Kauan dos Santos Vieira estava lá sentado jogando videogame em um apartamento localizado em Vila Nova de Gaia, Portugal. 18 anos de idade e o sonho clássico de tantos brasileiros: ser jogador de futebol. Quem nunca quis ser um grande atleta? Ok. Muita gente, você pode responder. Contudo, é um sonho, digamos, tradicional, no país tupiniquim. Na minha infância cheguei a participar de muitas competições de natação, mas, convenhamos, vida de atleta não é coisa fácil. Acordava de manhã cedo para treinar no clube em Madureira. Já tinha olheiras fixas. Também fiz uns poucos testes para o futebol. Não era tão bom assim, só me sobressaía mal e porcamente no baixo nível praticado por meus amigos mais próximos.
A pandemia atrasa, machuca, destrói com tantos planos e esperanças, mas tem sonho que se mantém. Em meio ao luto, há luta. Em Portugal, jovens brasileiros querendo um espaço, mas está tudo paralisado. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, já pensam em retornar com os jogos de futebol. Complicado e polêmico.
Entretanto, se você não teve o sonho de viver do esporte, conhece alguém que teve; talvez já tenha vibrado com seu time, com um ídolo. Ali do meu lado, o jovem Kauan largou o jogo eletrônico e conversamos um pouco. Quem assumiu o videogame agora foi Rafael Lange, de 22 anos. Duas vidas diferentes e um mesmo sonho. Kauan ainda está confiante, mas demonstra certa frustração. Já estava como titular no time que jogava em Portugal, quatro jogos, e veio a pandemia. Era trinco, ou seja, volante. Não vai dar para ficar pela Europa e ele volta para o Brasil. Vai continuar a batalha em Curitiba. Sonho vivo no Brasil.
Por outro lado, Rafael Lange, pela idade avançada, teve sua última chance nessa viagem. Aos 45 do segundo tempo, acabou chamando atenção de um time do Açores, um território autônomo de Portugal, arquipélago no meio do Oceano Atlântico. Gol. Rafael Lange se encontrou na posição de centroavante – ponta de lança na terrinha. Sonho vivo na Europa.
Engraçado foi que até na hora de tirar foto eles não perderam a pose. Fiz umas brincadeiras ainda buscando umas imagens mais espontâneas. O riso dos jovens homens fluiu ainda com aroma de adolescência. O aprendizado de morar fora é único e difícil. Estar longe dos amigos e familiares pesa. A vida traz desafios e surpresas que não entendemos, mas, de alguma forma, direcionam. Nas partidas do jogo da vida, todo golzinho deve ser comemorado. E, às vezes, a derrota de hoje pode ser a vitória de amanhã. Segue o jogo.