

As instalações reformadas abrigam a sala de relé, na qual está localizado o equipamento de controle do Ramal Japeri-Central. Além disso, compartimentos administrativos e um auditório ocupam o prédio. Atualmente, a Supervia planejava a alteração do acesso dos passageiros, de modo a viabilizar a destinação cultural de alguns espaços, como uma sala de exposição.

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A título de curiosidade, ali próximo, há exatamente 60 anos atrás, no trecho da Linha Auxiliar que ligava a Estação Japeri à Estação Botais, de Miguel Pereira, trecho que hoje está abandonado, aconteceu o famoso “assalto ao trem pagador”, em 1960. De tão famoso, o assalto virou filme dirigido por Roberto Farias e com Grande Otelo no elenco, e se transformou em um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro.

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Em uma manhã de junho de 1960, uma quadrilha armada liderada por Tião Medonho, cuja família era de Governador Portela, atacou o trem pagador SAP-21. No momento da ação, o trem se aproximava da chamada “Curva da Morte”.

Em nota a Supervia informou que os quartéis de Paracambi e Nova Iguaçu do Corpo de Bombeiros foram acionado por volta das 3h e o fogo foi controlado por volta das 5h. Equipes dos bombeiros permaneceram no local durante toda manhã deste domingo no trabalho de rescaldo. A concessionária de trens urbanos lamentou os danos sofridos e disse que “vai apurar as causas do ocorrido com realização de perícia na estação para determinar o que deu o início do incêndio’.

A Prefeitura de Japeri, informou por nota que vai acionar a Supervia para entender as causas do incêndio que ocorreu no prédio histórico da Estação de Japeri. Lembrou que “A estação de Japeri é um dos símbolos da cidade e tombada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Lamentamos o ocorrido”.

O presidente da Alerj, deputado André Ceciliano (PT), que possuí base eleitoral no munícipio e concorreu ao cargo de prefeito nas eleições de 2016, pelas redes sociais disse: “Vamos batalhar para reeguer a estação de trem de Japeri. Uma cidade tem que preservar seu patrimônio, sua identidade. História não se apaga”.

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Cidadão Baixada. Filho, neto e bisneto de pernambucanos é caxiense, portelense, tricolor, professor de História e Jornalista. É pesquisador na área da pessoa com deficiência, voluntário do Lions Clube Xérem e no Pré-Vestibular Comunitário da Educafro.

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