Localizada no alto de uma colina da Avenida Dom Helder Câmara, entre os bairros do Cachambi e Del Castilho, a Fazenda Capão do Bispo, um casarão histórico datado do final do século XVIII, está prestes a ser revitalizada, em um projeto que promete resgatar uma das poucas lembranças dos arrabaldes rurais de um Rio colonial. Ícone do subúrbio e desconhecida por muitos, a fazenda receberá uma grande intervenção que será liderada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), após ser incluída no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), que contempla ações de preservação cultural no Brasil. O investimento anunciado para o projeto é de R$ 771 milhões, com a Fazenda Capão do Bispo entre os 14 bens culturais contemplados no estado (veja lista aqui).
O DIÁRIO DO RIO conversou com exclusividade com o Iphan. O casarão, atualmente em completo estado de abandono, sem nenhuma utilização cultural aberta ao público, será transformado em um Museu e Centro de Estudos Arqueológicos. A proposta do órgão visa não só a recuperação da estrutura, mas também a valorização do patrimônio histórico da cidade. O início das obras ainda não tem data definida, mas o instituto já planejou vistorias, laudos e anteprojetos para a execução da recuperação estrutural, com um orçamento de R$ 400 mil e prazo de entrega de 420 dias.
1ª muda de café no Brasil
A Fazenda Capão do Bispo tem uma importância histórica significativa. Foi nela que, no início do século XIX, se plantou a primeira muda de café no Brasil. O antigo engenho foi um dos principais produtores de café na antiga Freguesia de Inhaúma, o que a tornou uma das fazendas mais relevantes na região. A propriedade pertenceu ao Bispo José Joaquim Justiniano, o primeiro bispo nascido no Brasil, até sua morte em 1805. O local é tombado desde 1947 e, há quatro anos, o Ministério Público entrou com uma ação judicial pedindo a recuperação do imóvel.
Além de sua importância histórica, a construção é uma das poucas construções remanescentes do estilo arquitetônico das casas de engenho da região, e sua arquitetura é comparável apenas à da Fazenda do Colubandê, em São Gonçalo. O casarão foi erguido em um terreno elevado, conhecido como capão, o que deu origem ao nome. Com varanda e pátio central, ambos com colunas toscanas de alvenaria, o casarão reúne características típicas das edificações rurais setecentistas da Baía de Guanabara.
O IPHAN já havia alertado o Governo do Rio sobre a situação de abandono do bem cultural, e fiscalizações recentes confirmaram o péssimo estado de conservação do local.