Kazuhiro: Lula terá dois grandes desafios: organizar sua coalizão e unir o país

Para Bruno Kazuhiro, a renovação com qualidade e bom senso, aponta para pleitos futuros mais propositivos e menos personalistas.

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Foto: Ricardo Stuckert/PT

O Brasil viveu um processo eleitoral extremamente polarizado, onde dois líderes carismáticos de profunda penetração social se enfrentaram a partir de visões de mundo e modelos de país completamente distintos. Em meio a uma grande judicialização do pleito, existia entre partidários e militantes um clima de “vale tudo”, desde que fosse para beneficiar o candidato preferido ou prejudicar a candidatura adversária. A comparação com o futebol é inevitável: bom é o juiz que marca um pênalti inexistente a favor de seu time e péssimo é o árbitro que aponta uma penalidade escancarada a favor do oponente. Esse foi em muitos momentos o espírito de uma sociedade dividida pela eleição, onde cada lado acreditava possuir uma “verdade superior”.

Famílias brigando, amigos rompendo longas amizades e até lamentáveis crimes contra a vida cometidos. Isso sem contar a agressividade nas redes sociais, visto que o antipetismo enxergava Bolsonaro como única opção e o antibolsonarismo via Lula como alternativa única. Haviam argumentos positivos e negativos para ambos os lados: Lula, ex-sindicalista, foi presidente entre janeiro de 2003 e dezembro de 2010 e ficou conhecido pela conexão com os mais pobres atendidos por seus programas sociais. Mas esteve preso por corrupção e só registrou candidatura pois sua condenação foi cancelada por uma questão de jurisdição e não de mérito. Já Bolsonaro, ex-militar, angariou grande apoio dos mais conservadores, porém, se envolveu em diversas polêmicas, fez gestão controversa na pandemia e demonstrou falta de empatia.

De um lado, Bolsonaro teve o apoio de conservadores, do agronegócio, de muitos empresários e, especialmente, da parcela evangélica da população brasileira que cresce cada vez mais. Do outro, Lula teve suporte dos progressistas, dos identitários e daqueles que ainda nutrem gratidão por ele por conta dos programas sociais. Se Bolsonaro era chamado de elitista e genocida, Lula era chamado de corrupto e mentiroso. Se o atual presidente era acusado de autoritarismo e preconceito, o ex-presidente era chamado de destruidor da família tradicional.

Comparado aos números das pesquisas realizadas antes e durante o primeiro turno das eleições, Bolsonaro teve resultado muito melhor que o esperado na primeira etapa e impediu uma vitória de Lula no primeiro turno, valendo citar que o petista somava votos de esquerda, votos de centro, votos pessoais e votos antibolsonaristas. Bolsonaro levou a disputa ao segundo turno mostrando que os votos conservadores, antipetistas e antipolítica eram ainda maiores do que se imaginava.

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Uma vitória de Lula por 48% a 43% no primeiro turno construía a possibilidade de reação de Bolsonaro. Contudo, os dias de campanha do segundo turno trouxeram mais acertos do que erros de Lula e mais erros do que acertos de Bolsonaro. O ex-presidente agregou o apoio de Simone Tebet, terceira colocada na primeira etapa, que conseguiu angariar votos de centro e de descontentes com a polarização. Além disso, políticos, intelectuais, economistas e celebridades de centro e de centro-direita declaravam apoio a Lula para derrotarem Bolsonaro. Enquanto isso, o atual presidente via seus partidários cometerem equívocos como atirar contra a polícia, apontar uma arma para um militante adversário e anunciar que, na hipótese de vitória de Bolsonaro, o salário-mínimo não seria reajustado.

Esses fatos construíram a vitória apertada de Lula no segundo turno. Ele conseguiu montar uma frente ampla, enquanto Bolsonaro falou para os convertidos, embora tenha mostrado que estes são muitíssimos e quase tenha ganho. Talvez os erros do segundo turno tenham custado caro. Agora cabem a Lula dois grandes desafios: organizar sua ampla coalizão para construir não apenas uma campanha, mas sim um governo diverso e plural, e unir um país que saiu das urnas completamente dividido ao meio, seja na política, na sociedade, na religião ou, inclusive, nos percentuais do resultado, que exibiu 50,9% x 49,1% na noite decisiva.

E fica a boa notícia de que as eleições para governos estaduais apontaram duas tendências importantes para o futuro do país: a sobrevivência do centro político, com vitórias do PSDB em estados muito relevantes, e a renovação com qualidade e bom senso dos quadros de esquerda, centro e direita, apontando para pleitos futuros mais propositivos e menos personalistas. A conferir.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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4 COMENTÁRIOS

  1. Unir o Brasil será difícil. Ficou nítido pela votação que quem paga a pizza não pode escolher o sabor dela. Isso traz um sintoma de injustiça.

    A revolução americana nasceu do “no taxation without representation”. O que temos aqui é subrepresentação e enorme taxação líquida. SP, RJ e MG têm menos deputados que o peso de sua população e ainda pagam muito mais do que recebem. Isso tudo traz ressentimento e um sintoma de injustiça.

    A saída pra isso é federalismo: transferência do poder da união pros estados viverem daquilo que produzem e não de transferências do fundo de participação.

    Sobre a coalizão do Loola, este só irá conseguir comprando deputados ou distribuindo cargos a granel, porque no voto, na convicção… tá difícil pra ele. O projeto de governo Loola tem consequência de empobrecimento do país.

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