Juliana Benicio: Quem ama educação não toma partido ‘político’

' E agora? Como resgatar esse déficit enorme que nos encontramos?', questiona a colunista do DIÁRIO DO RIO

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Foto: Marcelo de Jesus

Publiquei, em minhas redes sociais, nessa semana, o alarmante dado de que o número de estudantes de 6 e 7 anos que não sabem ler aumentou 66,3% de 2019 a 2021 (PNAD Contínua, 2021). Ou seja, se antes tínhamos 100 alunos de 6 e 7 anos sem ler, em dois anos passamos a ter 166. Um dado preocupante, pois, sinaliza que o futuro para os educadores não será fácil.

Para minha surpresa os comentários no post foram tomadas de argumentos culpando o “fique em casa”, a gestão da educação dos prefeitos durante a pandemia ou, ainda, inacreditavelmente, o STF. As pessoas pouco se importavam em pensar nas crianças e cobrar um plano para reverter o cenário. Se preocupavam em tomar um lado e defendê-lo cegamente.

A educação não tem lado. Todos os níveis dos entes federativos foram negligentes e são culpados pelo resultado. Mas, é preciso ressaltar que, por mais que os estados e municípios tenham maior responsabilidade sobre a operação, sempre o órgão formulador e orientador terá maior ônus sobre a apatia. Por isso o MEC é o grande responsável pelo cenário que nos encontramos.

O MEC deveria ter orientado os secretários de educação a coordenado equipes remotas. Deveria ter disseminado práticas bem-sucedidas para o ensino remoto. Deveria ter investido pesado em conectividade nas escolas. Deveria ter criado um plano de trabalho mínimo para ser colocado em prática em todas as escolas do Brasil.

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Nada foi feito. O que acompanhamos foi a preocupação com o fomento de uma guerra ideológica incessante, troca de ministros e, por último, envolvimento da pasta com esquema de corrupção com pastores da Igreja Assembleia de Deus.

Não dá para passar pano.

Mas é preciso olhar para frente. E agora? Como resgatar esse déficit enorme que nos encontramos?

Na instância municipal é necessário desaparelhar as escolas e reduzir as indicações políticas no setor. Acabar com cargos de favor, colocar gente apaixonada por educação para trabalhar e focar – com muito afinco – na alfabetização.

Na instância estadual, onde o aparelhamento também é crônico, é preciso fazer funcionar o novo ensino médio. Se bem aplicado, a reestruturação do segmento pode trazer esperança para diminuir a evasão e manter o aluno mais tempo na escola.

Na instância federal, é urgente a formulação de planos de ação e suporte às regiões mais afetadas pela “desaprendizagem”. O IDEB é um instrumento importante para identificar as regiões que estão agonizando, mas nesse contexto, outros indicadores de monitoramento devem ser instituídos como, por exemplo, taxa média de absenteísmo dos professores por escola e horas de aula efetivamente realizadas por turma. Também é urgente que se invista em conectividade e em plataformas virtuais de ensino que servirão de suporte para reposição de conteúdo.

E ao cidadão, o que cabe? Votar em 2022 em políticos que realmente tenham uma preocupação com a educação. Ao escolher seu deputado estadual, federal, senador, governador e presidente da república, pense o quanto ele efetivamente trabalhou para educação e verdadeiramente se importa com a pauta.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Mãe de 4 filhos: Neto, Hugo, Ana Júlia e Augusto. Política niteroiense, escritora do livro "Política e a Vida Real". Doutora em Engenharia de Produção, Mestre em Economia, Coordenadora de Propriedade Intelectual e Transferencia de Tecnologia do IFRJ e Avaliadora de Ensino Superior no INEP/MEC
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1 COMENTÁRIO

  1. “foram tomadas de argumentos culpando o “fique em casa”, a gestão da educação dos prefeitos durante a pandemia ou, ainda, inacreditavelmente, o STF”
    “O MEC deveria ter orientado os secretários de educação a coordenado equipes remotas”
    Criticar quem são realmente os culpados, desde que não sejam de esquerda, NÃO PODE mas para culpar quem ficou com as mãos atadas pode, né ?
    É muita cretinice !

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