De olho na praticidade de se morar na região central da cidade, moradores da Zona Norte carioca têm buscado cada vez mais opções de moradia no Centro do Rio. O cenário de migração tem sido impulsionado pelo plano de revitalização urbana e o incentivo à construção de novos empreendimentos na área, tanto que as empresas do setor imobiliário tem intensificado os trabalhos mirando essa demanda.
A construtora Cury, por exemplo, tem dois projetos na região do Porto Maravilha, o Rio Wonder e o Rio Energy, com 1.224 e 793 unidades, respectivamente, que variam de R$ 200 mil a R$ 580 mil, ambos foram lançados no segundo semestre do ano passado.
Sucesso de vendas, os primeiros empreendimentos do Porto têm ajudado a companhia a traçar o perfil de quem tem interesse em morar no Centro. O vice-presidente da Cury, Leonardo Mesquita, confirma que os projetos têm atraído especialmente o público da Zona Norte.
“Os compradores têm renda média mensal de R$ 12 mil e idades entre 30 e 45 anos, são solteiros ou casais jovens que já se deslocam diariamente para o Centro e querem morar mais perto do trabalho e do lazer. Muitos deles são da Zona Norte e buscam os benefícios que a região oferece”, explica Leonardo.
Além disso, a construtora anunciou a compra de um terreno na Avenida Presidente Vargas, onde será erguido um residencial com 360 unidades.
Na visão do executivo, dois fatores são decisivos para esse público: fartas opções de transporte público (os empreendimentos da Cury no Porto, por exemplo, têm uma estação do VLT praticamente na porta) e ambiente mais seguro em comparação a alguns bairros da Zona Norte. Sem contar os museus, centros culturais e espaços amplos para atividades variadas ao ar livre, a exemplo da Praça Mauá.
Para abranger outras fatias de possíveis clientes que possuem renda familiar menor, e que preferem ficar na Zona Norte por não conseguir comprar um imóvel mais caro no Centro, a Cury está erguendo um empreendimento em Ramos e lançará mais dois na região: em Bonsucesso, com 500 unidades (R$ 190 mil a R$ 250 mil) e no Cachambi, com 499 unidades (R$ 300 mil a R$ 400 mil), todos na Zona Norte da cidade.
Diretor da W3, Flávio Wrobel também tem observado essa migração de pessoas para o Centro, principalmente de bairros como Méier, Irajá e Jacarepaguá. A construtora foi a primeira a lançar um empreendimento dentro do programa Reviver Centro, o Cores do Rio. Das 120 unidades do residencial, entre estúdios e apartamentos de um e dois quartos, 90 já foram vendidas ao valor de R$ 260 mil a R$ 480 mil. A construtora comprou um novo terreno próximo à Rua Riachuelo, na Lapa, onde pretende lançar mais um empreendimento.
“Menor tempo de deslocamento e segurança são fatores críticos que levam a essa migração. Nossas unidades privilegiam o morador, ou seja, as pessoas que adquirem um imóvel porque desejam morar no Centro e usufruir dos benefícios que já fazem parte do cotidiano na região“, Wrobel.
Cláudio André de Castro, diretor da Sergio Castro Imóveis, menciona um levantamento feito no ano passado pelo Instituto Rio 21, especializado em pesquisas sobre a cidade, com o objetivo de saber se os cariocas considerariam a opção de morar no Centro. Do total de 714 participantes, 37% disseram que morariam na região, 15% gostariam de se mudar se fosse para um lugar que atendesse a suas necessidades; e 35,1% afirmaram que não desejam se mudar para o Centro.
“Nos últimos meses, contabilizamos mais de 250 demandas não atendidas de clientes em busca de imóveis de dois quartos reformados em bairros da região central“, afirma Cláudio.
Oferta ainda é menor que a demanda
A procura por imóveis no Centro, de fato, tem aumentado, mas mesmo com tantos lançamentos, a oferta não tem acompanhado a demanda. O diretor da Sergio Castro Imóveis, Cláudio André de Castro, confirma que mais pessoas da Zona Norte tem procurado pelo Centro, sobretudo nos últimos meses, mas destaca que a região ainda não oferece muitos apartamentos em bom estado.
“É perceptível a demanda vinda de pessoas que moram na Zona Norte e em Jacarepaguá também. No entanto, muitas se frustram por não conseguir um imóvel adequado às suas necessidades. Há muitos imóveis antigos que precisam de reforma, mas são pequenos e não comportam uma família. E os novos empreendimentos por ora estão em fase de construção. Ainda vai demorar um pouco até observarmos um fluxo maior de pessoas chegando para morar na região”.
Cláudio também diz que boa parte dos que veem vantagens em morar no Centro têm entre 30 e 50 anos, são funcionários públicos ou trabalham em comércio e na economia criativa. A procura maior, no entanto, é por apartamentos em perfeito estado, que são escassos na região.
“Quando o imóvel está em bom estado, vende fácil, com preço médio de R$ 6,5 mil a R$ 7 mil o metro quadrado. Não importa se o prédio é velho, o que importa é o apartamento estar reformado”, garante.