Jorge Jaber – Reflexões para o Ano Novo: equilíbrio em tempos de desafios

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Réveillon em Rio das Ostras - Foto: Divulgação/Prefeitura de Rio das Ostras

Grandes planos, expectativas renovadas, resoluções e promessas. O fim de ano costuma trazer a esperança de tempos melhores, mas ela pode e deve ser acompanhada de uma reflexão sobre nossos hábitos, comportamentos e atitudes. É uma oportunidade de observar nossos erros e acertos, corrigir rotas e dar o devido valor às pessoas e aos fatos que realmente importam, não ao que nos faz mal. A partir dessa autoanálise e com maior compreensão e empatia em relação ao próximo, nos fortaleceremos para o novo ciclo, que certamente apresentará grandes desafios a nossa saúde física e mental.

Um deles é a profunda polarização de nossa sociedade, que ultrapassa as posições políticas ou ideológicas. Mais que divididos, parecemos incapazes de encontrar pontos de conexão entre os dois lados do ringue, o que possibilitaria o urgente e necessário debate sobre o que nos interessa enquanto nação, ou seja, em benefício geral. Essa batalha permanente e insana em relação aos temas mais simples impede o diálogo e dificulta as relações pessoais, e não raro chega à violência verbal ou física. Um cenário com enorme impacto sobre nosso equilíbrio emocional, e para o qual precisamos nos preparar.

A questão ambiental, principalmente depois de tragédias naturais como as enchentes no Rio Grande do Sul, também será motivo de preocupação, até entre os mais ferrenhos negacionistas da emergência climática. Diante das impactantes imagens de devastação – inclusive em países desenvolvidos –, dos prejuízos e, claro, das vidas perdidas, impossível não olhar para um céu cheio de nuvens carregadas sem uma ponta de apreensão. Essa consciência crescente de estar sempre sob risco – inclusive, ainda que a médio prazo, de extinção – certamente provocará consideráveis danos psicológicos.

Temos, claro, muitas outras dificuldades pela frente. Apesar de avanços aqui e ali, a economia inspira cuidados, a segurança pública segue longe da ideal e a oferta de serviços públicos básicos como educação e atendimento médico ainda não atinge o grosso da população. Nesse panorama, a saúde mental pode parecer um assunto irrelevante, uma discussão quase quixotesca, mas distúrbios como depressão e ansiedade – para ficar nos mais comuns por aqui – não são apenas efeito, mas também causa de uma série de problemas que, no final das contas, recaem sobre a sociedade como um todo.

Grande parte do custo do tratamento desses transtornos, por exemplo, pesa sobre o Sistema Único de Saúde. Consultas, medicamentos, internações e terapias, tudo pago com recursos públicos, ou seja, nosso. O mesmo vale para aposentadorias precoces e afastamentos por invalidez, muito comuns em portadores dessas enfermidades. A própria produtividade da economia é afetada pelas faltas e pela redução no desempenho profissional dos enfermos. Mais importante que os gastos, porém, é o sofrimento dos pacientes e de suas famílias, tanto pelos distúrbios em si quanto pelo estigma que os cerca.

O quadro, portanto, merece atenção, e não somente das autoridades, e nesse sentido a passagem de ano pode ser o momento de virar a chave. Inspirados pelo simbolismo da data, pela alegria dos encontros e pelo próprio desejo de evoluir, podemos começar um processo de mudança pessoal, com uma alimentação mais saudável, moderação no uso de substâncias químicas e atividade física regular. Além, claro, do cuidado e paciência com aqueles que amamos, mesmo com eventuais discordâncias. Com corpo e mente em forma, ajudaremos a construir um país mais tranquilo e saudável. Um feliz 2025 a todos!

*Jorge Jaber é psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), membro da Academia Nacional de Medicina

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