Jackson: Briga boa e o povo gosta

Jackson Vasconcelos diz que para o povo campanhas eleitorais são grandes oportunidades de entretenimento e programas eleitorais na TV são espetáculos de humor

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Foto de Tara Winstead

Criou-se uma regra para a comunicação nas campanhas eleitorais, reforçada em 2014. A norma é esculhambar o adversário, difamá-lo e denunciá-lo para os abrir espaços ao autoelogio.

Ninguém escapa. Chega-se ao ponto de envolver pais e filhos, amigos próximos, assessores, ex-esposas, ex-maridos, vizinhos, enfim, todas as pessoas que privam de alguma relação com os candidatos. É comum ouvir-se dizer: “Ah!, eles são filhos de fulano, são pais de sicrano, nomearam beltrano…“. Um processo que eu chamo de transferência de imagem negativa para quem tem alguma positiva.

Isso funciona? Tem funcionado pelo fato de todos os candidatos adotarem o mesmo modelo, o voto ser obrigatório e as abstenções, os votos brancos e nulos não serem considerados. Como não existe um modelo com o qual se possa comparar e as eleições acontecem, difícil é, se não impossível, contestar o que se tem.

Quando as campanhas receberam o auxílio das redes para enfrentar a mídia tradicional, rapidinho surgiram os chamados “operadores do lado B”. Eles e elas, profissionais de comunicação na rede, ficaram com o dever de divulgar e produzir mensagens para ferir a imagem dos adversários. E quando nada de real conseguem, então, partem para algo que a comunicação denominou de “fake news”, uma adaptação de velha mentira à linguagem das redes.

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Para evitar que as ofensas pessoais cheguem muito longe, criou-se o “direito de resposta”, mas o instrumento terminou por ser, também, elemento de estratégia eleitoral. Os candidatos que pedem direito de resposta só querem mesmo o tempo sobressalente para enfrentar os adversários. A imprensa tem horror aos direitos de resposta e a Justiça mais horror ainda, porque isso acrescenta trabalho às agendas.

Ocorre que a política não está resumida às campanhas eleitorais. Depois dela, quem vencer terá que exercer os mandatos recebidos pelo povo e não conseguirá fazer isso se levar a ferro e fogo a história que contou sobre os adversários. O povo entende isso? Por acaso, compreende Alckmin com Lula? Maia com Freixo? Marina com Lula? Bolsonaro com Centrão, Eduardo Paes com Serra e depois com Dilma? Com Maia contra Cabral, depois com Cabral contra Maia e depois com Maia, de novo?

O povo acha engraçado, mas normal. Aprendeu, faz tempo, que as campanhas eleitorais são grandes oportunidades de entretenimento. Para os eleitores, os programas eleitorais na TV e os debates são espetáculos de humor.

Se o modelo funciona, faz sentido mudá-lo? Não! Se em algum momento o povo entender que isso não serve, os profissionais de campanha e candidatos darão um jeito para fazer outros modelos funcionarem. Ou seja, o modo como as campanhas acontecem está nas mãos do povo e não dos candidatos e dos profissionais que realizam a tarefa de ajudar alguém a chegar ao poder.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Formado em Ciências Econômicas na Universidade Católica de Brasília e Ciência Política na UNB, fez carreira com dezenas de cases de campanhas eleitorais majoritárias e proporcionais. É autor de, entre outros, “Que raios de eleição é essa”, Bíblia do marketing político.
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