Jackson: Primeiro exonere, depois pergunte

A proliferação de cargos de confiança, que servem como ferramenta para punir os desobedientes e prestigiar os bajuladores

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Foto de ANTONI SHKRABA production/Pexels

A imprensa noticiou a exoneração de 1,2 mil servidores em cargos de chefia no governo federal. A intenção é substituir os dele, daquele que sai, pelos dele, daquele que chega, embora o governo que chega prefira mentir para não admitir o propósito. Não precisaria mentir, pois o povo brasileiro já assimilou há bastante tempo os costumes dos governantes. Portanto, os governos estão dispensados de usar a hipocrisia como ferramenta de comunicação.

A decisão do governo é punir os que não votaram nele. No entanto, há vezes em que o feitiço vira contra o feiticeiro. Houve um caso assim na Prefeitura do Rio, quando Marcelo Crivella assumiu o posto de prefeito e exonerou todas as pessoas que estavam em cargos de confiança. Ele usou o argumento da obrigação de fazer economia, por ter substituído um prefeito perdulário, quando, na verdade, a decisão foi uma satisfação ao desejo de acomodar quem com ele chegava e mesmo assim fazer alguma economia.

Acontece que a avalanche levou a turma que fazia a folha de pagamento de todos os servidores, do gari ao prefeito. Foi um “Deus nos acuda”, A decisão foi mais grave do que tirar o cafezinho, o carro oficial e o elevador privativo do prefeito e dos secretários. Uma loucura! Ao receber o comando para exonerar indiscriminadamente, o sistema operacional ficou cego e não conseguiu ler as novas matrículas no tempo recorde que o fechamento da folha, no início de janeiro, exigiria.

Indio da Costa, experiente caminhante dos labirintos criados pela administração pública municipal, foi chamado às pressas, deu uma solução paliativa, que aliviou o sufoco do prefeito até que o sistema respondesse a uma nova rotina.

A proliferação de cargos de confiança, que servem como ferramenta para punir os desobedientes e prestigiar os bajuladores, criou na administração pública um emaranhado de confusões que sacrificam, na ponta, as pessoas que dependem do serviço público. É preciso reformar o modelo, mas sempre que se fala em reforma administrativa o objetivo não é o consumidor dos serviços públicos, mas, lamentavelmente, os próprios servidores.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Formado em Ciências Econômicas na Universidade Católica de Brasília e Ciência Política na UNB, fez carreira com dezenas de cases de campanhas eleitorais majoritárias e proporcionais. É autor de, entre outros, “Que raios de eleição é essa”, Bíblia do marketing político.

5 COMENTÁRIOS

  1. O articulista cita o caso do Crivella, como exemplo, se esquecendo que ele nunca foi administrador público (antes) e que a Prefeitura do Rio de Janeiro foi a primeiro mandato dele.

    Lula foi presidente por dois mandatos e vai para o terceiro. Antes, assumiu sucedendo o FHC. Sem contar ainda a experiência do PT que se seguiu com Dilma e na administração pública em todas as esferas.

  2. Cargos em comissão sao de livre nomeação e exoneração na Administração Pública.

    Cargos comissionados estes que destinam-se a pessoas de confiança… de quem assume a condução do ente, no caso, da Administração Pública Federal (e estadual ou municipal)

    Se que assume tem pessoas também com capacidade, que seja… então não será o fato daquele que está desde a administração anterior que, ainda embora demonstre capacidade, justifica a permanência no cargo…

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