Jackson: Garotinho apoia Cláudio. Qual é o problema?

O honesto não chama alguém de ladrão só por conveniência eleitoral. Agir assim é agir com a mais absoluta leviandade e os levianos não deveriam ter lugar na política

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São pesadas as críticas que se ouve ao apoio que Garotinho deu ao Cláudio Castro, assim como ao apoio que Alckmin deu ao Lula e ao acordo que Cesar Maia fez com Freixo. Caminha na mesma trilha, a composição que Jair Bolsonaro fez com o Centrão. Isso pelo fato de a sociedade brasileira ver as composições políticas como algo espúrio, coisa de gente sem caráter.

A razão está no comportamento dos políticos que se relacionam uns com os outros com ofensas pessoais e agressividade, pois xingar e ofender dispensa raciocínios mais elaborados para a construção do contraditório. É, com certeza, mais fácil chamar alguém de ladrão, de vagabundo e de mau-caráter do que gastar tempo e inteligência para contestar propostas ou opiniões. Só que, após a baixaria, quando surge a necessidade de composições para vencer eleição ou governar, o político faz o que tem que fazer e o povo fica enojado. No final da linha, a política perde.

Não seria já hora de os políticos mostrarem ao povo que eles podem sim discordar uns dos outros, que a essência da política é a convivência entre os contrários e que a democracia não existe sem a política? O jeito de fazer isso é ter trabalho para construir a contestação e apontar os equívocos que as propostas dos adversários contém e desconstruí-las com inteligência a estratégia adequada.

Sobre isso há uma lição importante numa das melhores séries de ficção produzidas pela Netflix, Borgen, sobre política e poder na Dinamarca, país onde há uma monarquia parlamentarista. Sirvo-me do discurso que fez a Primeira-Ministra Birgitte Nyborg, na convenção do partido dela, “Novos Democratas”. Birgitte, na série, representa o papel da primeira mulher dinamarquesa no comando do país. Em pauta na convenção, está a disputa pelo comando do partido, entre Birgitte Nyborg e Jon Berthelsen. O discurso é magnífico como peça de estratégia política.  Vamos a ele:

“Quero dizer a vocês uma coisa importante sobre o poder. Estamos lutando por poder aqui hoje. Pelo direito de decidir. Não podemos ser políticos sem aspirarmos ao poder.  Sem o poder, não daria para realizarmos nossas políticas importantes. Mas, o poder tem vida própria. Quando vê, você se afastou de tudo aquilo em que acreditava.
Jon, eu tentei derrubá-lo. Ameacei tirar seu poder. Mas, querem saber? Jon não pode ser derrubado. Sabem por quê? Porque as convicções dele sempre terão mais peso que o poder.
Na vida pessoal, cheguei ao ponto de dizer coisas horríveis ao meu filho na TV, para continuar no poder. Talvez eu tenha mudado. Mas, espero nunca perder a capacidade de admitir quando estou errada.
Mas, meus amigos, não deveríamos combater uns aos outros. Deveríamos lutar pelo que acreditamos. Eu acredito neste partido. Às vezes, a vida diz quando um novo capítulo vai começar. Para mim começa hoje. Como política e como ser humano.
Renuncio à liderança do partido e recomendo fortemente que Jon Berthelsen seja o novo líder do Novos Democratas!

Birgitte fez com arte e vida o que Getúlio fez na morte: virou o jogo.

Ora, a política é uma arte e, sendo assim, autoriza composições, acordos, renúncias a posições históricas em nome do resultado final, seja das eleições seja de governos melhores. É possível discordar momentaneamente ou adaptar o discurso para facilitar a vitória e composições políticas, que autorizem governos mais eficientes. E a discordância é salutar. Certamente, o povo entenderia os acordos políticos, se eles não fossem recheados com as agressões pessoais mútuas, que desqualificam a disputa política bem mais do que prejudicam os agredidos.

Haverá, certamente, quem me diga que há políticos que merecem mesmo que o povo saiba quem são e que advertir o eleitor é papel dos candidatos. É verdade e aí é que reside o problema: o eleitor ser advertido quanto ao caráter de um político, por um adversário dele que, logo adiante, precisará aplaudi-lo-lo. O honesto não chama alguém de ladrão só por conveniência eleitoral. Agir assim é agir com a mais absoluta leviandade e os levianos não deveriam ter lugar na política.

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Formado em Ciências Econômicas na Universidade Católica de Brasília e Ciência Política na UNB, fez carreira com dezenas de cases de campanhas eleitorais majoritárias e proporcionais. É autor de, entre outros, “Que raios de eleição é essa”, Bíblia do marketing político.

4 COMENTÁRIOS

  1. Nossa…que bosta em forma de opinião, Jackson.

    Mais ofensivo que ter Garotinho em palanques e apoio, é ter o Washington Reis como vice.

    Cláudio Castro que lute pra esconder o ocrim (Bolsonaro, seu vice, Garotinho e cia).

    Mas, enfaticamente respondendo sua pergunta: Garotinho apoia Cláudio Castro. Qual o problema?

    R: Nenhum! Haja vista a identificação e métodos de política dos dois.

  2. Pena que composições, acordos, renúncias e conquistas feitas com a arte da política sejam o fertilizante para a corrupção, o desprezo pela coisa pública e a busca pelo dinheiro fácil dos cofres do estado. O conceito é perfeito se houver ética, respeito a posição majoritária do grupo e sobretudo, respeito ao povo como ente majoritário da sociedade. Os nomes atuais, citados acima e postulantes a cargos públicos lhes representam? Nem a eles, já que até suas sombras fogem quando a luz cai em seus corpos.

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