Nesta quarta-feira (1011), o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural votou pelo tombamento definitivo do Edifício-sede da Cruz Vermelha Brasileira, situado no Centro do Rio de Janeiro (RJ) e de dois aviões modelo Catalina. A decisão foi tomada durante a 98ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Com uma aeronave situada na Base Aérea de Belém (PA) e outra no Museu Aeroespacial, no Rio de Janeiro (RJ), os hidroaviões integraram a defesa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Já o prédio reúne características arquitetônicas do início do século XX e remete à fundação da Cruz Vermelha no Brasil.
Em virtude do tombamento, todas as intervenções nos bens terão de ser autorizadas pelo Iphan, autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo.
Em julho deste ano, havia sido publicado o tombamento provisório da sede da Cruz Vermelha. A decisão de hoje reconhece a relevância do bem e o protege em caráter permanente.
O edifício da Cruz Vermelha no Centro do Rio
Diante da necessidade de cuidados humanitários nas guerras do século XIX, a Cruz Vermelha foi instituída no Brasil em 1908. Concebeu-se o prédio da organização a partir do projeto vencedor de concurso público, da autoria de Pedro Campofiorito. Em 1912, o governo federal concedeu o terreno da então esplanada do Senado à Sede da Sociedade da Cruz Vermelha Brasileira. Com obras iniciadas em 5 de outubro de 1919, o prédio foi inaugurado em 1923.
O tombamento reconhece o valor histórico de uma instituição que luta pela garantia de direitos humanos. No escopo internacional, buscou estabelecer condições mínimas de humanidade diante de conflitos armados. Já no Brasil, a instituição atuou em situações de desigualdade social, catástrofes naturais e acolhida a refugiados. Na cúpula do prédio está esculpida a cruz vermelha em fundo branco, que simboliza toda essa história.
A praça da Cruz Vermelha, onde se situa o prédio, relaciona-se às grandes reformas urbanísticas iniciadas pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, inspirado nas mudanças de Paris do século XIX. A construção da praça fez parte do projeto de modernização do centro da cidade, que criou o cruzamento das avenidas Mem de Sá e Henrique Valadares com a rua Carlos Sampaio.
“De longe, dá para ver a grandiosidade da edificação no centro do Rio de Janeiro. É um prédio que demarca um importante momento da então capital da República”, afirma a presidente do Iphan, Larissa Peixoto. “Com o tombamento, o Instituto vai atuar na preservação das características arquitetônicas e dos significados desse bem para a história e a cultura do Brasil”, finaliza.
As fachadas, a cobertura, as escadas e a volumetria do hall são características marcantes da edificação, concebida em estilo eclético, com estrutura de pedra e cal, além de tijolo maciço. O bem cultural em estilo eclético conserva características da época de sua construção, como esculturas, a sustentação do prédio e o vão das portas e janelas. Disposta em formato circular, a fachada principal acompanha o contorno da praça.
Aviões Catalina
Avião de reconhecimento, bombardeiro, caça anti-submarino, de transporte e socorro marítimo, o modelo Catalina tem sua história diretamente associada à 2ª Guerra Mundial. Criado em 1936, pela Consolidated Vutee Aircraft Co., foi o hidroavião mais produzido, totalizando 3.290 unidades fabricadas nos Estados Unidos, Canadá e União Soviética. Com o acirramento do conflito mundial, unidades do Catalina incorporadas à Real Força Aérea da Grã-Bretanha estiveram em combate na Europa Oriental.
A partir de 1943, as primeiras unidades do Catalina foram entregues à Força Aérea Brasileira como parte de acordos firmados entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos. Das sete primeiras unidades enviadas, uma ficou baseada em Florianópolis (SC), três no Rio de Janeiro (RJ) e três em Belém (PA). À época, o Catalina foi utilizado no patrulhamento da costa brasileira, então sob ataque alemão. Em 31 de julho de 1943, um dos Catalinas entrou em combate e afundou o submarino alemão U-199 nas proximidades da costa carioca.
Ao término do conflito, esses modelos passaram a ter usos diversos na aviação civil, em operações de busca e salvamento. Na região amazônica, teve papel destacado devido às características técnicas da aeronave, que se adequava às condições geográficas da bacia amazônica e à ausência de aeroportos. Popularmente conhecidos como Cat ou Pata Choca, o Catalina esteve em todos os mares, em tempos de guerra e paz.