Começa nesta quarta-feira, 09/10, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). A edição de 2024 do evento tem como principal homenageado João do Rio, o jornalista, escritor e grande cronista do Rio de Janeiro.
João do Rio (principal pseudônimo do jornalista e escritor Paulo Barreto) morreu no dia 23 de junho de 1921. A data de nascimento foi 5 de agosto de 1881, no Rio de Janeiro, cidade onde viveu com muita intensidade.
Considerado um dos pioneiros da crônica brasileira e também do jornalismo de rua, João do Rio escreveu para muitos veículos. Entre eles, O Paiz, O Dia, Correio Mercantil, O Tagarela, O Coió, Gazeta de Notícias.
Diversos também foram seus pseudônimos. O mais famoso deles foi assinado pela primeira vez em 1913, no o artigo “O Brasil Lê“, uma enquete sobre as preferências literárias do leitor carioca. Mais de um século depois, ele é homenageado em um dos maiores eventos literários do mundo.
Jornal do Brasil, 13 de agosto de 1981
Entre os textos mais famosos está a série de matérias “As Religiões no Rio“, que além de seu caráter de jornalismo investigativo para a época, se tornaram importantes análises de cunho antropológico e sociológico, servindo de referência para estudos até hoje em dia.
Cabe uma ressalva em relação ao olhar, muitas vezes preconceituoso e elitista, com as religiões de matrizes africanas. João do Rio não esteve totalmente imune a isso. Algumas questões envolvendo a forma como os relatos foram feitos são criticadas hoje em dia.
Nestes textos, João do Rio falou muito sobre as manifestações religiosas que aconteciam na Pequena África, região central da cidade.
Além do famoso livro, João do Rio deixou uma vasta obra. Destacam-se “A alma encantadora das ruas (1908)“, “Vida vertiginosa (1911)” e “Rosário da Ilusão (1919)“. Como teatrólogo, seu maior sucesso foi “A bela madame Vargas“, que estreou em 22 de outubro de 1912, no Municipal.
João também ficou famoso pelas matérias e reportagens nos morros e favelas cariocas, além de falar da vida nos grandes centros da cidade, retratando o cotidiano, as curiosidades e os problemas dos moradores do Rio de Janeiro.
“Talvez João do Rio tenha sido o primeiro jornalista a subir o morro, mesmo com todo o seu aparato de dândi, e trazer pormenores sobre a realidade do Morro da Providência“, escreveu o pesquisador e professor Gutemberg Medeiros
Em 1910, João do Rio foi nomeado imortal na Academia Brasileira de Letras. Ele foi o primeiro a tomar posse usando o hoje famoso “fardão dos imortais“.
João do Rio / Site da ABL
Homossexual, negro e obeso, ele enfrentou muitos preconceitos para ser reconhecido como brilhante profissional que foi.
Ficou muito famoso na fase final da sua vida. Contudo, apesar de sua grande popularidade, de acordo com seu biógrafo, João Carlos Rodrigues, João do Rio “teve muitos desafetos que o atacavam por sua afrodescendência e homossexualidade“.
Não é exagero falar em legião de fãs. Quando João morreu, após passar mal em um táxi, estima-se que cerca de 100 mil pessoas tenham ido ao cemitério dar adeus ao escritor. Ruas do Centro do Rio foram tomadas por pessoas, que caminharam até o São João Batista, em Botafogo, onde ele foi enterrado.
Foto do dia do enterro de João do Rio
João do Rio viveu como poucos a nossa cidade. A prova disso está em seus escritos, que já estão em domínio público para serem lidos por todos, como foi enquanto esteve vivo.
E os reconhecimentos, como esse da Flip, serão sempre necessários para exaltar a importância deste, acima de tudo, cronista carioca.
Paulo Barreto negro???!. Só faltava essa!…kkkkkkk